«Muitos clubes preferem aquilo que é rápido em vez de privilegiarem o trabalho e a sua formação» – Entrevista BnR com Eduardo Moreira

«Tive a oportunidade de trabalhar com o Ricardo e sabia que era uma pessoa que, mais tarde ou mais cedo, iria dar o salto para a Primeira Liga»

Bola na Rede: Lavrada a terra de Cesar – digamos assim – foi tempo de invadir o território estrangeiro. Assumir uma equipa amadora, em França, representa o mesmo que assumir uma equipa amadora em Portugal?

Eduardo Moreira: A equipa não era amadora, era uma equipa completamente profissional. O campeonato no qual a equipa estava inserido é que era semiamador. Mas o nosso contexto era estritamente profissional, porque foi uma equipa que, em dois anos, desceu da Segunda Liga, em França, fruto de vários fatores. Era um clube que não pertencia àquele patamar, evidentemente. E isso, desportivamente, foi um dos fatores que me levou a aceitar a proposta quando ela surgiu, porque, terminada essa época no Cesarense, tinha os olhos postos numa Segunda Liga, como é óbvio. Não fazia parte, mais uma vez, dos meus planos de carreira, emigrar tão cedo, mas eu comecei a ponderar e redefinir estratégias, porque se eu queria atingir o objetivo de treinador a médio prazo, eu tinha que viver aquela experiência porque, no futuro, essa possibilidade estaria sempre em cima da mesa. Portanto, decidi conjuntamente com a família e lá fomos. O clube tinha uma direção maioritariamente portuguesa, o treinador já era um conhecido meu (o Secretário). Nós tínhamos a possibilidade e levar alguns jogadores daqui para reforçar a equipa. Os objetivos assentavam na luta para vencer os jogos todos, para subir de divisão e para ser campeão. Tínhamos umas condições absolutamente extraordinárias e fizemos uma época incrível, batemos todos os recordes que existiam, conseguimos o título e a subida de divisão. Pessoalmente, foi fantástico porque queria perceber o que era emigrar, estar fora do país e da minha zona de conforto, voltar outra vez à escola para aprender uma língua que já tinha tido há muito tempo atrás: até nisso o profissionalismo do clube foi tremendo porque, todos os dias, existia um professor capaz de nos ensinar! Tomei a decisão de não continuar na época seguinte por diversos aspetos: primeiro, por questões familiares e por existirem prioridades na vida; em segundo lugar, porque sentia que o meu caminho como treinador-adjunto estava muito próximo de conhecer o fim, fruto da minha vontade, da minha crença, da minha mentalidade. Mas faltava-me o derradeiro objetivo: a primeira liga!

Bola na Rede: No momento em que terminou a temporada no clube francês, e no seio desse turbilhão de emoções que já tratou, pensou, em algum momento, permanecer em França e construir o seu caminho no país?

Eduardo Moreira: Sim, sim. E tive propostas e oportunidades para isso, não só em França, como também em Portugal! Mas faltava-me aquele objetivo. Eu tinha obrigatoriamente que regressar a Portugal e, regressando, não fazia qualquer tipo de sentido fugir daquilo que tinha traçado há anos e pelo qual sempre lutei. Nunca foi um cenário que alimentasse demasiado. Primeiro, queria fazer a tal escada e continuar a evoluir e a crescer. Nós subimos a faltar-nos cinco jogos para o fim e nessa altura eu já tinha a decisão alinhavada. O que restou do campeonato serviu para preparar o regresso a casa, como se costuma dizer.

Fonte: Eduardo Moreira

Bola na Rede: E é mesmo o que acontece, apesar de uma paragem breve no frio febril da Serra da Estrela, no início de 2019/2020. É caso para dizer que teve direito a mais um queijinho para vingar em Portugal?

