Gonçalo Borges | A temporada da confirmação?

    A 19 de setembro de 2022 quando venceu o “Dragão de Ouro” de atleta revelação, o jovem internacional português Gonçalo Borges aproveitou o seu discurso para agradecer ao presidente do Futebol Clube do Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa, por acreditar nele e aos “misters” Sérgio Conceição, Vítor Bruno e Siramana Dembélé, por, segundo o próprio: “todos os dias me fazerem estar mais perto do que sou e por melhorarem a minha arte”.

    Um ano mais tarde desta afirmação e já estabelecido no plantel principal do FC Porto, será este o momento para que Sérgio Conceição lhe retribua o agradecimento e que lhe dê espaço para mostrar a sua arte ao mundo do futebol?

    Natural de Lisboa, Gonçalo Borges é um extremo polivalente português de 22 anos, com passagem pelas escolinhas do GC Corroios, SC Sporting e SL Benfica antes de chegar à sua atual casa, o FC Porto, onde está desde 2015. 

    Sentindo-se estagnado e procurando potencializar toda a sua qualidade técnica, mudou-se para a invicta para representar o escalão de iniciados (sub-15).

    Fruto da distância e da falta do conforto familiar, o início do seu percurso de dragão ao peito não foi nada fácil, vendo-se, da mesma maneira, obrigado a contrariar a sua inicial desvantagem física com outros atributos de modo a garantir uma total afirmação, que se veio a confirmar nos escalões seguintes.

    Desde a sua chegada ao FC Porto, realizou mais de 200 jogos nos diferentes escalões, com particular destaque para a equipa B onde somou 11 golos e oito assistências nos 78 jogos disputados (número impressionante para um atleta de apenas 22 anos), tendo já conquistado um campeonato nacional de juniores, uma Liga portuguesa, uma Taça de Portugal, uma Taça da liga e uma Youth League.

    Estreia-se como sénior pela mão de Sérgio Conceição na época de 2021/2022 tendo já disputado 26 jogos, divididos em três épocas, num processo que teve o clímax no dia 20 de agosto onde, em pleno Estádio do Dragão, fez a assistência (uma das duas já realizadas neste início de época) para o golo de Marcano que acabaria por dar a vitória, aos 90+10, frente ao Farense.

    Dentro das quatro linhas, Gonçalo Borges, autodefine-se como “um jogador que gosta de criar”, contudo, é lhe igualmente identificado a sua capacidade de desequilíbrio, trazendo para o seu jogo a irreverência do futebol de rua, visível na facilidade de assumir o 1vs1 e no 1vs2 e com bastante frieza no último termo, gostando de marcar, mas também, de oferecer golos aos seus companheiros de equipa.

    Além da sua capacidade de desequilíbrio, o jovem extremo, destaca-se pela sua rapidez, visão e virtuosidade em termos táticos, pois apresenta relativa facilidade, não só a atacar, mas a defender quando necessário. Pode-lhe ser também apontado a sua facilidade em desbloquear equipas com linhas muito recuadas. 

    É notório, ao analisar o arranque do FC Porto, a necessidade de dissociar os resultados apresentados com a sua qualidade exibicional, não só para responder à questão levantada no título do artigo como para mostrar pontos que podem ser apresentados a favor para uma possível integração do Gonçalo Borges no 11 titular do FC Porto, algo que já aconteceu no jogo contra do CD Estrela da Amadora.

    Para quem olha de fora e numa perspetiva de resultados, o Porto está a realizar um arranque dito regular para uma equipa da sua dimensão (13 pontos em 15 no campeonato nacional), onde a derrota contra o rival SL Benfica na Supertaça não poderia ser um fator justificativo para que Sérgio Conceição fizesse uma revolução no onze inicial, principalmente num setor do terreno onde jogam um conjunto de jogadores que foram como o seu “porto seguro” nas últimas duas temporadas.

    No entanto, os seus resultados não espalham o que a equipa tem apresentado dentro das quatro linhas. O Porto tem sido uma equipa pouco letal na frente de ataque, pragmática e que tem vindo a dar espaço aos seus adversários, algo que não era nada frequente nas épocas transatas – um exemplo disso mesmo foi, dentro das suas limitações, a ousadia apresentada pelo Arouca em pleno Estádio do Dragão. A acrescentar a isso, a equipa vê-se limitada pela falta de inspiração de jogadores como Taremi (apenas um golo em cinco jornadas), Evanilson ou o próprio Pepê.

    Gonçalo Borges António Silva
    Fonte: Paulo Ladeira/Bola na Rede

    Sobre Gonçalo Borges é necessário fazer a distinção entre o ser e o dever, ou seja, será titular esta época no Porto? Não podendo fazer futurologia, na minha opinião, a resposta a esta questão está dependente do que for os êxitos desportivos da equipa.  O Porto não vencerá toda a época pela margem mínima, nem aguentará tantas debilidades exibicionais, logo, o que se espera é que estes consigam juntar ao vencer o convencer e que engrenem para uma temporada de 2023/2024 de grandes sucessos. Neste cenário, o Gonçalo Borges acabará por ser a alternativa segura sempre que o treinador precisar de mexer com o jogo, estando à procura da oportunidade ideal para agarrar o lugar num dos corredores do Porto como se tem vindo a comprovar nas quatro primeiras jornadas do campeonato.

    Agora, se deve reclamar por uma oportunidade como titular? Sim, parece me óbvio que tem todo o direito a fazê-lo. Trata-se de um jogador que sempre que entra em campo, descomplica o jogo dos azuis e brancos, tornando-o mais puro, sem as amarras táticas que têm condicionado a própria qualidade exibicional, ajudando a ligar a equipa no último terço do terreno. Além do mais, mesmo com a forte concorrência de Galeno, Pepê, Veron e do recém-chegado Francisco Conceição, trata-se de um atleta que, tanto Sérgio Conceição como a estrutura azul e branca depositam grandes esperanças, tal maneira que bloquearam a sua cedência a outros clubes nacionais e internacionais – foi público o interesse do Anderlecht, West Ham e Everton.

    Num contexto onde a equipa B é curto para o seu potencial e para o seu crescimento como jogador e onde já não pode ser convocado aos sub-21, o extremo pode centralizar todo o seu foco no clube e no que Conceição quer que melhore e no que pode vir a oferecer ao estilo de jogo dos dragões. Do ponto de vista administrativo, resta saber se ele é visto como um retorno financeiro imediato ou como um projeto a médio-longo prazo capaz de retribuir desportivamente e financeiramente.

    Posto isto, o que Gonçalo dá ao FC Porto é um pouco do “futebol de rua”, algo cada vez menos comum nos jogadores jovens, e uma imprevisibilidade num estilo de que até então em nada ilustrativo do que é “ser Porto”, onde se destaca a ausência de ideias, onde escassa as soluções e onde não existe magia. Recordando a parte final do seu discurso nos “Dragões de Ouro” de 2022: “(…) entrei nesta casa com 14 anos, com sonhos medos e ambições. Hoje esse menino mantém-se vivo, com novos sonhos e ambições e com muita coisa para conquistar no nosso clube e esse é o meu objetivo”. Se estes se irão cumprir? Tudo depende de Sérgio Conceição.

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