– Da Polónia com amor –
“Sinto que me descobri como jogador”
BnR: Mudas-te para a Polónia no último Verão e por lá tens brilhado ao serviço do KS Cracovia. Em meio ano, estreias-te a marcar nas competições europeias, integras por duas vezes a equipa da semana e és nomeado para jogador do mês. Encontraste o clube e o campeonato ideal para as tuas características?
RL: Encontrei-me a mim mesmo, principalmente. Sinto que me descobri como jogador. As coisas começaram a correr bem antes de chegar, quando comecei a meter na cabeça que era um momento-chave na minha carreira. “Tem de ser agora. Não vou para passar férias.” Foi quando comecei a moldar o meu cérebro, a minha maneira de pensar. Estreei-me na Liga Europa e logo a marcar, no primeiro jogo do campeonato marquei logo golo…
BnR: Consegues descrever o momento em que, 13 anos depois, o Cracóvia voltou a vencer em Poznan?
RL: O treinador disse-me que já não vencíamos lá há 13 anos e para tu veres como está a minha mentalidade aqui eu disse logo “Não faz mal, a gente ganha. Não te preocupes”. Fomos lá, demos chocolate e foi incrível. Atropelámo-los completamente. A minha mentalidade neste momento está ao mesmo nível de quando estava no Penafiel.
BnR: Ainda vais para casa “na azia” quando não marcas?
RL: Ainda vou, ainda fico chateado… mas fico mesmo! Não é algo que demonstre no final do jogo, mas a minha mulher sabe. Mesmo quando ganhamos, festejo com todos e faço uma grande festa, mas se não marquei venho para casa e fico “Não marquei golo. Mas porque é que eu não marquei golo?” e fico a penar naquilo e a remoer. Mesmo quando marco e vejo que podia ter feito mais um (…) “Ca****, porque é que não fiz aquilo?”. Tem que ser assim e acredito que os jogadores top, os que estão mesmo lá em cima, pensam assim.
BnR: A Seleção Nacional é um objetivo?
RL: Não. Nem sequer penso nisso, para ser sincero.
BnR: A caminho do hat-trick no que a filhos diz respeito, é a estabilidade do seio familiar um dos pilares que edificam a carreira de um atleta?
RL: Sem dúvida. É claro que uma carreira também pode correr mal e teres estabilidade familiar, mas ajuda. Quando tens problemas em casa, acabas por transferir isso para o trabalho, acabas por estar no treino a pensar nisso e depois, aquele cinco segundos em que estás a pensar nisso, tiram-te o foco e já não estás a fazer as coisas a cem por cento. Se estiveres só preocupado em jogar futebol, vais conseguir tirar o melhor rendimento de ti.
BnR: E ainda manténs o ritual de falar com a tua mulher uma hora antes dos jogos?
RL: Sempre! Antes de ir para o balneário para equipar-me, falo sempre. Quero saber se está tudo bem, se ela e se os meninos estão bem.
BnR; “Deus está connosco nesta luta. Protejam-se. Estamos juntos nesta batalha. Ninguém fica para trás. Obrigado a todos os profissionais de saúde. Vocês são os verdadeiros heróis.” Este agradecimento público é teu. Num momento tão crítico para a sociedade em geral, entendes que o alcance mediático dos jogadores pode contribuir para alertar e informar as pessoas?
RL: Claro. Enquanto jornalista, também tens as tuas referências na tua profissão e é neles que vês um exemplo. Connosco é igual. As pessoas tentam seguir o que fazemos porque, para além de jogadores de futebol, também somos exemplos e veem o que fazemos. Se pusermos vídeos no Instagram a passear na rua, com os filhos… As pessoas vão olhar para isto e repetir. Se, por exemplo, publicares algo em casa a brincar com os teus filhos, em dez pessoas, vais sensibilizar umas oito. Temos de ser um exemplo a seguir. Sempre.
Artigo revisto por Inês Vieira Brandão