As identidades demoram a formar-se. É um processo normal da vida e, por isso, de uma equipa de futebol. No início, é normal que exista mais inseguranças e que a personalidade seja menos vincada. Assim foi com o Benfica da Supertaça 2015/16, em pleno processo de crescimento e transição.
Uma equipa completamente diferente da última que os adeptos tinham visto pela última vez em jogos “a doer”. Desde logo na linha defensiva, ocupada por três nomes que não eram habituais titulares na época passada e que, portanto, não “tocaram” no mesmo tom. Algo expectável, ainda para mais tendo em conta que o diapasão habitual (Luisão) não estava apto para afinar uma orquestra onde abundava o desacerto que a inexperiência traz à tona. Cenário fielmente ilustrado na permeabilidade do conjunto e na figura de um miúdo sem grande experiência nestas andanças (Nelson Semedo), e que colocou um adversário em jogo numa altura em que a ordem era para subir a linha defensiva, dando origem a um golo… mal anulado.
As coisas, até aí, (23 minutos) foram algo caóticas para o lado encarnado, nomeadamente lá atrás, mas a pouco e pouco, foi-se ganhando lampejos de segurança e estabilidade e a equipa conseguiu manter uma coesão defensiva razoável até ao final da primeira parte. Isso espalhou-se ao resto do onze, e Jonas teve o golo na cabeça por duas ocasiões, porém, o processo ofensivo, pela falta de assimilação de processos em 3×1, com Jonas sozinho na frente, embora fosse, na prática, um vagabundo, deambulando pelas alas e recuasse, amiúde, para vir buscar jogo… um esforço incompreendido pelos seus colegas e sem correspondência no talento (?) dos seus companheiros de sector, sobretudo Talisca, apagadíssimo e frequentemente desposicionado, quer na primeira fase de pressão, quer na zona de construção no meio-campo contrário.
A segunda parte começou como a primeira- com um Benfica em processo de desenvolvimento, bastante permeável na zona defensiva e sem capacidade para sair, com sucesso, do seu meio-campo. O desacerto e o desentrusamento eram evidentes, e o adversário ia crescendo…. até que marcou, num lance fortuito, e em que não se pode apontar o dedo à defesa.
O Benfica tentou responder, mas ainda precisa de ganhar roinas e assimilar processos. Pizzi entrou para o lugar de Talisca e conseguiu fazer melhor que o companheiro, introduzindo assertividade e dinâmica ao processo de criação ofensiva, mas isso, sem um último passe letal ou um disparo perigoso de fora da àrea, é inútil.
Rui Vitória ainda colocou Mitroglou (substituiu Samaris, colocando a equipa em 4x4x2) e Gonçalo Guedes (saiu Ola John) em campo. Ganharam-se mais bolas aéreas, e houve maior frescura nos flancos, mas faltava o essencial – a criatividade, a imaginação… o último passe.
O que fica deste jogo é que este Benfica está a crescer, a formar uma identidade, uma ideia de jogo, mas isso tem sido feito muito lentamente (uma pré-época cheia de viagens e num fuso horário diferente não ajudou, mas o marketing no futebol assume importância cada vez maior e um clube não se pode desviar dessa realidade).
Nestes primeiros “jogos” de vida, a águia de Rui Vitória já é uma criança, mas vai relevando atraso no desenvolvimento.
A Figura do jogo
Júlio César – Sempre que foi chamado a intervir, não vacilou, exibindo-se a um nível altíssimo, tactica, posicional e tecnicamente. E não foi pouco, o trabalho que teve. Revelou-se a peça mais consistente do xadrez encarnado, e evitou que o resultado se avolumasse. No golo sofrido, nada podia fazer.
O Fora-de-jogo
Talisca – Não seria a mesma coisa tê-lo ou não em campo, mas só mesmo pelo facto de o Benfica ficar em inferioridade numérica. O brasileiro esteve apagadíssimo. A dinâmica ofensiva do Benfica não foi nula durante o tempo em que ele esteve em campo, mas sê-lo-ia não fossem os rasgos de Gaitán e o sacrifício e a qualidade de Jonas.
Foto de capa: Página de Facebook do Benfica