SL Benfica 2-3 Real Madrid CF: Vai uma, vai duas, vai três… Vendida ao senhor de branco

    A CRÓNICA: A MALDIÇÃO É MAIS FORTE QUE O PROVÉRBIO

    À terceira não foi de vez. Acabou de novo sem glória a presença na final da UEFA Youth League do Sport Lisboa e Benfica, com os encarnados a serem derrotados pelo Real Madrid CF por 3-2. Num jogo equilibrado, mas com duas partes distintas – a primeira dominada pelos merengues, a segunda pelas águias -, os espanhóis levaram a melhor e conquistaram a prova pela primeira vez na sua… primeira vez.

    Num duelo em que se decidia qual dos países ibéricos seria o primeiro país a ter dois clubes vencedores da Youth League, a Espanha superou Portugal e tem agora FC Barcelona e Real Madrid CF com a prova nos respetivos palmarés – curiosamente, os dois clubes espanhóis que também já foram campeões europeus em seniores. O gigante espanhol sucede, assim, ao FC Porto. Vamos às incidências da partida.

    Após 25 minutos de equilíbrio tático, sem oportunidades clamorosas para qualquer dos lados, eis que a equipa espanhola chegou, de forma algo inesperada, ao golo. Cabeceamento certeiro de Pablo Rodríguez – que se lesionou e saiu dois minutos mais tarde – em correspondência ao cruzamento de pé canhoto de Arribas.

    Momento de desconcentração e de coordenação da defensiva encarnada, que não se soube recompor em condições e com rapidez após a dobra de Morato a João Ferreira, pelo corredor esquerdo. O central brasileiro compensou a ausência do lateral português e cortou para fora. Na sequência, ambos os jogadores ficaram a conversar sobre o sucedido, deixando os merengues em superioridade na área. Tomás Araújo tentou ainda a marcação ao dianteiro blanco, mas já chegou tarde.

    O golo alcançado deu aos madrilenos a confiança que necessitavam para se sentirem confortáveis na “sua pele”. Apesar de os pergaminhos do clube indicarem que o Real Madrid CF é sempre uma equipa dominadora, ofensiva e monopolizadora da posse de bola, os pupilos de Raúl González demonstraram várias vezes que não têm quaisquer problemas em jogar com um bloco baixo e na expetativa, tentando depois ferir o adversário em ataques rápidos e contra-ataques.

    Para que uma estratégia expectante resulte, é vital que a equipa que a coloca em prática tenha a maturidade tática e competitiva necessária para não tremer no momento defensivo e ser letal nas saídas ofensivas. E, acima de todas as outras características, o Real Madrid CF provou durante a final e durante toda a prova ser uma equipa anormalmente madura para o escalão.

    Assim, por mais paciência que o SL Benfica demonstrasse, por mais variações de flancos que executasse, por mais passes que realizasse entre corredores e setores, não conseguia ferir a turma espanhola, que, por sua vez, se revelava mortífera. Na primeira grande oportunidade após o golo inaugural, alcançaram o 2-0, mesmo em cima do intervalo.

    Após uma má entrega de bola das águias, que terminou nos pés de Santos, Arribas foi lançado em velocidade pelo flanco direito pelo colega de corredor, recebeu a bola, esperou e cruzou rasteiro, encontrando na área… Henrique Jocu. A tentativa de interceção em deslize do médio defensivo encarnado resultou num deslize, passe a redundância, estando Kokubo imediata e inevitavelmente batido.

    Foi com uma confortável vantagem de dois golos que o Real Madrid CF foi para os balneários, vantagem essa que abria perspetivas de uma segunda parte dominada pelo SL Benfica, com a “permissão” dos blancos, que tentariam mimetizar o feito na primeira parte, procurando alargar a vantagem através de ataques fulminantes.

    No entanto, a estratégia do Real Madrid CF sofreu o primeiro revés logo no terceiro minuto da segunda metade da partida. O que não havia resultado no primeiro tempo pela parte do SL Benfica resultou a abrir a segunda parte. Embaló cruzou rasteiro para a área pela direita, de forma atrasada, encontrando Gonçalo Ramos numa zona onde também estava Henrique Araújo.

