E agora?

    Quem o contratou tinha o dever de saber as ideias que o novo técnico iria incutir no clube (quero acreditar que foi por desconhecimento). Nuno não enganou ninguém. Esta é a matriz de jogo em que acredita e a que tem implementado no clube. Mas a um clube grande exige-se mais. Exige-se posse, velocidade na circulação, jogo interior que potencie o jogo exterior, agressividade no ataque à baliza adversária e, acima de tudo, uma reação incisiva à perda de bola sempre na tentativa de a recuperar o mais perto possível da baliza adversária. O meio-campo deve ser a “sala de máquinas” da equipa e não um par de jogadores que passam um jogo a ver a bola passar-lhes por cima.

    Uma ideia de jogo de nada serve sem os seus intérpretes, os jogadores. E a reestruturação do plantel trazia outro tipo de desafios à tão proclamada estrutura do FC Porto. Os jogadores chegavam à janela de transferências desvalorizados no que ao mercado diz respeito e a saúde financeira do clube não era nem é a melhor, sendo que, no entanto, quem tem a disponibilidade para pagar 6M e 6,5M por Depoitre e Boly respetivamente, jamais se poderá esconder atrás de questões de ordem financeira. O plantel do FC Porto época 2016/2017 é, ao contrário do que se vai dizendo um pouco por toda a opinião pública e publicada, um plantel muito interessante e com várias soluções. Lembro que jogadores como Rúben Neves, André André, Corona ou Brahimi têm sido presença assídua ao lado de Nuno no banco.

    Ora uma equipa que se dá ao luxo de ter tanta qualidade sentada no banco de suplentes (pode discutir-se se deviam estar no banco ou no 11 titular) tem, imperativamente, que produzir mais e melhor. Ainda assim, há algumas carências. Faltam, na minha opinião, um lateral (Maxi e Layun apresentam  deficiências gritantes a defender), um central (Felipe e Marcano têm-se apresentado a um nível elevado mas faltam alternativas válidas) e um goleador (André Silva, está visto, não chega para todas as encomendas). De três necessidades apresentadas, foram, como referido no princípio do parágrafo, gastos 12,5M a tentar colmatar as duas últimas, sendo que a responsabilidade no fracasso da contratação de Depoitre já foi, vergonhosamente na minha opinião, despachada para o treinador. “Jamais contratarei um jogador que não conheça como fiz com o senhor Lopetegui”, dizia Pinto da Costa há uns meses atrás. “Não conhecia o jogador, foi contratado a pedido de Nuno”, afirmava a mesma pessoa após a contratação do belga. Haja coerência. Como diria o Dr. Pimenta Machado, antigo presidente do Vitória Sport Clube, no futebol o que hoje é verdade amanhã é mentira.

    Laurent Depoitre tarda em convencer os adeptos dos azuis e brancos Fonte: FC Porto
    Laurent Depoitre tarda em convencer os adeptos dos azuis e brancos
    Fonte: FC Porto

    Para além da vertente técnico-tática, sinto que dar relevo a um tema que vai, muito provavelmente, ferir susceptibilidades. O FC Porto tem perdido o poder e o respeito das mais altas instâncias do nosso futebol. Ao contrário do que sucedia anteriormente, os árbitros já não têm medo de errar contra o Porto e, na dúvida, a decisão começa a ser sempre desfavorável. É, por vezes, um assunto tabu mas, no futebol português, é um fator de extrema importância para a conquista de títulos e nessa corrida, o Benfica também vai na frente destacado e, por muito que custe aos portistas, o Sporting também já está num patamar bastante superior.

    Todos estes temas devem merecer, e com carácter de urgência, uma profunda reflexão por parte da SAD.

    Ora, aqui chegados verificamos que o FC Porto já foi eliminado da Taça de Portugal, a terceira prova mais importante da temporada mas que, se tivermos em conta a hipótese de chegar aos tão desejados títulos, sobe na hierarquia para o segundo posto, no Campeonato o fosso para o Benfica está em 5 pontos, sendo que os encarnados já vieram jogar ao Dragão, e na Liga dos Campeões, apesar de o apuramento para os oitavo-de-final estar à distância de uma vitória caseira frente ao Leicester de Inglaterra, a campanha tem sido bastante abaixo das expectativas. Mas o mais preocupante é mesmo a qualidade (ou a falta dela) de jogo da equipa. Não está a ser uma época, de todo, positiva.

    E agora? Perguntarão os portistas. Agora, apesar de tudo, não é a altura de apontar dedos ou de procurar responsáveis, muito menos de pensar numa possível alteração de equipa técnica. No final da época far-se-ão as contas e os portistas terão o direito e o dever de responsabilizarem quem entenderem. Ao dia de hoje ainda há muito para ganhar e (esperemos que não) muito a perder por isso, é hora de a nação portista se unir em torno da equipa, apoiar jogadores técnicos e dirigentes e catapultar o Porto para o tão desejado título de campeão nacional. Permitam-me utilizar um chavão: Contra tudo e contra todos. No final fazem-se as contas e apuram-se os heróis ou os réus.

    Foto de capa: FC Porto

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    Bernardo Lobo Xavier
    Bernardo Lobo Xavierhttp://www.bolanarede.pt
    Fervoroso adepto do futebol que é, desde o berço, a sua grande paixão. Seja no ecrã de um computador a jogar Football Manager, num sintético a jogar com amigos ou, outrora, como praticante federado ou nos fins-de-semana passados no sofá a ver a Sporttv, anda sempre de braço dado com o desporto rei. Adepto e sócio do FC Porto e presença assídua no Estádio do Dragão. Lá fora sofre, desde tenra idade, pelo FC Barcelona. Guarda, ainda, um carinho muito especial pela Académica de Coimbra, clube do seu pai e da sua terra natal. De entre outros gostos destacam-se o fantástico campeonato norte-americano de basquetebol (NBA) e o circuito mundial de ténis, desporto do qual chegou, também, a ser praticante.