Ainda é possível separar o trigo do joio?

    eternamocidade

    Para o FC Porto, a época passada foi uma verdadeira exceção àquilo que havia sido a regra da história mais recente do clube. Mergulhado numa crise desportiva como há muito não se via, aquilo que se via da equipa era um plantel sem qualidade, um treinador sem nível e um desnorte total numa instituição centenária em que as vitórias eram frequentes. Por tudo isso, no meio de tanto turbilhão, de um número incontável de jogadores com pouquíssima qualidade e de uma mudança técnica a cerca de três meses de terminar a temporada, o final da última época era algo visto como uma urgência para a esmagadora maioria dos adeptos.

    Findada a última temporada, era tempo de virar a página. No meio dos adeptos, tentar adivinhar aquilo que chegaria era um completo tiro no escuro. Depois de uma época tão má, onde apenas uma Supertaça ficou como registo, muitas eram as dúvidas que pairavam sobre a direção azul e branca. No topo da pirâmide, muito provavelmente seria consensual que a escolha do treinador era porventura uma das decisões com maior importância para Pinto da Costa nos últimos anos dentro do clube. Por aquilo que havia visto na época anterior, a direção portista não podia cometer o mesmo risco ao escolher um treinador sem perfil para enfrentar um desafio tão grande como o de comandar uma equipa como a do FC Porto.

    Foi então que surgiu o nome de Julen Lopetegui: nome desconhecido para a esmagadora maioria dos adeptos portistas, o treinador basco surgia no espectro futebolístico como um verdadeiro nome retirado dos antípodas daquilo que se esperaria ser o futuro a curto prazo no clube. Sem praticamente qualquer experiência a nível de clubes e com dois títulos europeus nas seleções jovens espanholas, Lopetegui apresentava-se em maio de 2014 cheio de ambição e de singrar num clube cuja dimensão possivelmente ele próprio desconheceria. Com um discurso firme, cedo se percebeu a linha que Julen queria seguir: sem medo da história do FC Porto, sempre demonstrou que informação e detalhes eram dois pormenores que nunca descurava. Também por isso, as primeiras conferências de imprensa demonstravam um treinador que, pelo menos fora das quatro linhas, denotava uma confiança inesperada tendo em conta o desafio com que se deparava e a inexperiência que manifestava perante um desafio tão aliciante.

    Depois de aparentemente dominar o “jogo falado”, que tantas vezes é importante num clube com a dimensão do FC Porto, chegava a altura de Lopetegui mostrar aquilo que para os adeptos era mais importante: a sua apetência dentro das quatro linhas. E bom, para isso, talvez fosse difícil acreditar, mesmo para o mais sonhador dos adeptos, em plantel melhor para fazer regressar o ceptro de campeão nacional ao museu do clube. Dezasseis jogadores novos, alguns emprestados dos melhores clubes da Europa, e tantas outras figuras cujo nome e qualidade faziam deste um dos melhores plantéis da história azul e branca. Olhar para o plantel da última época e compará-lo com o desta era simplesmente um exercício injusto, tamanha era a diferença de qualidade. Analisar aquilo que Pinto da Costa deu a Lopetegui mostrou desde sempre que esta era uma temporada diferente, porque, de facto, havia acontecido uma revolução cultural dentro do clube. Ao contrário do que havia acontecido em épocas transatas, onde basicamente os treinadores tinham que trabalhar com aquilo que o presidente lhes podia oferecer, desta vez tudo foi diferente. De facto, pensar em contratações como as de Marcano, José Ángel, Campaña, Oliver, Casemiro, Brahimi, Adrián e Tello mostra bem que, mais do que um simples treinador, Lopetegui apresentou-se aos adeptos como um verdadeiro manager.

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    Tello foi um dos nomes pedidos por Lopetegui
    Fonte: Página de Facebook do FC Porto

    Para o bem ou para o mal, a análise do sucesso ou insucesso do FC Porto 2014-2015 teria que passar por uma análise muito centrada em Julen Lopetegui. Afinal de contas, muito do que se veria na temporada era sinal de escolhas suas e de uma linha orientadora que sempre definiu. Ainda assim, e mesmo entre uma inexperiência gritante ao nível de clubes, o nível competitivo do futebol português demonstrava, para a maioria dos analistas, que a qualidade do plantel portista era mais do que suficiente para, com maior ou menor dificuldade, ser campeão.

