Primeira Liga | Morrer na praia, ressuscitar na tesouraria

    A última jornada da Primeira Liga 2019/2020 já não servia para entregar troféus, mas sim para distribuir menções honrosas. Com o título entregue ao FC Porto, jogava-se para o pódio, para os lugares de acesso à Europa, para evitar a despromoção e sobretudo, pela honra.

    O pódio, que já tinha os dois primeiros lugares ocupados, Porto e SL Benfica, respectivamente, ganhou um novo protagonista, o SC Braga, que cumpriu a missão de vencer o Campeão Nacional e beneficiou da derrota do Sporting CP, que lançou os guerreiros para o pódio e atirou os leões para a 4.ª posição.

    A luta pelo último lugar de acesso à Europa não foi menos dramática. Aos 94 minutos, o FC Famalicão tinha pé e meio na Europa, após uma reviravolta fantástica, frente ao CS Marítimo; mas dez segundos depois, Erivaldo deu um valente pontapé nas aspirações famalicenses, estabelecendo o empate que se manteve até ao fim do jogo. Quem agradeceu foi o Rio Ave FC, que venceu o Boavista FC e, beneficiando da escorregadela do rival, alcançou o último lugar de acesso às competições europeias.

    As decisões em relação à manutenção ficaram para o último dia do campeonato. Com o CD Aves já despromovido, CD Tondela, Vitória FC e Portimonense SC lutavam com unhas e dentes para não morrerem na praia. Com a vitória de todos eles, a fava calhou aos algarvios, que precisavam que um dos rivais escorregasse. O que faltou aos avenses e aos de Portimão para atingir a permanência?

    Comecemos pela equipa de Santo Tirso. O problema do Aves não foi futebolístico; não foi um plantel fraco, um mau treinador. O CD Aves apanhou este ano a doença das SAD. Como em muitos clubes portugueses, a SAD falhou ao clube, aos adeptos e aos profissionais. Os graves problemas financeiros da SAD levaram à falha nos pagamentos dos salários aos jogadores, que por sua vez levou a rescisões e agora no final da época, ao triste espectáculo proporcionado pela SAD, ao ameaçar não jogar os últimos jogos, ao perder o autocarro do clube e ao “perder” a Taça de Portugal. Aos jogadores, treinador Nuno Manta Santos e ao presidente do clube António Freitas, peço que aceitem um sincero agradecimento de uma adepta de futebol, por tudo o que fizeram para dignificar o clube e a verdade desportiva até ao último momento.

    O caso do Portimonense é mais complicado. A época não começou bem para os Algarvios, que logo após a 4.ª jornada se afundaram, não mais passando do 14.º posto. Os maus resultados sucediam-se, faltando ora sorte, ora engenho, e à 17.ª jornada, com uma derrota por 3-0 com o último classificado, o Aves, o Portimonense contava 14 pontos e pouquíssimas perspectivas de melhoria, o que valeu a saída de António Folha do comando técnico da equipa. Para o seu lugar foi Bruno Lopes, que não fez melhor, deixando a equipa com os mesmos pontos e na mesma posição, à 20.ª jornada. Aí, entrou Paulo Sérgio para o lugar de treinador e o chip mudou.

    Finalmente, no Algarve, viu-se alguma luz ao fundo do túnel; cinco vitórias, quatro empates e cinco derrotas. Sozinho, conseguiu mais pontos do que os seus dois antecessores juntos; conseguiu pôr o Portimonense a jogar um futebol de melhor qualidade e acima de tudo, devolveu a esperança à equipa. O momento que ditou este fim, algo previsível dos alvinegros, foi a derrota com o Paços de Ferreira, na penúltima jornada, que deixou os algarvios dependentes dos rivais directos. Se Paulo Sérgio tivesse começado a época, talvez o desfecho fosse diferente.

    Fonte: SC Farense

    À Primeira Liga, vão subir o CD Nacional e o SC Farense, por decisão da Liga de Clubes, já que eram o primeiro e segundo classificados, respectivamente, à data do cancelamento da Segunda Liga. Os madeirenses, já são prata da casa; presença constante na Primeira Liga, com também constantes descidas de divisão, vêm com vontade de se estabilizarem no escalão máximo do futebol português.

    Já o SC Farense, consegue a subida de divisão 18 anos depois. Os algarvios são um exemplo de superação: após a descida de divisão em 2001/2002, o clube atravessou uma gravíssima crise de tesouraria que culminou na extinção da modalidade. A retoma foi gradual, começando nos distritais e depois de ter subido à Segunda Liga em 2017/2018, o clube volta aos palcos maiores do futebol português, fruto do trabalho da equipa técnica e da liderança do presidente João Rodrigues, que com a sua visão estratégica, conseguiu que o Farense tivesse uma capacidade diferente de investimento, graças à criação de uma SAD e dos parceiros que asseguram os patrocínios do clube a sua sobrevivência.

    Os Algarvios têm agora oportunidade de se consolidar na Primeira Liga e, gradualmente, voltar aos tempos de sucesso deste clube histórico, que já esteve no Jamor a disputar a final da Prova-Rainha e já disputou Competições Europeias. Veremos o que trazem de novo à Primeira Liga.

    Artigo revisto por Inês Vieira Brandão

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    A Maria é uma orgulhosa barqueirense (e por inerência barcelense ) que aprendeu a gostar de futebol antes de saber andar. Embora seja apologista das peladinhas entre amigos, sai-se melhor deixando o que pensa gravado em papel. Benfiquista de coração e Gilista por devoção é sobretudo apaixonada pelo futebol que faz o país parar quando a bola começa a rolar.                                                                                                                                                 A Maria escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.