«Estava tudo acertado com o Benfica, mas eu tinha dado a minha palavra ao Mourinho» – Entrevista BnR com Maciel

    – Vida atual e a possibilidade de regressar aos relvados –

    “Acho que o futebol português caiu muito de qualidade em termos de clubes grandes”

    BnR: A tua vontade era de terminar a carreira em Portugal?

    M: A minha vontade era essa. Agora tenho sonhos maiores de ver os meus filhos jogarem. Tenho um filho português e outro grego.

    BnR: Alinhas em nove clubes diferentes entre 2008 e 2015, com alguns momentos altos e muitos momentos baixos. Nesse período, perdeste o encanto pelo futebol?

    M: Comecei a perder quando o meu agente me colocou na cidade onde estou hoje, Cabo Frio. É uma cidade maravilhosa, cidade linda, mas quando ele me colocou no clube e eu vi as condições, comecei a desanimar com o futebol. Vi que não era aquilo que eu queria. Parecia que eu estava retrocedendo, voltando atrás desde o começo antes de ir para Portugal, a tentar buscar tudo de novo. Não tinha como buscar tudo de novo. Talvez se eu tivesse num clube de maior expressão aqui no Brasil, com certeza eu buscaria tudo mais rápido e mas fácil. Foi difícil, foi complicado chegar ao Cabofriense a meio do campeonato, com promessas desse empresário que me acabou deixando na mão e “meteu o pé”. Desanimei mais ainda. É assim mesmo, no futebol acontece dessas coisas.

    Maciel com a camisola do Guarany de Sobral em 2010
    Fonte: Guarany de Sobral

    BnR: Se pudesses voltar atrás terias feito algo diferente?

    M: A única coisa diferente que eu faria era ter permanecido a jogar em Portugal. Como eu consegui ser um dos melhores extremos no campeonato português. Na minha época eu acho que era mais difícil do que hoje. Na minha época estava surgindo Cristiano Ronaldo, Nani, Quaresma, Drulovic, João Pinto, grandes craques. Fui escolhido dois anos seguidos como melhor extremo, uma pelo FC Porto e outra pelo União de Leiria, ganhei até um prémio do golo mais bonito do campeonato. Sentia que fazia parte da história, na verdade eu fiz parte da história, pelo menos da história do Leiria. Talvez nisso teria voltado atrás para estar em Portugal.

    BnR: Há dois anos atrás ainda mantinhas o sonho de voltar a jogar futebol. Agora com 41 anos ainda sentes que tens as condições físicas necessárias ou já pousaste as botas definitivamente? 

    M: Eu tenho uma condição física que muitos falam que é condição física de jogador de 25 anos. Recebi uma proposta de um clube de 3.ª divisão que vai disputar o Campeonato Carioca, o Araruama. Eu até aceitei a proposta, juntamente com o meu filho mais velho, mas com essa questão da pandemia acabou não acontecendo. Mas o treinador falou que conta comigo. Talvez eu volte jogando futebol, condições eu tenho de certeza. Talvez não tenha as mesmas condições de dez, quinze anos atrás, mas consigo ajudar o clube e o presidente que me fez esse pedido. Talvez eu voltarei sim. Eu tenho um Centro de treinamento de Futevólei e todos se perguntam como é que eu consigo jogar dez a doze partidas por dia mantendo o mesmo ritmo. Nunca deixei de ter vontade de treinar. Uma vez o Secretário mandou mensagem para mim “Você não fica velho? Não engorda?”. Receber elogios de alguém que já jogou no Real Madrid e no FC Porto é sensacional.

    BnR: Sei que tens curso de treinador e que gostavas de um dia começar como adjunto numa equipa e ganhar experiência. Para quando podemos esperar o Maciel como treinador adjunto?

    M: Eu tenho a carteira profissional de treinador de futebol. Vamos ver se aparece oportunidade, mas com esse centre de treinamento de futevólei eu estou mais preocupado em dar aula para os meus alunos. Se houver oportunidade no futebol, com certeza que eu vou passar o que aprendi com os melhores. Quando tiver oportunidade de pegar num clube, vou utilizar os melhores e vou fazer aquilo que os treinadores honestos fizeram comigo. Você coloca os melhores a jogar, não importa se o empresário dele é A ou B, porque um dia, esses mesmos melhores vão falar bem de você e vão perceber que você os ajudou honestamente e não por interesse algum.

    BnR: Hoje em dia ainda tens algum contacto com Mourinho?

    M: Hoje em dia não tenho muito. Eu também fico muito na minha, não fico procurando o contacto deles. Até com o Derlei é difícil que é um grande amigo meu, já faz um tempo que eu não falo com ele. Até com o Carlos Alberto que mora aqui no Rio, também não tenho muito contacto e também era uma pessoa que ficava na minha casa e eu ficava na dele. Eu fico mais na minha com a minha esposa e com os meus filhos, mas vai chegar uma hora que eu vou ter que aparecer. Vou ter que parar de passar despercebido.

    BnR: Continuas a acompanhar o campeonato em Portugal?

    M: Mais ou menos. Não me dá muita vontade de assistir. Acho que o futebol português caiu muito de qualidade em termos de clubes grandes. Vejo hoje em dia um FC Porto perdendo com um clube pequeno, sem tirar mérito aos clubes pequenos. Quando você via um FC Porto jogar com um clube pequeno, você já sabia que eram três pontos, principalmente em casa. Agora você vê clubes pequenos indo na casa do FC Porto, SL Benfica e Sporting CP, até do próprio SC Braga, que ganham aos grandes e que é o mesmo que ganhar a um clube pequeno. É uma mística que não pode acabar, acho que os clubes grandes têm de olhar melhor para as suas contratações porque muitas vezes os atletas que estão em clubes pequenos fazem melhor do que aqueles que vieram de clubes grandes. Tirar o exemplo de Mourinho e Cajuda.

    BnR: Surpreendeu-te o sucesso de JJ no Brasil?

    M: Não, não me surpreendeu a questão de ele pôr o Flamengo a jogar. Já sabia que era um excelente técnico e se os jogadores compreendessem o que ele queria dentro e fora de campo, com certeza que ele ia ter sucesso. Até mandei mensagem para ele antes de ele ter tido todas essas conquistas que dizia “Mister, se os jogadores fizeram tudo o que você pedir e se conseguir fazer com que os jogadores brasileiros, que são preguiçosos, corram e respeitem sua tática, com certeza tudo o que você pedir para eles vai dar certo”. E ele conseguiu entrar na mente deles e colocá-los a jogar.

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    Nélson Mota
    Nélson Motahttp://www.bolanarede.pt
    O Nélson é estudante de Ciências da Comunicação. Jogou futebol de formação e chegou até a ter uma breve passagem pelos quadros do Futebol Clube do Porto. Foi através das longas palestras do seu pai sobre como posicionar-se dentro de campo que se interessou pela parte técnica e tática do desporto rei. Numa fase da sua vida, sonhou ser treinador de futebol e, apesar de ainda ter esse bichinho presente, a verdade é que não arriscou e preferiu focar-se no seu curso. Partilhando o gosto pelo futebol com o da escrita, tem agora a oportunidade de conciliar ambas as paixões e tentar alcançar o seu sonho de trabalhar profissionalmente como Jornalista Desportivo.