    Os erros de Lopetegui

    Se bem se recorda, caro leitor, fui escrevendo ao longo da temporada aqui no Bola na Rede que a tarefa de Lopetegui não seria fácil. Apesar do conhecimento que demonstrava, sobretudo relativamente a aspetos extra-futebolísticos, entrar num campeonato como o português nunca seria uma tarefa fácil. Como fui dizendo, apesar de o nível competitivo da nossa liga ser geralmente baixo, o campeonato passa por vários momentos, o que leva a que, mesmo não podendo jogar sempre bem, as equipas tenham de se adaptar às circunstâncias. Por tudo isso, aquilo que seria de esperar era que, numa fase tão prematura da época – em que o acesso à Liga dos Campeões era tão urgente para o futuro da temporada e que o início do campeonato podia ser determinante na perceção do que seria a consistência da equipa –, Lopetegui pudesse formar um núcleo base com o qual enfrentasse as suas primeiras batalhas no nosso país.

    Esse foi o primeiro pecado do treinador espanhol. Ao longo dos primeiros meses da época, tentar adivinhar o onze portista era um verdadeiro exercício em que só com muita sorte à mistura se poderia acertar na resposta. Mesmo depois de ter conseguido o acesso à Liga dos Campeões, a equipa portista nunca caminhou em bases seguras no início da temporada. E isso, bem vistas as coisas, acabou, a meu entender, por ser fulcral para o mais que provável insucesso na época desportiva portista. Aliás, a conferência de imprensa de Lopetegui do último domingo fez-me precisamente pensar em tudo isso: mais do que na segunda volta, o FC Porto deu tiros nos pés no primeiro terço da competição. Analisar alguns dos maus resultados no Campeonato e na Taça de Portugal leva-nos à conclusão de que, para muito do que a equipa passou, Lopetegui teve infelizmente o papel principal. No meio de tantos jogos de início de época, com campeonato, Liga dos Campeões e Taça de Portugal, o treinador basco nunca decidiu aquilo que queria da época e sobretudo nunca decidiu e mostrou aquilo que queria da equipa.

    Por tudo isto, decidiu alterar meia equipa entre a goleada por 6-0 ao BATE Borisov e o jogo com o Boavista. Por tudo isto, decidiu mudar meia equipa para o jogo da Taça de Portugal com o Sporting simplesmente porque quatro dias depois ia ter um jogo com o Atlético de Bilbau. Por tudo isto, optou por alterar o sistema tático na Amoreira, frente ao Estoril, num jogo tradicionalmente difícil para a equipa. Bem vistas as coisas, e apenas com pouco mais de três meses de época, por culpa própria, Lopetegui já estava com três ou quatro pontos de desvantagem no Campeonato e sem a Taça de Portugal por disputar. E tudo porque a sua inexperiência veio ao de cima, e entre os episódios com Quaresma ou a rotação do plantel, a sua notoriedade junto do público já denotava que havia sido um tremendo falhanço a aposta em si.

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    FC Porto: 2014/2015 pode ser o segundo ano consecutivo sem títulos
    Página de Facebook do FC Porto

    Para além dos erros táticos que foi evidenciando, outro dos erros que fui apontando a Lopetegui foi o da excessiva obsessão que este teve com a Liga dos Campeões. Os casos acima demonstrados (jogos com BATE Borisov e Boavista e Sporting e Atlético de Bilbau) são apenas os exemplos mais claros daquilo que fui percebendo ao longo dos jogos. Essa é porém uma realidade não só intrínseca ao treinador mas aos próprios jogadores. Ao longo da época, não raras vezes vimos um FC Porto de duas caras em campo, sobretudo no que dizia respeito aos jogos do Campeonato e aos jogos da Liga dos Campeões. Na Liga Portuguesa, a bipolaridade entre jogos era uma evidência e também por isso nunca se sabia o que esperar do FC Porto – se uma goleada ou se uma exibição completamente sofrível. Na Champions, essas dúvidas existenciais nunca existiram: ao longo da prova mais importante de clubes a nível europeu, Lopetegui e os seus jogadores nunca se amedrontaram e nunca se fecharam num buraco tático. Mesmo não apanhando, com exceção ao Bayern de Munique, equipas de grande montra do futebol europeu, a imagem que o FC Porto deixou na Europa foi a de uma equipa altiva, com estofo e classe suficientes para mostrar ao mundo que a verdadeira mística havia regressado.

