«Estava tudo acertado com o Benfica, mas eu tinha dado a minha palavra ao Mourinho» – Entrevista BnR com Maciel

    – A discussão com Vitor Fernandez e a intransigência do FC Porto na sua saída –

    “Vitor Fernandez queria se desfazer dos atletas que o Mourinho trouxe”

    BnR: No ano seguinte, o FC Porto vive um ano muito instável no pós-Mourinho e acabas por fazer apenas dois jogos com Victor Fernandez e Del Neri. Qual destes dois treinadores prejudicaram mais a tua segunda e última época no FC Porto?

    M: O Victor Fernandez foi quem me prejudicou mais. Eu tive uma discussão muito grande com ele. Eu acho que fui o único jogador que teve a discussão mais forte com ele. Comigo parecia que era perseguição. Lembro que teve um jogo amistoso contra a equipa B do Porto, eu fiz um golo de meia bicicleta, até o Pinto da Costa estava assistindo e eu gritei na cara do treinador “Joguei e vou jogar. Se você não me quiser colocar o problema é seu porque eu vou continuar aqui treinando para o resto da vida”. No outro jogo da Taça ele me colocou contra o Vitória de Guimarães e ele “puxava o saco” para o lado do Quaresma e do Postiga. Não sei se era pelo facto de ser o mesmo empresário e o meu empresário era diferente, só sei que comigo ele não queria mais nada. Houve um treino em que saiu a convocatória e eu não fui convocado e o Vítor Baía e o Jorge Costa me pediram calma. Eu falei “Eu sou homem, eu sei o que eu fiz no campeonato passado, eu sei o que eu fiz no União de Leiria, eu sei da minha qualidade, ele trouxe o Quaresma tudo bem a gente pode disputar a posição, ele pode trazer outro atleta também não tem problema, mas eu não acho bem o que ele está fazendo comigo”. Ele nem olhava na minha cara, ele estava no FC Porto com os jogadores que tinham ganho tudo, o que parecia para muitos jogadores como eu e o Benni Mccarthy, era que ele queria se desfazer dos atletas que o Mourinho trouxe. Talvez tenha mandado o Jorge Costa e o Vítor Baía porque eles já estavam há muitos anos no clube. Eu fui lá na sala dele, chamei alguém para traduzir e perguntei para ele: “Você tem algum problema comigo? Se tiver me fala que eu vou embora, não tem problema. Eu estou aqui no FC Porto para jogar e para contribuir. Eu sei que não tenho o direito de chegar a você e pedir para você me pôr a jogar, mas pelo menos tem que me dar alguma satisfação”. Mas ele não falava nada, completamente nada. Era um treinador que tinha uma cultura completamente diferente do que eu te falei antes, de quando cheguei a Portugal em relação aos treinadores portugueses. Pelo menos os treinadores portugueses, quando me tiravam e me colocavam tinham coragem para dizer “Maciel, hoje você está mal. Hoje não foi um bom dia. Vai ficar de fora porque não jogou bem, então busque novamente a sua vaga que você vai jogar”. E ele [Victor Fernandez] não teve a coragem de falar e isso me dececionou muito. Eu comecei a perder a vontade de jogar mais.

    BnR: Acabava por faltar motivação…

    M: Faltava motivação, eu não treinava bem e não corria. O pior disso tudo é que eu não tinha ninguém perto para conversar comigo. Acho que a única pessoa que conversou uma ou duas vezes comigo foi o Antero Henriques, mas eu já tinha falado para ele “Isto aqui é mesmo jogada de empresário, você sabe disso. Eu sei que tem muitos jogadores aqui de um empresário só, meu empresário é outro e ele não me vai colocar a jogar”. Ele falou para eu ter calma, o próprio Secretário disse para eu ter calma. Mas eu falei “Não tenho mais paciência para isso porque de onde eu saí, eu busquei tudo que eu tenho hoje com o meu suor e o meu talento”. A partir do momento em que eu o vejo me deixando de lado, eu não ia ficar ganhando dinheiro “roubando”, por isso era melhor eu ir para outro clube, para jogar e ser visto, porque o jogador que não é visto não vale a pena ficar no clube.

    BnR: Algo de muito estranho teve de acontecer para que uma equipa que no ano anterior vence a Champions no ano seguinte acaba por nem ser campeã nacional…

    M: Uma coisa que eu vi que não me entrou muito bem na cabeça foi quando o Deco foi para o Barcelona, o Carlos Alberto era o craque da equipa e tinha tudo para assumir o meio-campo, ele tirou o Carlos Alberto do nada e colocou o Diego. Não tenho nada contra o Diego, mas o Carlos Alberto naquela época estava jogando muito mais e estava muito bem adaptado ao futebol português. Até o próprio Luís Fabiano. Como é que você vai comparar o Luís Fabiano com o Benni Mccarthy, que era um ídolo do clube e o deixa sair para trazer o Luís Fabiano que, com todo o respeito a ele que é meu amigo, jogou 30 jogos e fez um golo? Como é que ele o conseguiu manter 30 jogos, ele faz um golo e não dá oportunidade para os outros? Mas seguiu a vida. No momento em que o Jesualdo chegou eu já estava saindo, o próprio Jesualdo falou comigo e disse “Eu queria que você ficasse, mas a diretoria já me falou que você já está indo embora. Você era uma peça que eu queria aqui no clube”. Para você ver a diferença do treinador português. Eu fiquei muito feliz pelo respeito e pela atitude dele.

    BnR: Aquando da tua saída, tiveste perto de assinar pelo SC Braga e pelo Vitória de Guimarães, mas o FC Porto mostrou-se intransigente. Achas que a tua saída do clube foi mal gerida?

    M: Primeiro teve o União de Leiria novamente, mas eu não queria voltar. Depois teve o Braga e o Vitória de Guimarães. Na proposta do Vitória de Guimarães estava tudo acertado. Eram três a quatro anos de contrato, eu aceitei a proposta, na altura até se falou nos jornais que eu não aceitei, era mentira, eu aceitei a proposta, era um salário bom e eu falei para as pessoas que eu queria jogar. O treinador era o Cajuda, um treinador que me conhecia bem, que depois me perguntou “Você não quis vir para cá?”, mas eu disse “Nada disso professor, eu sempre quis ir para aí”. Surgiu a oportunidade de ir para o SC Braga, o Salvador até já tinha falado comigo desde os tempos do FC Porto com o Mourinho e que um dia queria que eu jogasse no SC Braga. Como o FC Porto não aceitou a proposta do Vitória de Guimarães, eu acabei aceitando a proposta do SC Braga. Tive lá por empréstimo com opção de compra, mas o FC Porto acabou por não me vender. Não entendi o porquê de não terem aceitado a opção de compra, até que eles acabaram me liberando para o União de Leiria.

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    Nélson Mota
    Nélson Motahttp://www.bolanarede.pt
    O Nélson é estudante de Ciências da Comunicação. Jogou futebol de formação e chegou até a ter uma breve passagem pelos quadros do Futebol Clube do Porto. Foi através das longas palestras do seu pai sobre como posicionar-se dentro de campo que se interessou pela parte técnica e tática do desporto rei. Numa fase da sua vida, sonhou ser treinador de futebol e, apesar de ainda ter esse bichinho presente, a verdade é que não arriscou e preferiu focar-se no seu curso. Partilhando o gosto pelo futebol com o da escrita, tem agora a oportunidade de conciliar ambas as paixões e tentar alcançar o seu sonho de trabalhar profissionalmente como Jornalista Desportivo.