O Carrossel dos Emprestados

    No fundo, com pena minha, tudo isto é legal. São estratégias pouco recomendáveis eticamente, mas são legais. O que acontece é que um clube poderoso adquire um jogador mediano a baixo custo ou mesmo a custo zero, muitas vezes para liquidar dívidas antigas. Por este ser mediano, empresta-o. E a partir daqui o clube detentor do passe está no céu: muitas vezes, o recetor paga o ordenado do jogador ou parte dele; se o recetor for estrangeiro, para além de pagar o ordenado, pode por vezes pagar também alguma taxa. Posteriormente, há dois caminhos: o jogador emprestado valoriza e regressa a “casa” ou é vendido, gerando mais-valias; ou o jogador não valoriza, sendo emprestado continuamente até final do contrato, vivendo a sua carreira profissional num autêntico carrossel: transforma-se num mero peão de uma teia de interesses económicos.

    Hadi Sacko chegou a Alvalade em 2014, mas só realizou 4 jogos na Taça da Liga pela equipa A dos leões. Foi agora vendido ao Leeds, após dois empréstimos Fonte: Twitter Oficial Hadi Sacko
    Sacko chegou a Alvalade em 2014,  só realizou 4 jogos pela equipa A dos leões. Foi agora vendido ao Leeds, após dois empréstimos
    Fonte: Twitter Oficial Hadi Sacko

    É um jogo sujo, mas é o futebol-negócio. O problema é que mais do que serem métodos reprováveis, são métodos antidesportivos, que podem pôr em causa várias questões. Os grandes clubes passam a exercer uma espécie de poder invisível na nossa Liga, pois são eles que detêm uma fatia dos jogadores que dela fazem parte. E isto tem influência: os jogadores emprestados não podem jogar contra o clube detentor do seu passe, por exemplo. Não custa nada aos nossos “grandes” comprar alguns dos melhores jogadores de equipas mais fracas por uma pechincha, para depois os emprestar e impedir que joguem contra si; se quisermos ir até mais longe, estes negócios, que no fundo se assemelham até a parcerias entre clubes, poderão ter influência no que diz respeito a eleições e votações em Assembleias dos grandes órgãos, nos quais normalmente existem tomadas de posição conjuntas. Não quero, contudo, acreditar neste cenário.

    O certo é que tudo isto é real. Faz-me lembrar as negociatas que fazia em miúdo na Liga Master do velhinho PES 2011 da PlayStation 2. Mas, apesar de tudo, acho que os meus negócios eram ainda mais transparentes do que estes que se veem na vida real. E isso, mais do que ser preocupante, é assustador. Tão assustador que, provavelmente, no tempo em que leu este texto mais um jogador assinou por um grande, juntando-se a mais umas dezenas no carrossel dos emprestados.

    Foto de Capa: lvaro Isidoro / Global Imagens

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    André Maia
    André Maiahttp://www.bolanarede.pt
    Durante os seus primeiros seis anos de vida, o André não ligava a futebol. Até que no dia 24 de junho de 2004, quando viu o Ricardo a defender um penálti sem luvas, se apaixonou pelo jogo. Amante da história de futebol e sempre com factos na ponta da língua, tem Cristiano Ronaldo e Rui Patrício como os seus maiores ídolos.                                                                                                                                                 O André escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.