O peso de um regresso urgente às competições nacionais

Hoje falamos sobre um eventual regresso. FC Paços de Ferreira x Vitória SC, Leixões SC x SC Farense, Clube Condeixa ACD x CD Fátima e Sporting CP x SL Benfica: o que têm em comum estes jogos? Antes da interrupção forçada causada pela pandemia covid-19, estas foram as partidas que nos deram o último vislumbre de Primeira e Segunda Ligas, Campeonato de Portugal e Campeonato Nacional Feminino, respetivamente.

Quase dois meses volvidos e a competição continua parada. Com a luz ao fundo do túnel anunciada pelo Presidente da República e com os clubes a firmar datas para o regresso ao trabalho, importa perceber o que está em causa e de que forma é que isso pode ser feito.

Em primeiro lugar, há que perceber que para além do espetáculo “da bola” e do fanatismo, estão jogadores, treinadores e funcionários, todos com famílias, e cujos rendimentos estão ameaçados. Os jogadores a ganhar milhões em Portugal são poucos e convém estender o olhar até ao Campeonato de Portugal, onde os treinos semanais e o jogo ao fim de semana traz o essencial pão para a boca daqueles clubes e respetivas estruturas.

Quanto às vozes que se levantam relativamente ao quão bem se vive sem futebol, também me merecem algumas palavras. Pegando numa expressão tão querida a Sérgio Conceição e uma ideia repetida por Bruno Lage desde a sua chegada ao SL Benfica, as pessoas preferem “falar do futebol do que de futebol”.

A tática, o aspeto psicológico, as escolhas arrojadas ou as decisões falhadas são sempre relegadas para segundo plano – ou plano nenhum – e sobrepostas pelas quezílias entre clubes, guerras de comunicação e perguntinhas que não lembram a ninguém. Desconfio que se valessem pontos, os programas de comentário desportivo teriam mais audiência que o próprio jogo.

O futebol, aquele da relva, do nervoso miudinho pré-jogo, da cerveja no sofá e da euforia ou desilusão após o apito final, esse é essencial a uma sociedade tão dependente do sucesso do seu clube. Visto como um escape para o seu quotidiano, salários ou situações profissionais negativas, o futebol é onde todos se nivelam pelo mesmo gosto, clubes diferentes.

Perante tudo isto, não concebo que se não ache urgente fazer regressar o futebol. No entanto, o regresso não deve ser à força toda nem a troca de qualquer coisa. É de suprema importância garantir a segurança de todos os envolvidos numa partida de futebol, a começar pelos adeptos.

Pelo bem do futebol e dos clubes, o adepto tem de perceber que o seu lugar, até ao fim da época, é em casa. Este primeiro ponto tem de ficar bem esclarecido, ou os pontos seguintes não interessarão para nada. Os ajuntamentos estão proibidos e assim deve ser cumprido. O futebol é do e para o adepto, é certo, mas de forma a ter estádios cheios amanhã, é imperativo que hoje estejam às moscas.

Outra das soluções apontadas seria restringir o fim da competição a uma zona geográfica do país. Os clubes entrariam num estágio prolongado num determinado hotel ou centro de treinos e por lá ficaria até ao fim da prova. Os jogos seriam disputados em dois ou três estádios e evitavam-se as deslocações de ponta a ponta do país. No caso do Campeonato de Portugal, onde as séries já estão divididas geograficamente, esta medida seria redundante.

À semelhança do que se estuda em Espanha, também os grandes clubes podiam abdicar de jogar nos seus estádios e utilizar os centros de treinos para a realização das partidas. Ao não ser permitida a entrada de adeptos neste regresso, a lotação dos estádios deixava de ser importante, a logística seria menor, implicaria menos custos com iluminações, acessos e policiamento.

Na linha dos rumores e “meias-confirmações” que circulam, as conferências de imprensa pré e pós-jogo, bem como as flash, seriam através de vídeo conferência, sendo apenas admitidos no recinto os jornalistas e profissionais destacados exclusivamente para a transmissão da partida.

Um dos maiores problemas, e para o qual não vejo solução agradável, é a interrupção das receitas das bilheteiras para clubes com menor tesouraria, como seria o caso da quase totalidade dos participantes do Campeonato de Portugal.

Ainda que esta prova tenha sido cancelada e os mecanismos de subidas e descidas desativados, há ainda salários para pagar, famílias que desesperam por algo para pôr sobre a mesa. As notícias de solidariedade de presidentes e colegas que albergam e ajudam outros surgem diariamente, mas não é só pela solidariedade que se resolve este problema colossal.

Há uma reforma urgente deste escalão que tem que ser feita. As receitas não são desculpa para tudo. A pandemia covid-19 veio só destapar e agravar os problemas que eram, a muito custo, disfarçados. Os jogos já davam prejuízo quando tudo corria normalmente, mas isso despontaria um novo artigo.

Até lá, desesperamos pelo nosso campeonato, mas com a consciência que o nosso papel, longe da bancada, é, neste momento, um dos mais importantes para que aconteça o regresso e a bola volte a rolar, saudável.

Diogo Pires Gonçalves
Diogo Pires Gonçalveshttp://www.bolanarede.pt
O Diogo ama futebol. Desde criança que se interessa por este mundo e ouve as clássicas reclamações de mãe: «Até parece que o futebol te alimenta!». Já chegou atrasado a todo o lado mas nunca a um treino. O seu interesse prolonga-se até ao ténis mas é o FC Porto que prende toda a sua atenção. Adepto incondicional, crítico quando necessário mas sempre lado a lado.                                                                                                                                                 O Diogo escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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