De bom a mau

Muito se tem debatido acerca das exibições do FC Porto. Na semana passada propus-me a elencar as 5 melhores exibições portistas no decorrer da presente época e o resultado final atesta bem a falta de qualidade que a equipa tem apresentado nos diferentes momentos do jogo. Muito mais do que os resultados (apesar de tudo o FC Porto está bem vivo em todas as competições) vai preocupando os adeptos a forma como a equipa se mostra inoperante e incapaz de apresentar um futebol de qualidade.

Aliás, mais do que ser incapaz de apresentar qualidade, o que vai realmente desassossegando as bancadas do Estádio do Dragão é a incapacidade de os jogadores apresentarem, no campo, uma qualquer ideia de jogo.

O presente artigo tem como objetivo colocar em perspetiva o futebol praticado pelo FC Porto na vigência de Sérgio Conceição. No fundo fazer o contraponto entre o FC Porto campeão nacional em 2018 e o atual.

Ora, o FC Porto campeão nacional, como já aqui referi anteriormente, não foi uma enciclopédia de bom futebol, mas desengane-se quem pensa que o clube ganhou esse título pela raça. A revolta e uma vontade enorme de vencer e impedir o penta do maior rival estiveram sempre presentes, é certo. No entanto, foi pela competência, do treinador e dos jogadores, que o FC Porto se reencontrou com os títulos. O FC Porto não era, como já o mencionei, uma máquina de bom futebol, mas era, sem sobra de dúvidas, uma equipa de autor. A marca do seu timoneiro estava bem patente em tudo o que a equipa fazia em campo e a forma como este foi sempre sabendo gerir os recursos à sua disposição para obter os resultados pretendidos foi soberba. Pujança física, busca incessante pela profundidade, largura dada pelos laterais, jogo interior dos extremos, poder aéreo ofensivo e defensivo, rápida e eficiente reação à perda de bola e uma alta rotação constante eram tudo impressões digitais de um treinador que recebeu em mãos um navio à deriva e o transformou, na altura, num porta-aviões.

Sérgio Conceição vai na 3ª época ao serviço do FC Porto
Fonte: FC Porto

O que se vê hoje em campo de cada vez que o FC Porto sobe ao relvado não é mais do que uma sombra desse campeão nacional. É verdade que muitos dos comportamentos se repetem e que vão perdendo efetividade por via da sua maior previsibilidade, todavia, não acredito que seja apenas isso. A ocupação dos espaços e a reação à perda de bola no momento defensivo são, hoje, muito mais desorganizadas. Movimentos e comportamentos outrora pendulares são, agora, anárquicos e indisciplinados. No momento ofensivo, faltam ideias. A circulação é lenta e a própria movimentação dos jogadores está mais estática. A busca da profundidade mantém-se como nota dominante, mas essa ideia parece esgotada, tornando-se demasiado previsível e, como tal, fácil de contrariar. O FC Porto vai vivendo de bolas paradas e de ações de inspiração individual e, também estas, vão sendo cada vez mais esporádicas. A juntar aos comportamentos técnico-táticos, também os níveis de agressividade me parecem ter baixado. Não estou com isto a atacar o profissionalismo de quem quer que seja, mas uma equipa que já conseguiu ser campeã parece mais confortável do que a equipa que procurava contrariar um ciclo de quatro títulos do principal rival. A roda no final do jogo, o bater com a mão no peito, o berro e as guerras com a comunicação social vão esgotando o seu efeito anímico e só uma ideia de jogo sólida e um processo coletivo eficiente são capazes de manter à tona uma equipa que se alimentou, muitas vezes, desse espírito de guerrilha. Urgem ventos de mudança.

Parece, portanto, que Sérgio Conceição foi mais competente a gerir e conduzir um plantel remendado do que um plantel construído à sua medida. Jogadores como Óliver Torres, que poderiam ser solução chave para alterar o rumo tomado pelo estilo de jogo da equipa, foi descartado e novos jogadores foram contratados com investimento recorde à mistura.

Posto isto, embora acredite que o treinador e as suas ideias se vão esvaziando e que o fim de linha deverá estar próximo, importa referir, ainda assim, que sou taxativamente contra uma qualquer ideia suicida de remover Sérgio Conceição do seu cargo antes do final da temporada. Primeiro, porque não vislumbro no mercado melhor solução e depois, porque o treinador portista já deu mostras de grande competência na adversidade. No final do ano fazem-se os balanços e as contas.