    O primeiro remate de Ramos não deu golo, a recarga de Araújo também não, mas a insistência compensou e Ramos fez mesmo o golo. Adivinhava-se o equilibrar da partida pelas águias. Contudo, o Real Madrid CF encarregou-se de rapidamente provar que não há adivinhos por algum motivo.

    Nem um minuto depois, Marvin Park escapou com categoria a Tiago Araújo que tentava fechar o lado esquerdo que ao intervalo passou a ser seu e cruzou rasteiro, uma moda neste jogo. Ninguém mostrou interesse na bola que por ali passava e também ninguém mostrou interesse em Gutiérrez. O lateral esquerdo blanco decidiu juntar-se à também desprezada bola e juntos fizeram o 3-1.

    Exigia-se integridade psicológica, individual e coletiva, ao SL Benfica. Exigia-se o 3-2 a uma equipa que merecia, pelo menos, sonhar. Não foi imediata a resposta, mas não foi tardia igualmente. Dez minutos após o golo encaixado, um canto fechado batido pelo pé esquerdo de Tiago Araújo levou a bola a pingar no ponto central da área merengue e Gonçalo Ramos foi lá acima encontrar-se com ela.

    Escusado será dizer, mas que se diga, que Ramos fez o que aparentemente está talhado para fazer: bisou na partida. Voltavam a acreditar os encarnados e voltava a emoção à sétima final da UEFA Youth League. E o que gera maior emoção numa partida de futebol? A antecipação de um golo. E um dos momentos que maior antecipação cria é o de uma grande penalidade.

    Aos 68 minutos, foi uma assinalada a favor do SL Benfica. Tiago Dantas perante Luis López levou a pior, tendo o guardião espanhol feito uma excelente defesa. Em bom plano o guarda-redes espanhol, em mau plano o homólogo japonês ao serviço do SL Benfica.

    Aos 75 minutos, Kokubo respondeu fisicamente a uma discussão com Arribas e viu o cartão amarelo, que podia ter sido de outra cor. O árbitro de escola inglesa, Chris Kavanagh, que havia deixado por assinalar uma grande penalidade a favor das águias minutos antes, não entendeu dessa forma.

    Até final, o SL Benfica gladiou pelo empate, mas a maturidade e “chico-espertice” madrilena e a exibição de Luis López foram suficientes para contrapor as inglórias tentativas encarnadas.

    A FIGURA

    O 22 do Real Madrid voltou a ser decisivo 

    Sergio Arribas – O médio/ala espanhol foi com o seu guardião as peças mais importantes da vitória merengue. Luis López defendeu uma grande penalidade e o resultado, é certo; no entanto, o futebol vive de estratégia, de rigor tático, de eficiência de processos e de golos e, claro, assistências. Arribas deu (quase) tudo isto ao Real Madrid CF, contribuindo para a vitória final com duas assistências (uma das quais para o autogolo de Jocu). Não inscreveu o seu nome no registo de golos, mas inscreveu-o na história da competição e nesta página deste rescaldo (que é tanto ou mais importante).

    O FORA DE JOGO

    Fonte: SL Benfica B

    João Ferreira – O lateral do SL Benfica, primeiro esquerdo, depois direito, comprometeu no primeiro e terceiro golos do Real Madrid CF e não foi capaz de dar à equipa o que esta precisava de si no momento ofensivo. No primeiro golo sofrido, reparte o cartório de culpas com Morato e não só, mas o central brasileiro e os restantes colegas não estiveram tão mal como Ferreira esteve, no cômputo geral.

     

    ANÁLISE TÁTICA – SL BENFICA 

    A turma de Luís Castro alinhou num 4-3-3 já habitual, com Jocu, Dantas e Ramos no miolo, fazendo o último muitas vezes companhia a Henrique Araújo, que alinhava no centro do tridente ofensivo, ladeado por Embaló e Tiago Araújo. Durante o primeiro tempo, tanto em igualdade, como em desvantagem, as águias procuraram fugir ao preenchimento blanco do corredor central com variações de flanco.