Eduardo Moreira: Sem dúvida! A minha história no Sporting da Covilhã foi curta, com duração de cerca de seis meses. Mas foi tremendamente intensa e foi um clube que me apaixonou. Quer o clube, quer as suas gentes. Ficará sempre marcado na minha carreira e na minha memória, porque as pessoas são diferentes, são especiais e porque também correu tudo de feição, sejamos sinceros. Tive oportunidade de trabalhar com um grandíssimo treinador, o Ricardo Soares, juntamente com o seu treinador-adjunto, o Maurício: acima de tudo, são duas pessoas incríveis e depois são uns profissionais natos, muito capazes. Aprendi e fui muito feliz nesse período. Voltei a encontrar jogadores com quem tinha jogado contra e outros que foram meus no Boavista (caso do Gilberto, o capitão do Covilhã). O plantel e o balneário eram fantásticos e constituídos por grandes homens. A direção então… (Suspiro)… Não há palavras! Tive a oportunidade de trabalhar com o Ricardo e sabia que era uma pessoa que, mais tarde ou mais cedo, iria dar o salto para a Primeira Liga, porque já lá tinha estado – tinha mais que condição e competência para isso. Eu tomei a decisão muito rapidamente de me juntar e aprender com ele e, simultaneamente, de cumprir o meu objetivo, que se veio a concretizar em novembro…

Bola na Rede: Exatamente. O Eduardo segue na comitiva de Ricardo Soares para Moreira de Cónegos. Nessa mesma temporada, o clube termina na oitava posição e realiza um campeonato confortável, mas a equipa técnica acabou afastada de cena. Compreendeu a decisão?

Eduardo Moreira: Só um reparo (risos). A equipa técnica não saiu no final dessa temporada, saiu foi muito cedo na temporada que se seguiu (risos). Os motivos que levaram as pessoas a sair desconheço, porque já não estava lá… Eu tomei a decisão de sair no final da época, tendo uma conversa franca com o treinador, com o Ricardo e disse-lhe que estava na hora, que queria seguir o meu caminho; ele aceitou, ajudou-me muito e temos uma relação absolutamente extraordinária porque, acima de tudo, é uma pessoa que compreende a competência, a capacidade e qual era a ambição. Portanto, foi o culminar de tudo. Mas ainda ficou por concretizar um objetivo, ainda estou atrás dele e hei de consegui-lo: conseguir fazer o UEFA PRO, o IV Nível. Mas, no final dessa época, mais uma vez, um balneário fantástico, jogadores de elite. Percebi o que era trabalhar numa Primeira Liga, pude constatar, analisar e operacionalizar aquilo que achava, que idealizava ser de uma maneira, pude dialogar com os jogadores e preparar-me para aquilo que seria o primeiro passo para o resto da minha vida, que é ser treinador principal de Futebol.

Fonte: Eduardo Moreira

Bola na Rede: Transpondo a bola para o outro lado do campo… Encontra o mesmo prazer na formação de treinadores ou na área de mentoria de treinadores, assim como encontra no facto de (querer) ser treinador principal?

Eduardo Moreira: Já há vários anos que dou formação em diversas áreas, porque, desde o prólogo, há quase 19 anos, eu desempenhei variadíssimas funções: de “chega-me isso” a preparador físico, primeiro adjunto, segundo adjunto, operacionalizador, metodólogo de treino, em vários contextos, divisões e situações. Possuo, desde cedo, esse lado pedagógico que sempre tive – sou professor de formação – e, portanto, comecei a dar formação a treinadores em diversas áreas, para diversas empresas diferentes e comecei a realizar esse caminho até fazer aquilo que faço hoje (dar cursos de formação de treinador UEFA C e UEFA B nas associações distritais) e fazer mentoria a treinadores: este foi um projeto que estava na minha cabeça há uns anos, mas, fruto dos patamares onde andei e do trabalho que tinha, nunca o consegui materializar; então, quando saí do Moreirense FC, resolvi então avançar e faço-o de forma individual, colaboro também com a FutMagazine, que é uma plataforma para treinadores, onde também faço mentoria. É curioso porque tenho oportunidade de trabalhar com treinadores de todo o mundo. Desde a América do Norte à América do Sul, à China, a África, ao Reino Unido, etc. Isso é algo que me satisfaz bastante, também por estar em contacto com realidades completamente distintas. Além disso, integro o painel de comentadores do Porto Canal.

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Romão Rodrigues
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Em primeira mão, a informação que considera útil: cruza pensamentos, cabeceia análises sobre futebol e tenta marcar opiniões sobre o universo que o rege. Depois, o que considera acessório: Romão Rodrigues, estudante universitário e apaixonado pelas Letras.                                                                                                                                                 O Romão escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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