O futebol feminino não é fast food

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    Na terça-feira confesso que fiquei algo surpresa. Afinal de contas, o primeiro de dois jogos particulares da Selecção Nacional Feminina teve direito a cerca de 90minutos no espaço televisivo. É bom para pessoas como eu: amantes do futebol, com interesse em acompanhar a vertente feminina da modalidade e que tentam dar a conhecer à comunidade portuguesa o que se passa no mundo dos “saltos altos”.

    Quanto ao dia de ontem já não posso dizer o mesmo. E como quem diz ontem, diz todos os fins-de-semana nos quais decorrem jogos a contar para o campeonato nacional ou para a Taça de Portugal. Infelizmente, tive de socorrer-me das redes sociais para perceber qual o desenrolar do segundo jogo de Portugal frente à Suíça, que terminou novamente com uma vitória para as lusas (1-0). Mas de que me queixo? Já é habitual.

    Na verdade, e com o início do meu percurso no mundo jornalístico, tenho-me deparado com algumas dificuldades que limitam (e muito) o meu trabalho: não tenho recursos próprios para me deslocar constantemente aos diversos estádios; não tenho apoios televisivos que estejam dispostos a apostar na modalidade; não tenho uma sociedade mentalmente preparada para optar por um jogo praticado por raparigas. Sou apenas uma amadora que, sem qualquer retorno monetário, se esforça por divulgar minimamente o futebol feminino. E digo minimamente porque, tendo em conta os factores já enunciados, é inevitável que os meus artigos fiquem, naturalmente, mais pobres. Se me sinto triste? Sinto. Mas sei que não estou sozinha. Aproveito até para felicitar o Portal do Futebol Feminino que, recentemente, celebrou quatro anos de existência. Quatro anos de luta para aproximar as jogadoras de um público interessado no percurso dos vários clubes e, claro, da Selecção. Sei que mais cedo ou mais tarde o nosso trabalho trará frutos, pois é inegável que os meios de comunicação são a maior fonte de informação da actualidade. E, para além de fornecerem informação, influenciam e modelam a forma como a sociedade pensa e age.

    Sem raciocinar muito e seguindo uma lógica perceptível pela pessoa mais leiga, se os media dedicarem a sua atenção a estas raparigas, também a restante sociedade o fará. Consequentemente surgirão interessados, patrocinadores e uma melhor envolvente estrutural. Aliado a este trabalho, as melhores condições disponibilizadas pelos clubes poderão traduzir-se numa maior qualidade de jogo e… adivinhem: numa maior atenção dada pelos media ao futebol feminino. Um ciclo que parece não ser entendido por muitos. Ou melhor, que parece não querer ser entendido. É aqui que entra a minha explicação para este pseudo fechar de olhos.

    Quem é a pessoa que ainda não recorreu à fast food? Comida fácil, rápida, que sacia a nossa fome e que não exige muito esforço da nossa parte. Mas será viável? Nos primeiros tempos podemos dizer que sim. Ficamos satisfeitos por não ter trabalho para nos alimentar e a comida tem um sabor agradável. Até que começamos a ver aquele pneuzinho indesejável, aquela sensação de mal-estar constante e as primeiras alterações na nossa saúde. Assim vejo o mundo hoje em dia: um mundo doente. Um mundo em que a urgência de colmatar as falhas da sociedade rapidamente e a curto prazo se sobrepõe à necessidade de trilhar um caminho seguro, que envolve mais trabalho mas que, certamente, traz melhores resultados. Um mundo em que é dada primazia ao lucro imediato quando é do conhecimento geral que os grandes projectos demoram o seu tempo a atingir a maturação.

    O futebol feminino não é fast food. E os media, bem como os investidores, precisam de o entender. Não podem ser exigidos resultados imediatos quando o processo é longo e exige esforço, dedicação e, acima de tudo, crença. Por isso, acreditem. Elas merecem.

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    Onze inicial português que voltou a derrotar a Suíça. Fonte: Portal Futebol Feminino

     

    Fotos: fpf.pt

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    Rita Latas
    Rita Latashttp://www.bolanarede.pt
    Atualmente a trabalhar na Sport TV, Rita Latas está no mundo do jornalismo desportivo há sete anos. O futebol foi a modalidade que a levou a ingressar na área, depois de 13 anos como jogadora federada