FC Porto | Dragões com areia na engrenagem

    Poucos dias depois das comemorações dos 120 anos dos Dragões, o reduto do FC Porto vestiu-se de gala para a primeira grande noite europeia da temporada. O duelo com o Club Atlético de Madrid, adversário reconhecidamente difícil, antevia-se equilibrado.

    Afinal, era o encontro entre os líderes dos campeonatos ibéricos e ambas as equipas conservavam um registo de invencibilidade até à data. Mais do que isso, este jogo representava o primeiro grande teste de Paulo Fonseca enquanto treinador do Porto, no Porto.

    Os azuis e brancos entraram com uma postura dominadora e pressionante, chegaram ao golo e foram para o intervalo com uma justa vantagem no marcador. No segundo tempo, os colchoneros cresceram e chegaram ao empate; o FC Porto reagiu, procurando recuperar a liderança, mas acabaram por ser os espanhóis a chegar ao triunfo, na sequência de um livre “à Zanetti” perto do final.

    Após o apito do árbitro, o placard registava 1-2 e os dragões tinham voltado a perder no Dragão para a Liga dos Campeões, o que já não acontecia desde os tempos de Jesualdo Ferreira.

    A equipa apresentou alguns momentos de bom futebol e até subiu ligeiramente o rendimento face ao que já havia produzido. No entanto, mais do que a derrota, eventualmente fortuita, o que preocupa os portistas é o facto de esta ser o espelho de um novo FC Porto que ainda não conseguiu encontrar-se, que continua abaixo das expectativas e a quem se exige que melhore rapidamente o nível futebolístico. Depois do primeiro desaire, há que fazer um balanço e perceber quais são as areias na engrenagem.

    Fonte: FC Porto

    A grande mudança que o novo treinador operou na equipa foi a alteração da mecânica do meio-campo e isso teve repercussões em todos os sectores do terreno. Durante anos e anos, os dragões jogaram com um tampão à frente dos centrais (Costinha, Paulo Assunção, Fernando) e dois médios à sua frente. Paulo Fonseca decidiu inverter o triângulo do meio-campo e passar a jogar com o famoso “duplo pivot” e um “n.º10”.

    No papel, a ideia até pode ser interessante: libertar os laterais para dar largura à equipa; libertar o médio mais adiantado para criar jogo na frente e permitir aos extremos procurar posições interiores, criando superioridade numérica junto à área adversária.

    No entanto, esta estratégia não está a surtir os efeitos desejados: os laterais não têm conseguido desequilibrar como se previa (Alex Sandro ainda está à procura da melhor forma e Danilo, que tem melhorado, continua longe valer 18M€); há uma cratera entre Fernando/Defour e Jackson, onde aparece um Lucho demasiado sozinho e incapaz de ligar os dois sectores; Defour parece desenquadrado neste novo desenho e não se consegue soltar para missões ofensivas, uma vez que tem de compensar as constantes subidas de Fernando e Otamendi; Fernando é obrigado a transportar a bola com frequência e a assumir tarefas que não está habituado nem habilitado a desempenhar; e Jackson está constantemente desapoiado e sem margem para explorar a sua formidável capacidade de pivot ofensivo.

    No fundo, a equipa está menos coesa: defensivamente, porque surge demasiadas vezes descompensada; e ofensivamente, porque o meio-campo parece sistematicamente desligado do ataque.

    Quando chegou ao clube, Paulo Fonseca disse que pretendia explorar o jogo interior e deixou claro durante a pré-época que era o 4-2-3-1 que pretendia implementar. Até ver, parece não ter sido a escolha mais sensata.

    Como a maior parte dos opositores do FC Porto joga com as linhas muito recuadas e próximas entre si, povoando maioritariamente o centro do terreno, as diagonais e os movimentos interiores dos extremos não estão a ser suficientes para auxiliar Lucho no apoio ao ponta-de-lança e estão a retirar largura à equipa, incapacitando-a de esticar o jogo pelas faixas.

