O Regresso do AVS SAD e do CF Os Belenenses e a Justiça do Futebol

    As Sociedades Anónimas Desportivas, SAD, dos clubes de futebol são uma obrigatoriedade para que um clube possa participar nas ligas profissionais em Portugal. Infelizmente, também são estas sociedades que deixam, em ruínas, clubes históricos que conquistaram, em campo, o direito à imortalidade nas páginas da história do futebol português.

    O AVS SAD e o CF Os Belenenses são dois dos maiores exemplos do poder destrutivo que, a gestão danosa de uma SAD, pode ter. Os primeiros acabaram nas últimas divisões das distritais da Associação de Futebol do Porto e, os segundos, sofreram o mesmo destino, mas na Associação de Futebol de Lisboa.

    O regresso do Clube Desportivo das Aves é mais polémico, com a criação do Aves Futebol SAD através de uma “migração” da SAD do UD Vilafranquense, a equipa da Vila das Aves voltou ao futebol profissional, enquanto o Vilafranquense teve o mesmo destino fatídico e é relegado para as últimas divisões distritais por questões administrativas e não por futebol jogado.

    Mais encorajador e, talvez, poético, digno de uma epopeia, é a subida do CF Os Belenenses aos escalões profissionais, foram cinco subidas em cinco anos, coincidindo, a subida à Segunda Liga Portuguesa, com a descida da B SAD à Liga 3. Nem um filme de Hollywood conseguiria um enredo mais interessante, nem um final mais justo e épico.

    Ambas as equipas se enfrentaram para a primeira jornada da Segunda Liga, num jogo com partes distintas, mostrando que o futebol é tão justo como injusto. O AVS SAD surgia moralizado depois do brilharete na Taça da Liga, já Os Belenenses apresentaram sete reforços no onze inicial. Apostadas num 4x3x3 clássico, o AVS assumiu desde cedo as despesas do jogo, com um futebol de posse, pressionante, a querer mandar no jogo, a cobertura atacante deixou um pouco a desejar, sendo a principal porta de entrada para a resposta da equipa de Belém, em contra-ataque.

    Jogando na expectativa, Os Belenenses ainda conseguiram enviar uma bola à trave, depois de uma brilhante defesa de Trigueira, no entanto, foram para o intervalo a perder, por um golo que surgiu numa jogada de insistência de Vasco Lopes, o jogador diferenciador da partida até então, rematando contra um jogador adversário, a bola acaba por sobrar para Luís Silva, no segundo poste, que abre o marcador para a equipa da Vila das Aves.

    A segunda parte surgiu como uma antítese da primeira, com o CF Os Belenenses a surgir mais subido na pressão, com uma forma mais clara de chegar à baliza do AVS SAD e com Sambú como o motor do ataque e o mais inconformado do conjunto lisboeta, no entanto, as tentativas azuis saíram frustradas, graças a um enorme Trigueira que realizou uma exibição digna da distinção de melhor jogador, que acabaria por receber no final do jogo.

    No final, a vitória sorriu à equipa do AVS SAD num resultado merecido pela eficácia e espírito de sacrifício dos comandados por Jorge Costa, no entanto, o mais justo poderia ter sido mesmo o empate, mas, dentro das quatro linhas, a justiça não entra. Felizmente atuou fora dela e os adeptos de Belém e da Vila das Aves puderam ver, novamente, os seus clubes a atuar num dos grandes palcos do futebol português.

    Bola na Rede na Conferência de Imprensa

    BnR: Mister, na primeira parte, as vezes que o Belenenses conseguiu aproveitar para sair em contra-ataque, deveu-se sobretudo a algumas falhas na cobertura atacante da sua equipa ou foram mesmo as falhas individuais que você falou?

    Jorge Costa: Não me lembro de o Belenenses ter saído muitas vezes no contra-ataque. Foi a oportunidade que acaba por ter com a bola na barra, não me lembro de muito mais. Nós vamos ter este problema, vamos querer ser, obrigatoriamente, de uma forma ou outra, vamos ser uma equipa que vai dominar os jogos, que vai pressionar alto, portanto vamos correr alguns riscos, vamos cometer erros, vamos estar mais expostos, mas vamos ter que trabalhar muito para esconder, um pouco, esta nossa forma, arriscada ou audaz de jogar.

