A forma e as formas de conjugar os avançados do FC Porto

    15 golos marcados em 11 jogos na Primeira Liga nesta temporada. É este o retrato algo insípido de um FC Porto que é apenas o nono melhor ataque da competição, nada usual tendo em conta o histórico da competição e as armas ofensivas do FC em comparação com os restantes clubes.

    O problema do FC Porto é mais coletivo do que individual. A equipa de Sérgio Conceição apresenta processos ofensivos demasiado previsíveis e tem tido dificuldades em criar, especialmente contra blocos baixos. As individualidades vão resolvendo jogos e varrendo os problemas para debaixo do tapete, mas este está cada vez mais curto e já deixa escapar sinais preocupantes.

    Gonçalo Borges, no início da temporada, e Francisco Conceição, num passado mais recente, têm-se assumido como principais elementos desequilibradores, encarando adversários no drible e conseguindo criar nos últimos minutos das partidas. A velocidade e capacidade de atacar o espaço de Wenderson Galeno tem resolvido, mas transformou-se num problema para o FC Porto, demasiado dependente da capacidade do luso-brasileiro atacar o espaço. Stephen Eustáquio reinventou-se e, pisando terrenos mais adiantados no campo, trouxe golo ao seu registo de jogo muito pautado pela capacidade de manutenção de bola.

    Os principais destaques ofensivos do FC Porto nesta temporada não são propriamente avançados, o que levanta questões tanto ao volume ofensivo dos dragões, que produzem menos e, consequentemente, oferecem menos oportunidades aos seus avançados. Sérgio Conceição já procurou utilizar diferentes sistemas táticos para resolver os problemas. Já procurou povoar o meio-campo num 4-3-3, já procurou soltar os desequilibradores por fora (extremos adaptados a alas a fazer todo o corredor), protegendo-os com três defesas num 3-5-2, mas voltou a fixar-se no 4-4-2 ‘conceiçãoniano’ que tem marcado a maioria do seu percurso no FC Porto.

    Pepê no jogo da Supertaça entre o FC Porto e o SL Benfica.
    Fonte: Paulo Ladeira/Bola na Rede

    Este 4-4-2 no papel pode não conjugar dois pontas-de-lança no lugar dos avançados. Pepê, numa tentativa frustrada de substituir Otávio, a principal referência técnica e criativa por dentro dos últimos largos anos e maior perda da temporada, foi enquadrado por dentro nas costas do ponta de lança. Chegou como extremo esquerdo, foi adaptado para fazer todo o corredor direito e surgiu no início da temporada como principal apoio ao avançado. O brasileiro, desequilibrador por natureza, com uma capacidade de acelerar em velocidade e de arrancar no drible que não encontram equivalência na definição, está longe de ser um criador como Otávio. Até pode ter a mesma capacidade de render em diferentes posições, mas não tem a mesma capacidade de puxar no FC Porto e, de forma isolada, fazer a equipa avançar em campo de forma sustentada.

    Não há dúvidas sobre a melhor dupla do ataque do FC Porto. Mehdi Taremi em apoio, com liberdade para baixar, arrastar defesas e abrir espaços como uma espécie de 9,5 teve a sua melhor versão no FC Porto. A espaços é visível a influência do iraniano, que continua a manter intactas as capacidades técnicas e a inteligência para ver o jogo, mas o avançado dos dragões ainda não foi capaz de encontrar a melhor forma. A transferência falhada no fim do mercado para o AC Milan e o último ano de contrato podem ter impacto e mostram a importância do lado mental.

    Ao seu lado, se o mundo fosse linear, brilharia Evanilson. O avançado brasileiro é o complemento perfeito para Mehdi Taremi. É felino dentro da área e movimenta-se bem em zonas diferentes às ocupadas pelo iraniano: ataca a linha defensiva em movimentos de rutura e, se Mehdi Taremi cria espaço entrelinhas por obrigar os médios a subir, Evanilson convida os defesas a descer. Mesmo quando não recebe a bola, cria espaços para os colegas. Apresenta vários recursos na arte da finalização. Os problemas físicos constantes impedem um rendimento mais regular, mas em condições normais Mehdi Taremi e Evanilson são a melhor dupla do ataque do FC Porto. Em condições anormais também.