    Esta bipolaridade foi algo que critiquei por achar tão normal, tendo em conta o tipo de jogadores que Lopetegui e a estrutura portista haviam escolhido para esta temporada. Ao olhar para jogadores como Casemiro (emprestado pelo Real Madrid), Oliver (emprestado pelo Atlético de Madrid), Brahimi (jogador que havia feito um Mundial a top) e Tello (emprestado pelo Barcelona), era fácil perceber que, mesmo de forma inconsciente, a Liga dos Campeões haveria sempre de ser um dos objetivos primordiais para a equipa. Era inevitável que acontecesse, dado o nível de muitos jogadores, com qualidade mais do que suficiente para pisar outros palcos e outros campeonatos muito mais atrativos que o Campeonato português.

    Esse foi o segundo erro de Lopetegui: a falta de noção e de realidade, que nunca teve, que possivelmente nunca lho mostraram e que nunca foi transmitida aos jogadores. Ao longo da época, Lopetegui cometeu erros primários e que, na minha modesta opinião, são a principal causa pelos pontos de desvantagem que tem no campeonato. Depois de ter desperdiçado quatro pontos de forma ridícula com Boavista e Estoril, o FC Porto chegou ao jogo contra o Benfica, no Estádio do Dragão, com três pontos de desvantagem e com a noção de que uma derrota no clássico podia ser um verdadeiro momento chave no campeonato. Para os mais otimistas, esse foi um jogo onde tudo correu mal ao FC Porto e onde tudo correu bem ao Benfica. Em certa medida é verdade, tendo em conta que o adversário teve 100 % de eficácia e que os portistas não conseguiram concretizar nem uma das quatro ou cinco oportunidades flagrantes que tiveram nessa noite. Ainda assim, acho que esse jogo, que para muitos é o jogo chave deste campeonato, demonstrou mais uma vez a falta de estofo que ainda marcava este FC Porto. Nesse jogo, a equipa não soube controlar os ritmos e, depois de um início fulgurante de partida, deixou-se envolver no ritmo que mais interessava ao Benfica. Levou com um golo de lançamento lateral e outro com um erro de Fabiano. Tão simples quanto isso. E seis pontos de desvantagem.

    Feitas as contas, e mesmo com uma segunda volta toda por disputar, a diferença pontual para o rival, por altura natalícia, devia-se mais a erros de perceção do treinador e dos jogadores do que a outra coisa. É certo e é por demais evidente que o adversário foi beneficiado em alguns jogos: tenha sido contra o Boavista, Estoril, Rio Ave, Nacional ou Gil Vicente, é certo que o Benfica tinha pontos a mais no final da primeira volta. Não vou falar em “colinho” porque esse não é o meu estilo, mas parece-me óbvio e acredito que o seja para os verdadeiros adeptos (e não para os fanáticos) que isso aconteceu e que possivelmente, em termos justos, a diferença de seis pontos ao final da primeira volta era demasiada para aquilo que havia acontecido.

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    Jackson, capitão portista, é a maior figura do plantel de Lopetegui
    Fonte: Página de Facebook do FC Porto

    Segunda volta e o mistério da Ilha

    Lopetegui disse-o, e neste texto também eu já o reiterei: a segunda volta portista tem roçado a perfeição. Aliás, bem-feitas as contas, são já 15 os jogos disputados e apenas sete os pontos perdidos, com empates na Choupana e na Luz e derrota nos Barreiros, frente ao Marítimo. E por falar na pérola do Atlântico, foi aí que residiu o terceiro erro de Lopetegui. A meu ver, e já o disse a vários amigos, este é um Campeonato que tem três jogos chave e onde, em todos eles, o desfecho foi favorável ao Benfica. O primeiro, como não podia deixar de ser, foi o FC Porto-Benfica, da primeira volta. Mesmo com um resultado muito feliz, o que é facto é que os encarnados saíram do Dragão com seis pontos de avanço e uma vantagem que, à luz daquilo que é a Liga portuguesa e o seu nível competitivo, era bastante confortável. O segundo jogo decisivo, na minha opinião, foi o Sporting-Benfica da 20ª jornada. Se bem se recordam, apenas duas semanas antes, Benfica e FC Porto haviam fraquejado nos Barreiros e na Mata Real, respetivamente. Por essa mesma altura, os comandados de Marco Silva seguiam firmes na perseguição aos dois da frente e aquele duplo desaire dos adversários diretos havia acendido a chama do título para os lados de Alvalade. Como havia acontecido no Dragão, Jesus montou a sua equipa em Alvalade para, mais do que ir ao encontro do jogo, esperar por ele e pelo erro do adversário. Depois de ter conseguido o mais difícil, que era chegar à vantagem, o Sporting não a conseguiu manter e, no último lance da partida, Jardel deu o empate aos encarnados, permitindo-lhes manter a vantagem de sete pontos para os leões e vendo diminuir para quatro a vantagem para o FC Porto. Por último, o terceiro jogo decisivo e que é aquele, a par do jogo da Taça de Portugal com o Sporting, que me está mais atravessado na garganta: o empate na Choupana frente ao Nacional da Madeira, logo após o Benfica ter perdido em Vila do Conde.

