A Teoria da Evolução de Darwin aplicada ao FC Porto

    FC Porto Cabeçalho

    No século XIX, Charles Darwin publicou “A origem das espécies”, livro que mudou radicalmente as bases da biologia mundial e que apresentou a Teoria da Evolução. Dizia na altura o cientista britânico que a sobrevivência não era uma consequência direta dos seres mais fortes, mas sim daqueles que melhor reagiam à adversidade e evoluíam, adaptando as estruturas de forma a reagir ao meio natural. O último Darwin em destaque em Portugal vestia de vermelho e branco, mas os dragões bem podem regressar ao passado para, nos meandros da memória, falar com Charles Darwin. Afinal, as descobertas do cientista são as mesmas que Vítor Bruno terá de fazer para elevar o nível exibicional do FC Porto.

    O verão foi de profunda transformação para os dragões com mudanças de fundo na direção, na estrutura técnica ligada ao futebol, no banco de suplentes e, por fim, no plantel. Apareceram André Villas-Boas, Andoni Zubizarreta, Jorge Costa e um renovado Vítor Bruno, assumindo a pasta principal depois de anos na sombra, e, já com o mercado em andamento, apareceram nomes como Francisco Moura, Nehuén Pérez, Fábio Vieira e Samu Aghehowa. Com tanta mudança, a adaptação a um novo contexto era exigente e, tal como Charles Darwin provou, obrigaria a uma evolução. O início foi promissor, o passo seguinte algo comprometedor, mas Vítor Bruno tem nas mãos jogadores e matéria-prima para dar uma nova vida ao FC Porto. É esse o desafio do técnico que, esta noite, diante do Midtjylland, deu alguns passos nesse sentido.

    Wenderson Galeno FC Porto
    Fonte: João Freitas/Bola na Rede

    A queda da transferência de Wenderson Galeno para o Al Ittihad, até pela dimensão financeira, foi um duro golpe no FC Porto que havia oficializado Francisco Moura para o plantel a contar com os milhões deixados na conta pelo brasileiro que, em agosto, era o lateral dos dragões. A propensão do brasileiro para aparecer de trás para a frente em velocidade, para alargar o campo e ameaçar em velocidade são armas que, mais avançado em campo, Vítor Bruno perdeu. A permanência de Wenderson Galeno no Dragão obriga a uma gestão delicada de um jogador que, neste novo FC Porto, ofereceu mais rendimento como lateral. Num momento em que o lateral português contratado ao Famalicão atravessa claramente um período de baixar de forma, recuperar a posição “original” de Wenderson Galeno, principalmente nestes jogos em que os dragões têm mais bola, pode ser importante. Para beneficiar o número 13 e o coletivo.

    À frente de Wenderson Galeno jogou Pepê que, novamente, foi lançado na posição “original”. O brasileiro foi contratado ao Grémio como um extremo esquerdo, desequilibrando a pé trocado. No FC Porto ganhou mais sequência pela direita, mas à esquerda parece sempre oferecer outra dimensão pensadora ao jogo dos dragões. Contra o Midtjylland, deu uma aula de identificação de espaços, procurando receber longe dos defesas para rodar, ver o jogo de frente e tomar a decisão. O bicho de sete cabeças de Pepê, definir de forma acertada na maioria das ocasiões, é mais facilmente resolvido abrindo o campo com o pé direito.

    Com Nico González, grande pilar do FC Porto nesta temporada, de fora devido a castigo, Stephen Eustáquio, algo subvalorizado por grande parte do universo azul e branco, assumiu as despesas da construção e ganhou influência como todo-o-terreno. Soube gerir os timings para baixar em campo, dar superioridade numérica na primeira fase, e construir e as alturas para fazer progredir a equipa em campo, seja através do passe ou através da condução. Não sendo um jogador com ações deslumbrantes, é um elemento importante pela assertividade nas ações. A inteligência dentro de campo é acompanhada pela leitura de jogo para o exterior, reconhecendo o muito que ainda falta caminhar para os dragões subirem o nível.

