📲 Segue o Bola na Rede nos canais oficiais:

Reflexão sobre uma época ligeiramente esquisita

- Advertisement -

Seria de fraca inteligência começar um artigo destes por dar contexto relativamente à época desportiva que se está a desenrolar. Por isso, vou precisamente fazê-lo.

Houve um senhor na China que comeu um morcego. A ingestão do bicho despoletou um outro bicho, e de repente há equipas a jogar consecutivamente de três em três dias. Pronto, o artigo está exemplarmente contextualizado, pelo que estamos em condições de avançar.

Esta época tem sido atípica a vários níveis. Aliás, atípica talvez não seja a palavra mais ilustrativa. O termo cientifico mais adequado deverá até ser “esquisita”. Tem, na verdade, sido uma época esquisita.

Os estádios estão quase sempre vazios, todos os elementos que não estão a intervir no jogo são obrigados a usar máscara, o mercado fechou mais tarde, os atletas frequentemente experimentam a sensação de enfiar a zaragatoa no nariz. Enfim, tudo é bastante esquisito, tendo em conta o futebol a que nos habituámos. Outra das grandes diferenças está no calendário. Por um lado queremos ter as competições o mais próximo do normal possível. Mas por outro lado, temos prazos para cumprir. Em que é que tal resulta? Férias muito curtas para grande parte dos jogadores, aliás para alguns nem devem ter sido bem férias, tratou-se mais de um fim-de-semana prolongado, e resulta também em jogos de três em três dias consecutivamente infelizes que estão a disputar as competições europeias.

Uma situação destas produz vários efeitos, sendo muitos deles negativos. Com um mês inteiro a jogar de três em três dias, não há grande margem para implantar ideias e filosofias de jogo. É jogar, recuperar, jogar, recuperar. Quando há de facto alguma pausa, os craques mais influentes são chamados às seleções e ficam sem trabalhar com a equipa.

No entanto, o mais óbvio destes efeitos é naturalmente a carga física que recai sobre os jogadores e que frequentemente resulta em lesões. Aliás, só se estivesse a disputar as competições europeias um plantel formado talvez pela Marvel é que não surgiriam lesões, e mesmo assim tenho algumas dúvidas. As lesões já são frustrantes em toda e qualquer altura. Mas nesta época em específico torna-se ainda mais terrível. Quando a conjuntura social externa ao futebol já não é, de todo, a mais agradável, quando já estão constantemente sujeitos a apanhar um bicho que os tranca num quarto durante umas semanas e os impede de darem contributo à modalidade, quando vêem as suas liberdades restringidas, aquilo que agora vinha mesmo a calhar aos atletas era uma lesão do ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo.

O caro leitor estará seguramente recordado daquele célebre encontro entre o Rio Ave FC e o AC Milan, encontro do apuramento para a presente edição da Liga Europa e que durou aproximadamente 76 horas. Muitos acharão que se tratou de um jogo recheado de emoções em que ambos mereciam o apuramento. Pois bem, eu venho aqui esclarecer esse assunto. Aquilo que aconteceu no Rio Ave x Milan foi um exemplo fantástico de gestão desportiva. Tratou-se de duas equipas a lutarem ao máximo para evitarem a presença na Liga Europa, a fim de preservarem a compleição física dos atletas. De cada vez que um jogador do Rio Ave falhava uma grande penalidade, sentia-se uma felicidade enorme no tendão de Aquiles dos restantes companheiros de equipa.

Afinal, ambos os conjuntos estavam bem cientes de que a infelicidade do apuramento resultaria na vivência de semanas a fio sujeitos a uma carga física daquelas que fazem as provas para os Comandos do Exército parecerem um belo descanso.

Se veio à procura de soluções para que esta época seja ligeiramente menos esquisita, já percebeu que não as tenho. Apenas resta-me pedir aos atletas que continuem a ser heróis e a dar tudo por esta modalidade que apreciamos, porque isto um dia passará e aí voltaremos a estar junto deles a gritar, a sofrer, a comer umas bifanas e a disfrutar do futebol a sério, e não deste futebol esquisito.

Mário Silva da Costa
Mário Silva da Costahttp://www.bolanarede.pt
Natural de Vila Franca de Xira, Mário é a descrição perfeita de um típico idoso português. Chega ao domingo, almoça uma feijoada e vai ver a bola às três da tarde. Para além disso, nos tempos livres ocupa-se com um curso de jornalismo na Escola Superior de Comunicação Social.                                                                                                                                                 O Mário escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

Subscreve!

Artigos Populares

Danilo Pereira vive experiência como copiloto ao lado de antigo campeão mundial na estreia do WRC na Arábia Saudita

Danilo Pereira foi convidado para assinalar a primeira passagem do Mundial de Ralis pela Arábia Saudita e partilhou o carro com o antigo campeão do mundo Ott Tanak.

Foi chave na vitória do CD Nacional em 2010 e acredita em nova surpresa frente ao Benfica: «Acredito que podemos vencê-los e marcar golos...

Quinze anos depois da última vitória do CD Nacional sobre o Benfica, Luís Alberto está convicto de que os madeirenses têm argumentos para voltar a surpreender as águias.

Com mudanças e surpresas: eis os onzes oficiais do FC Porto e do Nice para a Europa League

O FC Porto recebe o Nice na quinta jornada da Europa League. Fica com os onzes oficiais das duas equipas para o duelo no Estádio do Dragão.

Manuel Neuer reage aos erros frente ao Arsenal: «Claro que a sensação não é boa»

Manuel Neuer esteve ligado a dois dos três golos sofridos pelo Bayern Munique na derrota por 3-1 frente ao Arsenal. O guarda-redes deu a sua explicação no final do jogo.

PUB

Mais Artigos Populares

Cristiano Ronaldo investe na WOW FC e entra oficialmente no mundo do MMA

Cristiano Ronaldo tornou-se investidor da WOW FC, organização espanhola de MMA que conta também com Ilia Topuria como acionista.

Ben Chilwell sonha em jogar o Mundial 2026: «Seria como mostrar o dedo do meio a muita gente»

Ben Chilwell procura convencer Thomas Tuchel a levá-lo ao Mundial 2026 e vê na seleção inglesa a oportunidade perfeita para calar quem o descartou no último ano.

Paulo Fonseca desvaloriza os maus resultados do Lyon: «Precisamos de melhorar mas o contexto importa»

Paulo Fonseca pediu calma na análise ao momento do Lyon e destacou que lesões, suspensões e a utilização de vários jovens explicam a sequência sem vitórias.