A justiça de um jogo de sentido praticamente único chegou tarde, mas chegou. E pelas mãos do herói mais improvável: Artur defendeu três grandes penalidades e entregou a Supertaça a quem fez por a merecer. Após a desastrosa pré-época encarnada, quem ousasse esperar uma exibição de qualidade no jogo de hoje seria chamado de louco. Mas aconteceu mesmo. Com Artur a merecer novamente a confiança de Jesus para a baliza, Eliseu e Talisca foram os únicos dos muitos reforços a integrar o onze. A aposta no brasileiro acabou por ditar a transfiguração do 4-4-2 habitual para uma espécie de 4-2-3-1, com Lima apoiado por Talisca e pelos endiabrados Gaitán e Salvio. Enzo retomou o lugar que é seu e a música no centro do terreno foi logo outra, apesar de ainda ter estado longe daquilo que tão bem sabe e pode fazer. Esperemos que no Benfica, é claro. No entanto, foi a partir do eixo central da defesa que o Benfica pôde construir a boa exibição nos 120 minutos, já que Luisão e Jardel assumiram (finalmente!) os lugares e permitiram as boas exibições de Maxi e Eliseu.
Não seria mentira dizer que ao intervalo a partida podia estar mais do que resolvida. E por números esclarecedores. O Benfica entrou decidido a resolvê-la cedo e encostou o Rio Ave às cordas nos primeiros 25 minutos. Com o motor de Enzo ligado e Salvio e Gaitán a esburacarem a defensiva vila-condense, só faltava mesmo o golo para confirmar a supremacia encarnada. O rol de oportunidades foi longuíssimo, ora por Talisca, ora por Lima, ora por Salvio… Este desperdício veio demonstrar a urgente necessidade de reforço da frente atacante. Pede-se um… Cardozo.
O nulo ao intervalo acabava por ser castigador para o Benfica, frente a um Rio Ave que apenas teve nas invenções de Artur o seu oásis de chances de golo. A segunda parte trouxe uma menor cadência ofensiva por parte da equipa de Jorge Jesus, mas nem por isso foi deixando de coleccionar oportunidades de golo. O domínio do jogo era claro mas o golo tardava em chegar e as pernas começavam a pesar, algo natural em fase tão madrugadora da temporada. O Rio Ave acabou por levar a água o seu moinho e o nulo manteve-se até final dos 90 minutos. No prolongamento, o Benfica entrou novamente a carregar mas o golo não aparecia por nada. Com Gaitán e Salvio esgotados, a produção ofensiva encarnada acabou por cair a pique e só Artur, em nova invenção, quis tentar evitar as grandes penalidades num dos últimos lances do encontro. Redimiu-se na lotaria e defendeu três pontapés (Tarantini, Diego Lopes e Tiago Pinto) e entregou a taça ao campeão nacional. Esperemos que não sirva esta amostra de bom futebol para esconder as evidentes necessidades de reforço do plantel. E muito menos para acreditar em Artur para defender a baliza de uma equipa que quer lutar por títulos.
A Figura
Salvio – Impressionante o lote de recursos do argentino nos duelos individuais. Apesar de algumas falhas no capítulo da decisão, parece querer retomar o tempo perdido na época passada.
O Fora-de-Jogo
Rio Ave – Mesmo com um tempo de recuperação francamente menor, esperava-se um pouco mais de Rio Ave hoje frente a um Benfica fragilizado pelos resultados recentes.