    Pepê FC Porto
    Fonte: João Freitas/Bola na Rede

    Por falar em subida de nível, Fábio Vieira ainda não correspondeu ao estatuto que deixou no Dragão. Já pincelou traços de genialidade aqui e ali, mas as condições físicas e de confiança continuam a deixá-lo vários furos abaixo do génio que brilhou no FC Porto e que não resistiu à competitividade do plantel do Arsenal. Começando a partir da direita nesta noite, procurou constantemente jogar mais por dentro, perto dos médios, para criar situações de vantagem, ver o jogo de frente e lançar. A bola no segundo golo dos dragões é uma faísca numa fogueira que ainda está a ser carburada. Quando a chama se acender, os dragões estão mais perto de sorrir.

    A última evolução que ainda precisa de ser afinada chama-se Samu Aghehowa. Pelo perfil proporcionalmente inverso a Danny Namaso, que começou a época como referência dos dragões, obrigou o FC Porto a mudar muito do seu jogo, um processo que, naturalmente, requer tempo. A aura com que começou a passagem pelos dragões que se havia esfumado, num FC Porto que passou a criar menos e a chamar de desconhecido o caminho para melhor acionar o espanhol, vai regressando com três jogos consecutivos a celebrar. Se a técnica acompanhasse o corpo (duelos físicos e acelerações) e o espírito de batalha pelos lances, seria já um dos melhores do mundo na posição. Saber como e quando acionar Samu, mantendo-o em jogo, mas dando-lhe o contexto certo para brilhar é o desafio dos dragões.

    Apesar de tudo, a época ainda só leva quatro meses. Vítor Bruno vai balançando com o vento, mas enquanto se mantiver de pé sobre a fina corda por onde caminha, vai testando soluções e dando opções. A sensação que continua a dar, até pela gestão de plantel (são paradigmáticos os casos de Otávio ou Iván Jaime), é que o treinador ainda procura o melhor encaixe das peças. Quando este chegar, o FC Porto evoluirá. Pelo menos, segundo Charles Darwin.

    Samu Aghehowa FC Porto
    Fonte: João Freitas/Bola na Rede

    BnR na Conferência de Imprensa

    Bola na Rede: O FC Porto conseguiu por diversas vezes atrair a pressão do Midtjylland e encontrar espaço nas costas para acelerar. Neste cenário, que justificações táticas encontra para o sucesso da 1ª fase de construção e, um pouco mais à frente no campo, qual a importância de ter o Fábio Vieira a jogar mais próximo do meio-campo para ver o jogo de frente e lançar e de ter o Pepê pela esquerda, onde parece mais facilmente identificar o espaço livre para receber, rodar e definir?

    Vítor Bruno: Quando lançamos o jogo, temos várias valências que temos de analisar. Olhamos para o nosso rendimento diário – o dos jogadores -, para o treino, para o tipo de resposta que dão e olhamos muito para o lado estratégico. É inevitável, faz parte do nosso trabalho. Quando analisamos este adversário percebemos que era importante, na ausência do Nico, que estava castigado, ter gente por dentro que conseguisse ocupar esse espaço. Não havendo ninguém com o perfil do Nico, também não queremos cópias uns dos outros, mas que tivessem um perfil de transporte e de pisar por dentro, à frente da linha média, atrás da linha média e gente que ameaçasse permanentemente todo esse trajeto que os médios faziam para a pressão e alimentar a dúvida. Fizemos isso com o Galeno bem aberto no corredor para fazer com que pudessem dançar à largura, porque sabíamos que era uma equipa que ia fechar muito caminho por dentro com três médios. Queríamos ter gente a esticar a largura para encontrar dentro e para muitas vezes o Fábio, como disse e bem, poder ser alguém que alimenta com alguma qualidade pelo talento que tem os últimos 30/40 metros com uma definição mais dimensionada no campo. O golo resulta de um momento desses e depois há outros movimentos identificados sobre a linha defensiva que explorámos e bem. Temos várias imagens e analisámos isso ao intervalo. Os jogadores estavam lá, mas as bolas não entravam e entraram na segunda parte para fazer mais três ou quatro golos. Espero que os tenhamos guardado para o próximo jogo.

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