Os anos que o FC Tirsense quer esquecer

    Há momentos ingratos que tornam a nossa história num caso singular de tragédias repetidas, que de tão improváveis quase que merecem ser objeto de estudo. O FC Tirsense insere-se forçosamente nesta descrição, tendo em conta os anos negros que viveu no final dos anos noventa.

    Aquele que é considerado o maior clube de Santo Tirso teve a sua primeira grande conquista na época 1967/68, ao alcançar pela primeira vez um lugar na principal divisão do futebol português. Viria a conseguir oito presenças na Primeira Liga (não seguidas), mas a sua última vez neste escalão representou o início de um período trágico no clube: quatro épocas consecutivas a descer de divisão.

    Os jesuítas entraram a “todo o gás” na década de 90 sob o leme do Professor Neca, depois de conseguirem a sua terceira subida à Primeira Liga em 1989/1990. Os anos seguintes foram de oscilações entre o primeiro e o segundo escalão do futebol português, num período que, apesar de ligeiramente instável, parecia representar uma consolidação do Tirsense como um emblema destinado a competir nas divisões de elite em Portugal.

    Contudo, mal sabiam os fiéis adeptos do clube de Santo Tirso que os piores anos do clube se seguiriam a esta aparente tranquilidade. A temporada de 1995/96 representa o início duma espiral negativa para o Tirsense que parecia não ter fim: com um 18º lugar (o último) na Primeira Liga, vêem-se relegados para o segundo escalão e, desde aí, foi sempre a descer de divisão durante quatro épocas contínuas, acabando por voltar a disputar os campeonatos distritais em 1999/00, mais de 30 anos depois.

    Para agravar o registo, o Tirsense terminou mesmo na última posição em quase todo este período fatídico: além do 18º lugar na Primeira Liga em 1995/96, os jesuítas “conquistaram o mesmo feito” na época seguinte com um novo 18º lugar na II Divisão de Honra, assim como em 1997/98 na II Divisão B Zona Norte. Apenas na temporada 1998/99, na Série B da III Divisão, conseguiram fugir ao último lugar – ficaram em 15º -, mas nem assim se livraram de nova descida de escalão.

    Esta queda a pique representa mesmo um recorde que nenhum clube quer ter: mais descidas de divisão consecutivas. Ainda assim, o Tirsense partilha esta indesejada “distinção” com dois clubes alemães, SV Lohhof e FC Kempten, mas o emblema português foi o único a ter quatro descidas consecutivas começando este processo na primeira divisão do seu campeonato.

    Como seria de esperar, um dos motivos apontados para este rol de acontecimento foi uma grave crise financeira que assolou o clube, motivada por erros de gestão. Na altura, o Tirsense construiu um plantel de luxo, onde passaram nomes como o brasileiro Paredão, que viria a jogar pelo Chelsea, Tueba que veio do SL Benfica, entre outros. O então presidente do clube, Alcindo Reis, atirou as culpas para a arbitragem, ao declarar, no ano de 1999, que “o Tirsense tem sido violentado e prejudicado sistematicamente nas últimas três épocas. O sistema, que, de facto, existe, quis arrumar com o Tirsense. Fomos prejudicados vergonhosamente pelas arbitragens, com coisas incríveis. Por isso, o futebol português é uma vergonha, uma coisa que não é séria”.

    20 anos depois deste período negro da sua história, o clube de Santo Tirso – atualmente a competir na distrital – continua a lutar para se esquecer destes anos e não repetir os erros do passado. Tem ainda, sem dúvida, um longo percurso pela frente se quiser voltar à glória de outrora e proporcionar à sua grande comunidade de devotados adeptos a felicidade de voltar a ver o seu clube de coração entre os grandes do futebol português. Já merecem.

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    Diana Oliveira
    Diana Oliveirahttp://www.bolanarede.pt
    A Diana é licenciada em Ciências da Comunicação pela Universidade do Porto e, desde cedo, que a escrita faz parte de si. Poder conjugá-la com o futebol, outra das suas paixões, é a cereja no topo do bolo. A Diana escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.