Há diferenças entre o saber e o fazer

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    Sabemos diversas coisas sobre Lopetegui. Enquanto jogador, sabemos que foi guarda-redes do Real Madrid e do Barcelona. Sabemos que ganhou alguns títulos como jogador nessas mesmas equipas. Sabemos que foi treinado por Johan Cruyff e Bobby Robson. Sabemos ainda que privou com Mourinho e Guardiola, talvez os dois melhores treinadores da atualidade. Sabemos…

    Como treinador, sabemos que Lopetegui orientou as seleções espanholas mais jovens conquistando um Campeonato da Europa de sub-21 e outro de sub-19. Sabemos também que possuía um blog onde partilhava a sua opinião em relação a diversas equipas, formas de jogar, modelos de jogo, entre muitas outras coisas. Sabemos que Lopetegui, como treinador de uma equipa de futebol, quer ter um modelo de jogo que privilegie a posse de bola, que permita ser dominante, ser paciente a construir. Sabemos que o treinador quer “ser protagonista”. Sabemos…

    José Mourinho, em declarações à televisão da Federação Portuguesa de Futebol, referiu que “o conhecimento está ao alcance de todos”. No mesmo vídeo, Mourinho afirma que “a capacidade de operacionalização de uma ideia é aquilo que faz, de facto, o treino rico, que te faz escolher os exercícios adaptados às tuas ideias e aquilo que tu queres transmitir”.

    Lopetegui deixa boas sensações acerca das ideias que possui. São, de forma geral, as mesmas ideias que inspiraram aquela é considerada, por muitos, como a melhor equipa da história. Aquilo que todos esperamos do treinador do Futebol Clube do Porto é que ele saiba aquilo que está a fazer, que saiba por inteiro o que é o famoso tiki-taka. Não concebo nem acredito que Lopetegui não conheça o modelo de jogo e tudo o que é preciso para que este funcione.

    A minha dúvida surge em relação ao saber fazer de Lopetegui. Não sei até que ponto é que ele consegue pôr em prática todas as suas ideias. Por culpa própria ou por fatores externos? Os dois, arrisco. Quando se é contratado para orientar uma equipa há duas coisas que se podem fazer: ou adaptas o teu modelo de jogo à equipa ou adaptas a equipa ao modelo de jogo. E os clubes em Portugal são clubes formadores. Até os grandes são clubes formadores – clubes “trampolim” como há uns tempos ouvimos dizer. Esta premissa pode ser fatal para Lopetegui, verdinho nas andanças do futebol português. O treinador do FC Porto não pode exigir que todos os jogadores encaixem no estilo e no modelo de jogo. Não pode porque o clube não o vai permitir. Há que formar, há que potenciar e há um mercado sul-americano a explorar. O FC Porto não é um Barcelona, um Real Madrid, um Bayern Munique ou um Chelsea que pode ir buscar jogadores com características específicas que encaixem que nem uma luva no modelo de jogo. Não pode.

    Para a próxima época, Julen Lopetegui vai ter uma nova oportunidade. Resta saber se será mesmo capaz de pôr em prática as suas ideias. Se não for… pode sempre ir cortar ou aparar a relva. Ou partir a estrutura de um banco de suplentes qualquer.

    Deixe que lhe diga, caro treinador… Há muita gente a falar em mística e raça e atitude. Quando a equipa começar a jogar futebol, quando começar a ser superior em todos os momentos do jogo, quando souber jogar pelas alas e (!) pelo centro do terreno… ninguém se vai lembrar dessas coisas. Porque quando se é superior, pode-se “brincar” com os adversários. E podemos reservar essas coisas para os jogos a sério frente aos Bayerns desta vida!

    Foto de capa: fcporto.pt

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    Nuno Ribeiro Margarido
    Nuno Ribeiro Margaridohttp://www.bolanarede.pt
    O Nuno sabe que o futebol se assume muitas vezes como a perfeita metáfora da vida. Entre muitas frases do mundo do futebol que o marcam há uma que guarda e que o inspira em tudo o que faz: "Ganhar, ganhar, ganhar... e voltar a ganhar, ganhar e ganhar... é isto o futebol".                                                                                                                                                 O Nuno não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.