Hábitos velhos, Dragão novo?

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    A época ainda agora terminou para o Dragão. No entanto, os sócios e simpatizantes portistas já tiraram todas as ilações que tinham a tirar da temporada 2014/15: com um dos plantéis mais prolíficos a nível de qualidade técnica e star power que o FC Porto já teve na sua história, Lopetegui não conseguiu conquistar um único título, o que traduz o trabalho de um ano em quocientes nulos.

    Mas eu gosto de pensar que esta é uma visão demasiado linear e extremista. Como adepto do FC Porto, quero, acima de tudo, acreditar que os títulos vão voltar e que tal acontecerá já na próxima época. Porque uma época sem títulos é, para mim, algo anti-natural; vejamos: nasci em 1993, o que significa que, em 21 anos de existência, “festejei” 14 títulos do meu clube. E se for feita uma análise mais detalhada daquilo que foi o FC Porto ao longo da estação que agora finda, há pontos positivos a ter em conta:
    – Praticou-se o futebol mais atrativo das últimas 4 épocas;- O estilo e filosofia de jogo “tiki-taka” já estão implementados;
    – Desde 2008/09 que o FC Porto não atingia os quartos de final da Liga dos Campeões;
    – O Bayern de Munique (indiscutivelmente, uma das melhores equipas da atualidade) foi vulgarizado no Dragão;
    – “Explosão” definitiva de Jackson, Danilo e o regresso do melhor Quaresma.

    Não, caro leitor. Nenhum destes tópicos apaga o facto do FC Porto ter acabado a Liga em segundo, atrás do seu maior rival. Não apagam a goleada sofrida em Munique. E muito menos apagam os momentos de displicência (viagens à Madeira e empate no Restelo) que custaram o campeonato ao clube. Estes momentos são, aliás, aqueles que julgo serem as maiores falhas do FC Porto ao longo de toda a época. Quando o Benfica escorregou, o Porto não soube aproveitar. E, com isso, qualquer argumentação baseada em “colinho” e ajudas ao Benfica caiu por terra.

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    Danilo sai do FC Porto rumo ao Real Madrid
    Fonte: Página de Facebook do FC Porto

    Agora, e como já referi anteriormente, há que acreditar. Num futuro mais risonho. Mas, em termos concretos, como vai ser forjado esse futuro? O jornal O JOGO dá conta da continuidade de Lopetegui e de que o basco já planeia a nova época. Esta continuidade parece-me fulcral, tendo em conta que o “Projeto Lopetegui” foi desenhado para três anos e desistir agora seria dar um tiro nos alicerces que a estrutura do FC Porto quer cimentar. Quer queiramos quer não, Lopetegui acabou por conseguir implementar o “seu” modelo de jogo no Dragão. O futebol praticado pelos azuis e brancos já não era tão atrativo desde Villas-Boas, e será crucial que o estilo não se desvaneça. Porque todos gostamos de ver o nosso clube ganhar, mas, se o puder fazer jogando bem, ainda sabe melhor. E agora toco num ponto mais pessoal: já não havia um treinador no FC Porto que inflamasse tanto a relação com o Benfica. Podem acusar-me de críticas, mas acho que este constante despique e trocas de galhardetes entre os dois clubes são fundamentais para a criação de faísca que alimente a chama do Dragão. Era quando se sentia picado que o FC Porto se dava melhor. Não vejo porque não possa voltar a ser assim. Por tudo isto, prefiro pôr de lado as conversas que envolvem a vinda de Marco Silva ou de qualquer outro treinador para o Olival. Prefiro continuar com um Lopetegui mais consciente da realidade do clube e do campeonato em que se insere. E com uma pressão extra, a de (desta vez) estar mesmo obrigado a ganhar.

