«Não recebemos nenhum ordenado até agora» – Entrevista BnR com Nuno Pinto

    – Vencer um linfoma –

    Bola na Rede: O que é que foi mais difícil quando te diagnosticaram o linfoma?

    Nuno Pinto: O mais difícil foi contar à minha mulher e aos meus pais. Porque quando as pessoas estão doentes, quando estamos com uma constipação, nós estamos a passar por isso e sabemos aquilo que sentimos. Bem ou mal, damos força a nós próprios e vamos aguentando. Agora, quando é a mesma coisa com os nossos filhos, quando vemos os nossos filhos doentes ficamos muito preocupados. Aqui é a mesma coisa. Sabia que, contando às pessoas que eu amo e que me amam a mim, elas iam ficar muito preocupadas.

    Bola na Rede: O que é que te dá esperança nos momentos mais difíceis?

    Nuno Pinto: É os filhos, sem dúvida. Havia vezes que eu acordava de noite e ia ao quarto deles e ficava a olhar para eles e prometia a mim mesmo que ia recuperar para vê-los crescer. Isso dava-me força porque tinha que ser. A lei da vida não era as coisas correram mal aos 32 anos.

    Bola na Rede: Os teus filhos aperceberam-se do que se passava?

    Nuno Pinto: Só no fim. Os dois mais velhos sabiam que eu estava doente mas não sabiam o que era. Só no fim é que eu lhes contei o que é que era. Mas o meu filho, o do meio, tem 7 anos e não sabe o que é isso. A minha filha já percebia mais ou menos. Ela depois via entrevistas na televisão e quando dava esses entrevistas eu cortava e só via mais tarde com a minha mulher. Mas ela só no fim é que descobriu o que é que eu tinha. Ela sabia que eu estava doente, porque não ia treinar. Mas nunca soube o que é que foi, só no fim.

    Bola na Rede: Sei que és católico. A fé deu-te respostas para os “porquês?” desta situação?

    Nuno Pinto: Não deu mas eu também não as procurei. Porque na mesma hora que eu perguntava “Porquê a mim?”, na mesma hora eu perguntava “Porque não?”. Agarrei-me a Deus, claro que sim, porque sou católico. Agarrei-me à minha fé mas nem procurei esse tipo de respostas, não vale a pena. Eu tenho por hábito rezar todos os dias e não foi por ter esse tipo de doença que rezava mais ou menos. Pedia a Deus e agradecia a Deus.

    Bola na Rede: Algum vai seguir as pisadas do pai no futebol?

    Nuno Pinto: Olha, o do meio tem jeito. Já treina desde os quatro anos, só quer é jogar futebol. Agora está no Sporting, já jogou no Vitória.

    Bola na Rede: Era pior o sofrimento físico ou o estar afastado do futebol?

    Nuno Pinto: Sem dúvida o estar afastado do futebol. O sofrimento físico dava-me ali dois dias… E nunca foi nada de especial. Não é por experiência própria mas eu via e falava com pessoas que tinham passado por uma situação idêntica à minha e não aguentavam. Ficavam em casa, não conseguiam comer… Estavam num estado muito crítico. Felizmente eu nunca estive assim, os primeiros dois dias a seguir ao tratamento eram os piores dias que eu tinha e nunca foi nada de especial. Sempre me alimentei bem, tanto que ao terceiro ou quarto dia eu ia treinar ao Vitória. Treinava com eles, treinava com bola, corria.

    Bola na Rede: Lembras-te do dia em que soubeste que a batalha estava ganha?

    Nuno Pinto: Sei que foi passado quatro tratamentos. Eu tive que fazer 12, era o protocolo, e tive que os cumprir até ao fim. Ao quarto tratamento eu já estava sem nada, já não tinha indícios do linfoma mas tinha que cumprir o protocolo até ao final.

    Bola na Rede: Como é que comemoraste?

    Nuno Pinto: Fiquei feliz. Comemorar não comemorei, só comemorei no final dos tratamentos. Mas fiquei muito feliz e até comentei com as pessoas que são mais próximas que a minha mentalidade de ir fazer os tratamentos já era outra. Eu não ia fazer os tratamentos para me curar, ia para me “manter”, porque o linfoma já tinha desaparecido. Já estava curado.

    Bola na Rede: O que é que esta luta te ensinou?

    Nuno Pinto: Ensinou-me que não vale a pena haver guerra, não vale a pena chatearmo-nos. Tentar resolver, tentar falar com as pessoas, sempre com respeito. A vida são dois dias e um já passou.

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