    BnR: Reparei que você teve de fazer muitas adaptações no final do jogo, fruto dos problemas físicos dos seus jogadores, isso é algum sinal que falta profundidade no plantel?

    Jorge Costa: Esta semana eles correram um pouco mais porque ainda estamos numa fase inicial da temporada e, esta semana, foi uma semana em que, se calhar, eu também puxei mais pelos jogadores. Estou feliz com os jogadores que tenho, o plantel não está fechado, espero que possa, não estamos no Natal, mas que possam trazer uma prenda, mas jamais eu aqui iria, até porque se eu não tiver contente, é fácil. Jamais vão-me ver aqui a falar mal ou a mandar indiretas, sou muito direto.

    BnR: Esses problemas físicos e as substituições que foi obrigado a fazer afetou muito a resposta que você pode dar, às alterações táticas que o Belenenses imprimiu na segunda parte?

    Jorge Costa: Quais foram as alterações táticas? Pergunta interessante… eu gostaria de ter porque perdi o Vasco (Lopes) muito cedo, o Ricardo (Dias) estava cansado, o Edson Farias não é um jogador de profundidade, o Sangaré pode ser, mas tem de melhorar e tem que mudar a sua forma de jogar. Normalmente quando estamos, e não tivemos capacidade no meio-campo de perceber isso, porque os da frente não meteram profundidade e este jogo era muito fácil para resolver, se tivéssemos tido essa capacidade de jogar um pouco mais na transição ofensiva direta, de sermos mais verticais e obrigar a equipa do Belenenses de esticar o campo, o Belenenses sentiu-se sempre muito confortável a jogar em meio-campo e nós não tivemos a capacidade de esticar o jogo.

    BnR: Apesar de possuírem uma linha atacante com menos poderia físico e estatura que a linha defensiva do AVS SAD, o Belenenses insistiu em bolas aéreas como tentativa de penetração, faltou criatividade à equipa para conseguir outras formas de progressão ofensiva?

    Bruno Dias: Mas conseguimos sair da primeira pressão, achando esse espaço nas costas, muitas vezes em ligação. Só que depois, o que aconteceu foi que, ao contrário do que tinham feito até aqui, a equipa adversária acabou por optar pelo central a acompanhar o ponta-de-lança e perceberam que nós tínhamos posto o PL a ser o nosso quarto jogador do meio e, claramente, a criar vantagem a sair na pressão de uma maneira, creio eu, com relativa facilidade que a bola estava a entrar com a atração dos médios que nós fizemos. E bem, eles corrigiram, e davam-nos espaço nas costas e então, tínhamos de aproveitar esse espaço, não a dividir, porque não tínhamos vantagem nos duelos, mas sim no passe, na velocidade, deveríamos ganhar, mas também há mérito dos defensores adversários porque são jogadores rápidos, jogadores capazes que, no duelo, claramente são fortes.

    BnR: Falando desse espaço, a colocação do Sambú, na segunda parte, mais no meio, foi para tentar aproveitar esse mesmo espaço?

    Bruno Dias: Acho que já estávamos a aproveitar, foi para mudar as características dos jogadores do corredor lateral, para termos mais capacidade para atacar a profundidade, para termos um jogador por dentro que conseguisse conduzir mais a bola e atacar a última linha, porque, muitas vezes, como estávamos a jogar, essa bola direta atraindo o adversário e dando segundas bolas para esse jogador e ele era muito forte a conduzir sobre a última linha e recordo que antes, esse espaço já estava a ser explorado porque, exatamente antes dessa mudança, o Danny está na cara do golo, com um movimento contrário ao do nosso ponta-de-lança, portanto esse espaço já estava a ser explorado. Quisemos explorar doutra maneira, exatamente para tirar referencias que já estavam a começar a ser claramente criadas.

    Texto da autoria de João Filipe Alves Magalhães

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