Foto de capa: FC Porto

Revisto por: Jorge Neves

Sabe Mais!

Sabe mais sobre o nosso projeto e segue-nos no Whatsapp!

O Bola na Rede é um órgão de comunicação social de Desporto, vencedor do prémio CNID de 2023 para melhor jornal online do ano. Nasceu há mais de uma década, na Escola Superior de Comunicação Social. Desde então, procura ser uma referência na área do jornalismo desportivo e de dar a melhor informação e opinião sobre desporto nacional e internacional. Queremos também fazer cobertura de jogos e eventos desportivos em Portugal continental, Açores e Madeira.

Podes saber tudo sobre a atualidade desportiva com os nossos artigos de Atualidade e não te esqueças de subscrever as notificações! Além destes conteúdos, avançámos também com introdução da área multimídia BOLA NA REDE TV, no Youtube, e de podcasts. Além destes diretos, temos também muita informação através das nossas redes sociais e outros tipos de conteúdo:

  • Entrevistas BnR - Entrevistas às mais variadas personalidades do Desporto.
  • Futebol - Artigos de opinião sobre Futebol.
  • Modalidades - Artigos de opinião sobre Modalidades.
  • Tribuna VIP - Artigos de opinião especializados escritos por treinadores de futebol e comentadores de desporto.

Se quiseres saber mais sobre o projeto, dar uma sugestão ou até enviar a tua candidatura, envia-nos um e-mail para [email protected]. Desta forma, a bola está do teu lado e nós contamos contigo!

Bernardo Lobo Xavier
Bernardo Lobo Xavierhttp://www.bolanarede.pt
Fervoroso adepto do futebol que é, desde o berço, a sua grande paixão. Seja no ecrã de um computador a jogar Football Manager, num sintético a jogar com amigos ou, outrora, como praticante federado ou nos fins-de-semana passados no sofá a ver a Sporttv, anda sempre de braço dado com o desporto rei. Adepto e sócio do FC Porto e presença assídua no Estádio do Dragão. Lá fora sofre, desde tenra idade, pelo FC Barcelona. Guarda, ainda, um carinho muito especial pela Académica de Coimbra, clube do seu pai e da sua terra natal. De entre outros gostos destacam-se o fantástico campeonato norte-americano de basquetebol (NBA) e o circuito mundial de ténis, desporto do qual chegou, também, a ser praticante.

Subscreve!

Artigos Populares

João Palhinha pode ser incluído no negócio por Rafael Leão

O Bayern Munique está interessado em garantir a contratação de Rafael Leão e pode oferecer ao AC Milan o nome de João Palhinha.

Carlos Alcaraz conquista Roland Garros após final histórica com Sinner

Carlos Alcaraz venceu este domingo Jannik Sinner por 3-2 e conquistou o Roland Garros 2025. Final histórica entre os dois tenistas.

Ema Gonçalves responde ao Bola na Rede e recorda goleadas por 28-0 e 10-0: «Das maiores batalhas»

Ema Gonçalves fez o rescaldo da vitória do FC Porto sobre o Real SC. Equipa azul e branca venceu a 3.ª Divisão Feminina.

Inter Milão com saída de avançado confirmada: «Vou sair»

Marko Arnautovic confirmou que vai deixar o Inter Milão a custo zero. Avançado não continua para a próxima época.

PUB

Mais Artigos Populares

Ema Gonçalves radiante com triunfo do FC Porto: «Não queremos a derrota e acreditamos sempre. É isso que este emblema nos obriga»

Ema Gonçalves fez o rescaldo da vitória do FC Porto sobre o Real SC. Equipa azul e branca venceu a 3.ª Divisão Feminina.

Daniel Chaves guiou FC Porto a título da 3ª Divisão 100% vitorioso: «Foi uma estreia como tinha de ser, com exigência»

Daniel Chaves fez o rescaldo da vitória do FC Porto sobre o Real SC. Equipa azul e branca venceu a 3.ª Divisão Feminina.

Primeira Liga: Os 9 candidatos ao Golo do Ano

A Liga Portugal revelou quais os candidatos a melhor golo do ano na Primeira Liga 2024/25. Francisco Trincão e Rodrigo Mora presentes.