    Este é, porventura, um dos jogos em que Lopetegui cometeu mais erros: mesmo enfrentando um adversário debilitado, sem Marco Matias e Tiago Rodrigues (o FC Porto não tinha Jackson), a equipa, mesmo sabendo que se podia colocar a apenas um ponto do primeiro lugar, nunca deu sinais de que queria verdadeiramente vencer. Por isso, a toada desse encontro foi lenta, demasiado lenta e previsível para uma equipa que sabia que só podia vencer e que, muito provavelmente, aquela seria a única verdadeira hipótese para encostar ao Benfica e pressionar os comandados de Jorge Jesus. Nesse jogo, nada disso aconteceu: aquilo que se viu foi um FC Porto amorfo, sem chama, sem intensidade e que, mesmo depois de se ter apanhado em vantagem, nunca soube controlar o jogo. Como se isso não bastasse, a substituição de Casemiro por Rúben Neves numa fase em que a equipa dava sinais de descontrolo emocional e tático foi apenas a cereja em cima de um bolo muito mal feito por Lopetegui e que deu num empate confrangedor e desolador. Aliás, se bem se recorda, eu próprio disse que, apesar de estar mais próximo em termos pontuais, o FC Porto estava, depois daquela jornada, mais longe do título. E isso porque, tal como em tantos outros momentos da época, a equipa e o treinador haviam demonstrado que não sabiam o que era o clube.

    O Bayern, o duelo com Jesus e o “manto protetor”

    Ao contrário do que possa parecer, não escrevi este texto apenas para carregar em cima de Lopetegui e dos jogadores. Aliás, uma das coisas que posso elogiar é que, de facto, esta época trouxe de regresso as boas exibições e o bom futebol ao Estádio do Dragão. A qualidade dos jogadores levou a que, não raras vezes esta época, a equipa tenha assinado um excelente futebol. Os jogos contra o Shakthar Donetsk em Lviv, contra o Atlético Bilbau no San Mamés, contra o Basileia, Bayern e Sporting no Dragão são apenas exemplos de partidas em que o perfume do futebol portista foi evidente. Em 2015, com a segunda volta e os oitavos e quartos-de-final à mistura, o FC Porto foi subindo de rendimento e parecia chegar à fase determinante da temporada em verdadeiro ponto de rebuçado. O problema é que, depois de ter desperdiçado uma oportunidade de ouro para se colocar a apenas um ponto do Benfica, a diferença de três pontos na classificação, com uma deslocação ainda ao Estádio da Luz, parecia uma montanha demasiado grande para a equipa ultrapassar, até tendo em conta que o principal adversário no campeonato ia igualmente subindo de rendimento, defensiva e ofensivamente.

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    Em alguns momentos da época, Lopetegui excedeu-se nas criticas
    Fonte: Página de Facebook do FC Porto

    E, por entre um campeonato por decidir e uns quartos de final muito bem encaminhados, é após os confrontos em Munique e na Luz que tudo se altera. E também aqui creio que o essencial é fazer uma análise ponderada: objetivamente, ficar eliminado pelo Bayern de Munique (mesmo depois de um 3-1 na primeira mão) é perfeitamente natural. E tanto mais é natural tendo em conta a importância das ausências de Danilo e Alex Sandro na equipa portista. Já no que diz respeito ao jogo da Luz, foi aqui que residiu mais um dos erros de Julen Lopetegui. Tal como escrevi no rescaldo ao clássico, a falta de ambição do treinador espanhol foi uma evidência tão natural como inadmissível tendo em conta aquilo que é o FC Porto. Ao colocar uma equipa com dois médios defensivos (Casemiro e Rúben Neves), com Evandro no meio e transportando Oliver para uma ala, deixando Herrera e Quaresma no banco, Lopetegui deu um sinal de medo que não pode nem deve ser apanágio de um clube tão habituado a jogar para vencer. Aí, como em tantas outras ocasiões, Lopetegui deu um tiro no seu próprio pé e mesmo tendo tentado emendar a mão na segunda parte, aquilo que fez no Estádio da Luz foi mais um dos seus erros táticos.