    Evanilson tem sido um dos destaques do FC Porto na Europa.
    Fonte: Diogo Cardoso/Bola na Rede

    Há no banco do FC Porto outras três opções para estas duas posições. Além da qualidade, há profundidade no plantel que, se por um lado deixa a Sérgio Conceição opções constantes para ajustes na abordagem aos jogos, por outro restringe o timoneiro dos dragões a um modelo de jogo que conjugue dois jogadores na frente por ser algo impensável deixar quatro avançados no banco (ou na bancada).

    Dos três suplentes, e embora seja o com menor tempo de jogo, Danny Namaso parece ser a opção potencialmente mais interessante, até pela provável saída de Mehdi Taremi no final da temporada. O avançado inglês tem passado por entre os pingos da chuva, mas está na calha para suceder ao iraniano como titular no FC Porto. Movimenta-se com inteligência (também nas faixas), abre espaços e percebe os ritmos do jogo para acelerar ou pausar. Soma apenas 299 minutos repartidos em oito jogos (na sua maioria na condição de suplente), mas vem exigindo minutos. Estreou-se a marcar contra o modesto CDC Montalegre na Taça de Portugal, num jogo em que deixou uma carta de apresentação fiel a si mesmo. Cria oportunidades, procura ter jogo e é um elemento ativo na frente do ataque. Não é um goleador, mas permite à equipa estar mais próximo do golo.

    Fran Navarro chegou ao FC Porto como uma das contratações dos dragões para a nova temporada. O avançado do Gil Vicente FC foi uma oportunidade de mercado aproveitada pelo emblema da cidade Invicta, mas acabou por ocupar um espaço no plantel que já tinha dono: o de Toni Martínez. Não pela nacionalidade, não pelo perfil, mas pelo contexto em que ambos podem ser úteis ao FC Porto.

    Tanto Fran Navarro como Toni Martínez são avançados que são vistos como úteis em cenários mais complicados para o FC Porto, com defesas muito fechadas e com cenários de cruzamentos mais potenciados. Fran Navarro não é Toni Martínez, mas ambos ocupam o mesmo espaço no plantel. Tendo em conta a necessidade de reforçar outras posições (a linha defensiva está algo carenciada), não há grande explicação param os sete milhões gastos no espanhol.

    Fran Navarro estreou-se a marcar com a camisola do FC Porto.
    Fonte: Diogo Cardoso/Bola na Rede

    Fran Navarro soma 273 minutos em nove jogos com a camisola do FC Porto e quebrou finalmente o enguiço com um golo contra o Montalegre. É um avançado que vive das diagonais nas costas dos defesas, da capacidade de procurar o melhor posicionamento para finalizar e do trabalho que faz para a equipa, revelando-se uma força da natureza neste aspeto. Ultrapassar a barreira do primeiro golo pode ter desbloqueado algo no jogo do espanhol. Toni Martínez marcou dois em 327 minutos repartidos por nove partidas. É uma referência mais direta que vive da agressividade nos duelos e da vontade de jogar todos os lances. Não é um jogador mais técnico, mas procura esconder as limitações com base na alma. Sem serem iguais, têm sido usados nos mesmos cenários (sendo que Fran Navarro nem tem o perfil indicado para tal) sempre com impacto reduzido.

    Os problemas do FC Porto estão longe de ser individuais, mas quando o coletivo apresenta dificuldades, as individualidades são obrigadas ao resgate. E estas até têm surgido – os dragões estão a três pontos do primeiro lugar –, mas não têm sido os nomes do centro do ataque. Resolver a questão dos avançados é uma das muitas prioridades que Sérgio Conceição tem.

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