    Parece-me que a chave para desbloquear este emaranhado táctico em que se tornou o FC Porto passa por subir Defour para junto de Lucho. Esta pequena variação no miolo beneficiaria substancialmente as prestações de Fernando (joga melhor sozinho atrás do que com o belga a seu lado), do próprio Defour (que se sente demasiado amarrado neste seu novo papel e pode passar a desequilibrar, em vez de se limitar a equilibrar se passar a actuar mais adiantado), de Lucho (que precisa de alguém a seu lado para render o máximo; não consegue, sozinho, ocupar uma zona tão grande do campo), de Jackson (que passaria a ter os apoios necessários para voltar às suas performances de excelência) e de toda a defesa (habituada a jogar com Fernando à sua frente). Não acredito, porém, que Paulo Fonseca abdique das suas ideias e regresse à fórmula antiga.

    Fonte: FC Porto

    É imperioso que, de uma maneira ou de outra, se reconquiste a solidez defensiva, a capacidade de gerir a posse de bola e os ritmos do jogo, a largura no ataque e a proximidade entre os médios e os avançados. Tudo isto tem faltado aos dragões e tudo isto tem redundado em exibições com laivos de mediocridade. Resta à equipa técnica perceber o que está a correr menos bem e corrigir os erros; resta aos portistas esperar que a equipa assimile rapidamente esta nova identidade e eleve a qualidade do seu jogo o quanto antes.

    P.S.: Não posso terminar sem fazer referência à inauguração do Museu do FC Porto, a última grande obra que Pinto da Costa sonhava deixar concluída no seu “reinado”. Ao projectar um museu carregado de interactividade e altamente inovador no panorama internacional, os dragões deram, uma vez mais, provas do seu vanguardismo, da sua singularidade e da sua competência. Estou ansioso por visitar este espaço de memórias que será, de hoje em diante, um ponto turístico de referência na cidade do Porto.

     

    Foto de Capa: Diogo Cardoso/Bola na Rede

    Sabe Mais!

    Sabe mais sobre o nosso projeto e segue-nos no Whatsapp!

    Bola na Rede é um órgão de comunicação social de Desporto, vencedor do prémio CNID de 2023 para melhor jornal online do ano. Nasceu há mais de uma década, na Escola Superior de Comunicação Social. Desde então, procura ser uma referência na área do jornalismo desportivo e de dar a melhor informação e opinião sobre desporto nacional e internacional. Queremos também fazer cobertura de jogos e eventos desportivos em Portugal continental, Açores e Madeira.

    Podes saber tudo sobre a atualidade desportiva com os nossos artigos de Atualidade e não te esqueças de subscrever as notificações! Além destes conteúdos, avançámos também com introdução da área multimídia BOLA NA REDE TV, no Youtube, e de podcasts. Além destes diretos, temos também muita informação através das nossas redes sociais e outros tipos de conteúdo:

    • Entrevistas BnR - Entrevistas às mais variadas personalidades do Desporto.
    • Futebol - Artigos de opinião sobre Futebol.
    • Modalidades - Artigos de opinião sobre Modalidades.
    • Tribuna VIP - Artigos de opinião especializados escritos por treinadores de futebol e comentadores de desporto.

    Se quiseres saber mais sobre o projeto, dar uma sugestão ou até enviar a tua candidatura, envia-nos um e-mail para [email protected]. Desta forma, a bola está do teu lado e nós contamos contigo!

    Subscreve!

    PUB

    Artigos Populares

    Sérgio Conceição criticado em Itália: «O meu filho a dormir com um homem… Cuidado, ele é um homem a sério»

    Sérgio Conceição está a ser alvo de críticas após uma frase polémica sobre o filho, Rodrigo Conceição. O técnico foi confrontado com o alegado interesse em João Félix.

    Paulinho renova contrato com o Toluca até 2028

    Paulinho renovou contrato com o Toluca. O avançado internacional português prolongou o seu vínculo até 2028.

    Vasco Matos apontado como sucessor de Artur Jorge no Botafogo

    Vasco Matos é alvo do Botafogo para o cargo de treinador. O técnico do Santa Clara pode suceder a Artur Jorge.

    Hugo Oliveira responde ao Bola na Rede: «Só depois de sofrer o 2º golo é que começámos a assentar no nosso jogo»

    Hugo Oliveira analisou a derrota do Famalicão diante do Benfica. Técnico famalicense respondeu à questão do Bola na Rede.

    Lille vence Nice e aproveita deslize do AS Mónaco para se isolar no 3º lugar da Ligue 1

    O Lille bateu o Nice por 2-1 na 18ª jornada da Ligue 1. Conjunto de Bruno Genésio assume terceiro lugar da competição.