    E é depois desse jogo que aconteceu o capítulo final da época portista assinalada, como em tantas outras ocasiões, por Julen Lopetegui. Depois de ouvir o treinador adversário se enganar tantas vezes no seu nome, decidiu montar a tenda em pleno relvado da Luz, quase chegando a vias de facto com Jorge Jesus. Mais do que se falar do jogo propriamente dito – que verdade seja dita foi muito fraco em termos táticos – os adeptos do futebol apenas falaram da discussão entre Lopetegui e Jesus. Depois de dizer e repetir variadas vezes os erros que beneficiaram o Benfica, o erro de Jesus em dizer o seu nome foi o segundo argumento usado por Lopetegui. Bem vistas as coisas, e olhando até para a incongruência de Jesus, que disse que “só se engana nos nomes quando queria”, devo dizer que, quer nos erros de arbitragem quer neste assunto com Jorge Jesus, o treinador espanhol tem, em tese, razão. E esse é, porventura, e por incrível que pareça, mais um dos erros de Lopetegui: ao longo dos meses, fui dizendo que ele perdeu muitos dos pontos e até competições por erros primários de apreciação. Cometeu-os várias vezes, acredito eu, porque não percebeu coisas simples no futebol português. Não percebeu que simplesmente não se pode alterar consecutivamente a equipa de uma semana para a outra; não percebeu que, nos dois jogos com o Marítimo nos Barreiros, a equipa tinha que dar 200% para derrotar um adversário que contra o FC Porto joga de forma especial; não percebeu, nos clássicos contra o Benfica, que a inteligência tática tinha de se sobrepor a qualquer outra coisa.

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    O FC Porto tem de esperar por um duplo tropeção do Benfica para chegar ao título
    Fonte: Página de Facebook do FC Porto

    Lopetegui não percebeu nenhum desses momentos. E se dentro de campo não os percebeu, muito menos foi percebendo os momentos fora de campo. Lopetegui – e a estrutura portista devia tê-lo percebido – não devia ter entrado neste “duelo” com Jorge Jesus. Jornalisticamente falando, Jorge Jesus é daqueles treinadores com boa imprensa. Não há volta a dar: diga o que disser, o técnico benfiquista tem muitas das vezes o crivo jornalístico do seu lado. É inegável a sua qualidade enquanto treinador mas também é indiscutível que a proteção que recebe dos vários lados desta equação é e tem sido evidente ao longo dos últimos seis anos. Lopetegui não percebeu isso e quis entrar num duelo pessoal que nunca podia ganhar. E não podia ganhar porque também se foi queimando ao longo dos tempos, falando vezes de mais de erros de arbitragens e gastando vezes de mais um argumento que era tão mais válido quanto menos vezes fosse trazido à colação. Lopetegui nunca percebeu isso e deixou envolver-se em conferências de imprensa múltiplas onde as perguntas sobre Jesus, Benfica e arbitragens preenchiam quase todos os minutos. A essas perguntas, o treinador espanhol deveria ter ultrapassado com mestria. Nunca o fez porque nunca percebeu os momentos em que deveria falar e os outros em que deveria ter estado calado. E, verdade seja dita, eu próprio seria o primeiro a dar-lhe razão em relação ao “manto protetor” e à falta de categoria do rival se, durante a época, ele tivesse dado menos tiros nos pés e tivesse cometido menos erros.

    É que, bem vistas as coisas, por muita razão que Lopetegui tenha, nada me tira da cabeça que o FC Porto só não será campeão por culpa própria. E isto porque continuo a achar que é a melhor equipa portuguesa. Lopetegui demorou muito tempo a perceber isso e é por isso que, mesmo tendo alguma razão, vai ficar mal no final desta fotografia. É que, no meio de tantas falhas, torna-se difícil separar o trigo do joio. Espero é que ele aprenda isso. Seja ou não no FC Porto.

    Foto de capa: Página de Facebook do FC Porto

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