O mapa da Primeira e Segunda Liga: A desertificação do interior

    Existe um número cada vez menor de equipas do Interior do país a competir em escalões profissionais. O CD Tondela e a Académica OAF desceram das respetivas divisões e ajudam a confirmar esta ideia, que já se vem sentindo como uma realidade há largos anos. O SC Covilhã, por exemplo, precisou de ir ao play-off para se “aguentar” na Segunda Liga, onde já participa há 20 temporadas consecutivas.

    Olhando para o mapa dos clubes da Primeira e Segunda Liga, é evidente que a maior parte delas ficam concentradas principalmente na zona Norte e ainda na área metropolitana de Lisboa, com algumas, mas poucas exceções, como são os casos do recém-chegado GD Chaves, do Portimonense SC, CS Marítimo e CD Santa Clara.

    Existe um enorme fosso quando se olha para a distribuição geográfica dos clubes da Primeira Liga. Mas a que se deve esta diferença? É certo que Lisboa e Porto são as duas principais aglutinadoras de riqueza e desenvolvimento, mas olhando para o mapa, percebemos que existe um claro exagero.

    Praticamente não há equipas do Alentejo e Interior a disputar campeonatos profissionais e caminhamos precisamente no sentido de nunca mais voltar a haver. Mas tal não significa que não haja futebol por estas bandas. Há e é futebol no seu estado mais puro, pois vive-se de forma apaixonada e desmedida. É também cada vez maior a diferenciação entre “Inatel” e a profissionalização dos campeonatos que obedecem aos critérios da Federação Portuguesa de Futebol, que vão minando a cada dia o futebol no Interior.

    AD Pontassolense (Madeira), ARC Oleiros (Castelo Branco), CR Ferreira Aves (Viseu), GD Águias do Moradal (Castelo Branco) e GR Vigor Mocidade (Coimbra) estão impedidos de participar no Campeonato de Portugal por não reunirem as condições de licenciamento para disputar competições da Federação Portuguesa de Futebol.

    A primeira premissa será de que as equipas que desportivamente venceram os seus campeonatos, ou que conseguiram alcançar a manutenção, sejam promovidos ou permaneçam nos respetivos campeonatos. Mas, desde logo, essa premissa não é cumprida, uma vez que temos exemplos de clubes que foram desportivamente mais competentes, mas que vão ver a participação no Campeonato de Portugal negada.

    As regras de licenciamento não podem nem devem ser iguais para clubes do interior e clubes do Litoral, porque as características demográficas das cidades não são iguais. No Interior, não existem miúdos suficientes para jogar futebol e formar uma equipa e isso não poderá nunca ser culpa dos clubes, que se vão esforçando para dar as melhores condições possíveis aos seus atletas de poderem desfrutar de jogar ao fim-de-semana.

    Para onde caminhamos? Para a cada vez maior centralização do futebol? Claro. Mas mais grave, caminhamos para a completa morte do futebol em zonas do Interior, mas isso também não parece incomodar ninguém.

    Torna-se praticamente impossível, ou uma tarefa árdua, cumprir as regras da FPF, que apesar de trazerem profissionalização e organização estrutural a vários clubes, vieram minar por completo as perspetivas de poder haver futebol profissional noutras áreas que não aquelas onde isso já acontece.

    Muito mais haveria a dizer sobre o assunto, mas prefiro deixar apenas a nota de que é necessário e urgente que se repense o futebol em Portugal. A intransigência e falta de bom-senso da FPF pode acabar por matar o futebol semi-profissional em zona mais despovoadas do país, mas nunca o vai conseguir suprir da vida das pessoas que o vivem de forma tão apaixonada e fervorosa.

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    Gabriel Henriques Reis
    Gabriel Henriques Reishttp://www.bolanarede.pt
    Criado no Interior e a estudar Ciências da Comunicação, em Lisboa, no ISCSP. Desde cedo que o futebol foi a sua maior paixão, desde as distritais à elite do desporto-rei. Depois de uma tentativa inglória de ter sucesso com os pés, dentro das quatro linhas, ambiciona agora seguir a vertente de jornalista desportivo.