    Aí chegada a bola, a ideia passava por endereçá-la à área merengue, onde se esperava que Henrique Araújo e Gonçalo Ramos pudessem vencer os duelos com os centrais espanhóis. Nunca aconteceu. Na segunda metade, sobretudo após o 3-1, Ramos e Araújo começaram a ser mais um casal de ataque e não dois amigos que por vezes se encontravam.

    Tiago Araújo desceu a lateral esquerdo. Brito, Camará, Dantas e Embaló (mais tarde, Martim Neto) formavam o meio-campo encarnado. A circulação de bola melhorou, a intensidade ofensiva e na pressão também e a chegada à área com perigo igualmente, conforme se constatou no primeiro golo encarnado, com Ramos e Araújo a usufruírem de mais oportunidades.

    11 INICIAL E PONTUAÇÕES

    Kokubo (4)

    Filipe Cruz (5)

    Tomás Araújo (7)

    Morato (6)

    João Ferreira (4)

    Henrique Jocu (5)

    Gonçalo Ramos (8)

    Tiago Dantas (7)

    Úmaro Embaló (6)

    Tiago Araújo (7)

    Henrique Araújo (7)

    SUBS UTILIZADOS

    Rafael Brito (7)

    Ronaldo Camará (7)

    Luís Lopes (7)

    Martim Neto (6)

     

    ANÁLISE TÁTICA – REAL MADRID CF

    A equipa orientada por Raúl apresentou-se num 4-4-2 com uma frente ofensiva bastante móvel, envolvendo movimentos circulares de Park e recuos de Rodríguez e, após a saída deste, de Jordi. No momento defensivo, os merengues posicionavam-se num 5-3-2 que permitia uma pressão bem efetuada sobre os três construtores encarnados mais recuados (os dois centrais e o médio-defensivo) e um controlo completo do meio-campo das águias, que com a descida de Jocu para a construção ficava em inferioridade numérica ou em igualdade numérica quando Ramos (forçosamente) se aproxiamava do papel de médio e abandonava o papel de acompanhante de Henrique Araújo.

    A linha de cinco controlava, então, com facilidade, os movimentos verticais dos extremos do SL Benfica e os três homens do eixo colocavam Henrique Araújo no bolso. Foi assim que os blancos tornaram todo o jogo adversário inócuo durante o primeiro tempo. Na segunda parte, as águias foram mais fortes e o Real Madrid CF respondeu defendendo ainda mais aguerridamente, congelando o jogo sem bola e quebrando o ímpeto encarnado com inteligência, maturidade e, não raras vezes, com anti-jogo.

    As saídas rápidas por Park e Arribas foram praticamente o único recurso utilizado pelos madrilenos para chegar à área adversária, tendo mesmo a turma de Raúl alcançado o terceiro e decisivo golo dessa forma.

    11 INICIAL E PONTUAÇÕES

    Luis López (9)

    Santos (8)

    Ramon (7)

    Chust (7)

    Gutiérrez (8)

    Blanco (7)

    Park (7)

    Carlos Dotor (7)

    Arribas (9)

    Morante (7)

    Rodríguez (6)

    SUBS UTILIZADOS

    Jordi (7)

    Sintes (5)

    Carrillo (5)

    Aranda (5)

    Peter (5)

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    Márcio Francisco Paiva
    Márcio Francisco Paivahttp://www.bolanarede.pt
    O desporto bem praticado fascina-o, o jornalismo bem feito extasia-o. É apaixonado (ou doente, se quiserem, é quase igual – um apaixonado apenas comete mais loucuras) pelo SL Benfica e por tudo o que envolve o clube: modalidades, futebol de formação, futebol sénior. Por ser fascinado por desporto bem praticado, segue com especial atenção a NBA, a Premier League, os majors de Snooker, os Grand Slams de ténis, o campeonato espanhol de futsal e diversas competições europeias e mundiais de futebol e futsal. Quando está aborrecido, vê qualquer desporto. Quando está mesmo, mesmo aborrecido, pratica desporto. Sozinho. E perde.