Três épocas, 1 título e 4 treinadores. Foram três épocas de fracasso, de treinadores mal escolhidos e de plantéis mal construídos. Porventura, os erros terão começado um par de anos antes do colapso como, aliás, é normal em todos os setores de atividade.
A direção do Futebol Clube do Porto partia, à entrada para a nova época, para mais uma época de tudo ou nada. Incumbia-lhe escolher um novo treinador e reformular um plantel com carências evidentes. Mais uma vez, muita responsabilidade nos ombros de Jorge Nuno Pinto da Costa e dos seus pares. Pedia-se critério, ponderação e aposta na competência acima de qualquer outro valor. Pedem-se títulos.
No que toca à equipa técnica não se exigia portismo, não se exigiam provas dadas, não se exigia arte no que toca à comunicação, muito menos habilidades artísticas no que concerne ao desenho. A única coisa que todos os portistas exigiam era, como já mencionado, competência e alguém cuja ideia de jogo se compadecesse com a dimensão Porto.
O que se prometeu, nas palavras do Sr. Presidente, foi uma equipa a jogar à Porto. Mas o que é, afinal, uma equipa e um jogador à porto? Temos andado a ouvir falar sobre estes conceitos numa base quase diária e, por vezes, fico com a sensação de que se tem uma ideia errada, ou melhor, incompleta sobre este tipo de terminologia. Jogar à Porto engloba o querer, a raça, o esforço, a dedicação, a agressividade, a supremacia do emblema carregado ao peito sobre o nome estampado nas costas e muitas outras características de jogo relacionadas com a tal mística. Mas não pode ser só. Porque se jogar à Porto é apenas isso, então não é mais do que jogar à Paços de Ferreira, Arouca ou Chaves, com todo e o maior respeito que estas instituições me merecem.
Fala-se muito de de garra e de querer mas o jogar à FC Porto tem que aliar todas estas nuances a uma qualidade de jogo ao nível do clube que é, ou que provou ser ao longo das últimas dezenas de anos. Para além de correr mais do que o adversário, o Porto tem que jogar mais do que os seus oponentes, tem que ter dinâmicas defensivas e ofensivas que lhe permitam sobrepor-se a qualquer adversário que defronte, pelo menos no contexto nacional (ou no contexto europeu quando os adversários são o Leicester, o Copenhaga e o Brugge). Ao Porto exige-se que jogue como a equipa grande que é, que sufoque a equipa contrária e que reduza, efetivamente, o campo a 65 metros, parafraseando Nuno Espírito Santo.
No que toca ao líder, a aposta da SAD portista recaiu sobre Nuno Espírito Santo, portista de gema, um homem da casa. Mas terá a SAD feito uma análise detalhada sobre o treinador antes de o escolher ou utilizou o portismo como critério único e fundamental? Assim à vista desarmada, e utilizando evidência empírica, parece-me que a segunda hipótese se aproxima mais da realidade.
Atenção, eu não considero Nuno um treinador incompetente, longe disso. O que se passa é que a ideia de jogo do treinador do FC Porto está muito longe daquilo que se pretende e exige nas bancadas do Dragão (talvez já não tanto na tribuna). Desde que iniciou a sua carreira como homem de banco, depois de ter pendurado as luvas e de uma experiência como adjunto de Jesualdo Ferreira, Nuno tem montado insistentemente as suas equipas (Rio Ave e Valência) com base em princípios de jogo de equipa pequena, uma defesa sólida e jogo direto à procura da profundidade, aproveitando a velocidade dos seus avançados (exatamente como se tem visto no jogo do FC Porto e como se observou na partida de ontem).