    Para ganhar, o plantel tem de, pelo menos, manter a qualidade e diversidade que teve este ano. A tarefa não se adivinha simples. Danilo já tem a sua saída consumada (para o Real Madrid) e é natural que Jackson também tenha as malas feitas; o próprio jogador já admitiu que esta seria a sua última época de dragão ao peito e, convenhamos, será a sua última oportunidade para “dar o salto”. A grandeza do FC Porto é imensurável, mas o chamamento de campeonatos mais apelativos parece incontornável. Depois, temos as mais que prováveis saídas de Casemiro, Óliver e, quiçá, Brahimi. Muitas baixas de vulto, que parecem quase impossíveis de colmatar. Ainda assim, o FC Porto já nos habituou a arranjar soluções ano após ano, e creio que a tendência não se vai alterar neste defeso. O foco da estrutura portista terá de se orientar para o reforço de três posições: a de lateral direito, de médio defensivo e de ponta de lança. Ricardo Pereira pode ter muito boa vontade, mas as fragilidades a defender ainda são por demais óbvias e o Porto precisa de alguém que se possa assumir como titular de imediato, para minimizar ao máximo a ausência da locomotiva que Danilo é. Nomes? Atrevo-me a dizer os de Fabinho (do Mónaco – um cenário muito hipotético, visto que o Mónaco acabou de comprar os seus direitos desportivos ao Rio Ave) e Santiago Arias (ex-Sporting), que se assumiu como titular no PSV Eindhoven, onde se sagrou campeão holandês. Não vou falar sobre Marcos Rocha do Atlético Mineiro (já apontado aos dragões), visto que nunca vi o brasileiro em ação.

    Para o lugar de Casemiro, o mercado é, neste momento, algo escasso. Não é fácil encontrar um jogador que seja incisivo na hora de destruir jogo adversário e que, simultaneamente, dê fluidez às transições ofensivas da equipa. Fala-se muito em Sergi Darder, do Málaga, mas não me parece que seja a solução ideal. O espanhol não é trinco de origem e a equipa pode-se ressentir disso mesmo, tendo em conta que joga apenas com um médio mais recuado. André André e Sérgio Oliveira (já contratados, segundo O JOGO) não são médios defensivos. Sugeriria outro espanhol para a vaga: Oriol Romeu. Ainda contratualmente ligado ao Chelsea, é trinco de raiz, e, tendo sido formado no Barcelona, a sua qualidade na saída de jogo parece ser um dado adquirido. Aos 23 anos parece estar na idade certa para se afirmar num grande clube, e o facto de ter uma comunidade espanhola à espera no Dragão pode facilitar a sua adaptação, após sucessivos empréstimos.

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    Alberto Bueno é uma das caras novas do FC Porto
    Fonte: Página de Facebook de Alberto Bueno

    Por fim, para o lugar do capitão Jackson Martínez, há que encontrar alguém que saiba, em primeiro lugar, assumir a responsabilidade de carregar às costas uma herança pesadíssima. É que com Jackson não contaram apenas os (muitos) golos. Contaram as rotações, as assistências, o jogo de costas para a baliza. Avançados como o colombiano estão em vias de extinção e, como tal, não me vou alongar muito nem avançar o nome de possíveis substitutos. Apenas escrevo o seguinte, direcionado ao substituto do ‘Cha Cha Cha’: sejas quem fores, lembra-te que Jackson veio depois de Falcao e conseguiu dar conta do recado. Consegues esconder essas duas sombras? E não, não estou a colocar esta questão ao Alberto Bueno.

    Treinador e jogadores. Falta o topo da pirâmide e, ao mesmo tempo, a base de tudo. Não tenho qualquer tipo de autoridade ou conhecimento para falar do que se passa na SAD e direção do FC Porto, mas acho que é seguro dizer que quase todos os verdadeiros portistas sentem que se passa algo de anormal no topo da “cadeia alimentar” azul e branca. Há que recuperar a firmeza de outros tempos e o cariz de “caixa forte” que a tão badalada “estrutura” sempre transmitiu cá para fora. É por aí que o FC Porto 2015/16 tem de começar. Para voltar a ser campeão, o FC Porto tem de dar apoio ao seu treinador, ter um bom plantel e, primeiramente, mostrar aos seus adeptos que quer mesmo ser campeão e que a sua identidade não se perdeu. Os jogadores podem ser de 15 nacionalidades diferentes, mas a mística… Essa aprende-se em qualquer língua, tem é que se saber onde está e quem a carrega tem de saber transmiti-la. Não vamos varrer da memória o que se passou esta temporada. O FC Porto tem de aprender com os erros. Mas agora… Venha lá essa nova época.

    Foto de capa: Página de Facebook do FC Porto

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    Francisco Sebe
    Francisco Sebehttp://www.bolanarede.pt
    "Acordou" para o desporto-rei quando viu o FC Porto golear a Lazio, no dilúvio das Antas. Análises táticas e desportivismo são com ele, mas o amor pelo azul e branco minimiza tudo o resto.                                                                                                                                                 O Francisco não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.