Eles comem tudo e não deixam nada

    Poderíamos usar parte da famosa música de Zeca Afonso para descrever, de forma bem sucinta, o que tem sido esta época do futebol português. Quem come tudo afinal? Quem são os mordomos do universo? Os senhores que são, (por vezes) à força, mandadores (sem lei), que enchem as tulhas, bebem vinho novo e que dançam a ronda no pinhal do rei? Eis que eles aí estão: FC Porto, SL Benfica, SC Braga e Sporting CP.

    Pois é: pode estar (ligeiramente) exagerado, mas o que é certo é que este ano é tudo deles e os restantes ficarão… com as migalhas. Este ano de 2019 realmente promete. Se no ano passado entre Agosto e Dezembro tivemos três enormes paragens de bola, parece que agora vai ser sempre a dar-lhe. E para preencher ainda mais o banquete futebolístico, este mês e no início do próximo, teremos vários jogos daqueles que param o país: é o Benfica-Porto, depois o Sporting-Braga e logo depois uma final entre dois deles. E logo a seguir saí mais um Sporting-Benfica, mais um Braga-Porto e ainda outro Benfica-Sporting. Ufa! Tudo isto em menos de três semanas. Haverá coração que aguente?

    Os senhores da Liga, da FPF e em especial o nosso querido Pedro Proença têm-se fartado de esfregar as mãos, e não é para combater o frio, ou não fosse o nosso futebol uma verdadeira fogueira, sempre pronta a receber mais uma lenha, que realmente isto tem andado cá um briol… Este ano foi como sempre desejaram: os quatro principais clubes na dianteira de tudo o que é prova nacional e toca a dizer que tudo está bem e recomendável, com grandes assistências e interesse público. Perfeito!

    Este ano não teremos um ‘não grande’ a vencer uma das nossas taças
    Fonte: Bola na Rede

    E os outros? O que pensarão de tudo isto? De uma Taça da Liga preparada para este cenário? De diferenças abismais de orçamentos entre os quatro clubes da frente e os restantes? Pois bem: pensarão que andam aqui a contar tostões e a tentar bater o pé, mas que no fim ganham quase sempre os mesmos. Ainda assim acredito que o trabalho dos restantes clubes, a sua entrega e dedicação a projectos meritórios, aos históricos do panorama nacional ou aos clubes mais recentes, far-lhes-á sentir que vale a pena seguir em frente e remar para que a maré possa quiçá, um destes dias, criar um novo Boavistão, um outro Moreirense FC, um novo CD Aves, ou até um Caldas SC.

    Estará o nosso futebol condenado a ter três clubes (mais um) a dominarem por completo tudo o que o envolve? Irá o fosso entre ‘os quatro’ e os demais tornar-se, ano após ano, ainda maior? Sinceramente, e infelizmente, acho que sim.

    Repare-se, por exemplo, no que aconteceu nas últimas semanas. O Benfica, vindo de ‘crise vitoriana’, foi a Guimarães e venceu por duas vezes o 5.º classificado do nosso Campeonato. O Sporting, que dizem jogar pouco, apurou-se fora de portas para as meias-finais de ambas as Taças e ali anda na corrida pelo título. O Braga, mesmo alterando a equipa, venceu fora o ainda detentor da Taça de Portugal e voltou a mexer e muito na equipa para ir dar três à Madeira. O Porto passeou em Chaves, tendo antes, e mesmo com uma 2.ª equipa, vencido em Matosinhos com menor facilidade apenas por culpa de uma super exibição do guarda redes contrário e da falta de eficácia.

    Caminhamos pois para um futebol cada vez mais dividido em dois: de um lado os quatro do costume e do outro os restantes que vivem (ou sobrevivem) no nosso futebol, e que, volta e meia, lá aproveitam quando os tubarões estão adormecidos. Mas eles dormem cada vez menos…

     

    Foto de Capa: Liga Portugal

    artigo revisto por: Ana Ferreira

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    Tiago Ferreira
    Tiago Ferreirahttp://www.bolanarede.pt
    O Tiago é um apaixonado pela vida, pelas pessoas e também por tudo o que rodeia o desporto em geral e o futebol em particular. Assim, tenta expressar as suas emoções e vivências da melhor forma que julga conseguir fazê-lo: por palavras escritas.                                                                                                                                                 O Tiago não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.