João Mário: Produto inacabado | FC Porto

    Uma das principais novidades do FC Porto versão 2021/2022 foi a fixação e afirmação de João Mário como dono e senhor da lateral direita defensiva.

    É certo que o jovem internacional português já havia sido lançado, por Sérgio Conceição, nessa posição, em alguns momentos do final da época passada, ainda assim, tal sucedeu muito mais como solução de recurso em momentos de balanceamento ofensivo do que como opção estrutural para a equipa. Mas já lá vamos.

    João Mário aparece na equipa principal do FC Porto depois de largos anos na formação (como um dos vencedores da UEFA Youth League) e de uma bem-sucedida passagem pela equipa B.

    Durante o seu percurso formativo, o jovem jogador marcou a diferença como extremo vertical e desequilibrador, muito mais capaz a jogar em largura do que a explorar espaços interiores, e dotado de enorme velocidade e técnica acima da média.

    Na passagem para as exigências do futebol sénior, João Mário começou a sentir algumas dificuldades. Alternou jogos mais auspiciosos com atuações mais cinzentas e percebeu-se, acima de tudo, que a supremacia técnica sobre os defesas contrários que foi tendo ao longo dos seus anos nos escalões mais jovens, se desvaneceu no futebol sénior.

    No entanto, esteve sempre claro que a velocidade de ponta e a velocidade no controlo e transporte de bola eram atributos que poderiam revelar-se de enorme utilidade para a equipa.

    Foi então que, no último Clássico da época passada, Sérgio Conceição optou por fazer com João Mário o que outrora fizera com Corona. Perante um resultado negativo, o treinador portista optou por colocar um extremo puro a jogar na lateral direita e aproveitar os desequilíbrios que este poderia causar, utilizando a tal velocidade, de trás para a frente.

    João Mário FC Porto
    Fonte: Diogo Cardoso / Bola na Rede

    A aposta revelou-se bem-sucedida (João Mário acabou mesmo por assistir Uribe para o golo do empate) e acabou por garantir legitimidade para mais um par de experiências até ao término da temporada.

    A pré-época seguinte trouxe indícios de que a aposta era para manter e com o início das competições oficiais chegou a confirmação definitiva. Manafá acabou relegado para segundo plano e o número 23 portista era, então, o novo projeto pessoal do treinador do FC Porto para a lateral direita defensiva.

    Na comparação com o lateral contratado ao Portimonense (e restante concorrência do plantel), João Mário apresenta evidentes vantagens. Uma vez que são dois jogadores que têm na velocidade o seu principal atributo, é no capítulo do critério e tomada de decisão que João Mário vence a competição direta aos pontos.

    O internacional jovem português tem revelado maior requinte no cruzamento e mais competência no jogo associativo com os seus companheiros. Isto, para além de revelar um poder de desequilíbrio nas defesas adversárias (nos tais momentos de rotura de trás para a frente) que não se vislumbravam quando jogava mais adiantado no terreno de jogo.

    Mas quais as debilidades de João Mário?

    É, portanto, no momento defensivo que, apesar de ténues melhorias que se vão identificando com o passar do tempo e dos jogos, existe a necessidade mais premente de realização de trabalho específico com o jogador.

    Se, para consumo interno e com o FC Porto constantemente a jogar no meio-campo contrário, as suas deficiências defensivas vão passando mais ou menos despercebidas (até porque a velocidade lhe vai garantindo algum conforto no controlo da profundidade), nos palcos europeus ficam mais expostas.

    João Mário FC Porto
    Fonte: Diogo Cardoso / Bola na Rede

    Assim se justifica a aposta em Corona nas primeiras jornadas da Liga dos Campeões. Comparando as duas adaptações, João Mário é mais explosivo e o mexicano é mais requintado, combina melhor a ala com o meio e apresenta maior maturidade a defender.

    Acredito, ainda assim, que as qualidades e capacidades naturais de João Mário lhe conferem melhores condições para se assumir em definitivo na posição.

    Há, todavia, muito para evoluir. Seja nas coberturas aos centrais, na colocação dos apoios em momentos de um para um, na capacidade de discernir entre o momento de sair à bola ou assumir movimentos de contenção ou, até, no julgamento do melhor momento para assumir riscos no apoio ao ataque e na saída de bola.

    João Mário FC Porto
    Fonte: Diogo Cardoso / Bola na RedeBet

    São, portanto, muitos os “momentos” (passe a repetição) do jogo a desenvolver. Ainda assim, as experiências do passado, no FC Porto e noutros clubes, vão assegurando que é mais exequível instruir um extremo, fisicamente sobredotado, a defender do que ensinar um defesa a dominar os movimentos ofensivos.

    Ricardo Pereira foi o último caso de sucesso no FC Porto.

    Como última nota, antes da conclusão, parece-me, naturalmente, cedo para falar na possibilidade de o jogador ascender ao patamar de seleção nacional A, até pelas alternativas de excelência que existem, mas caberá jovem de 21 anos, natural de São João da Madeira, mostrar que é capaz de responder e corresponder aos requisitos e desafios que se lhe vão colocar no caminho.

    Para rematar, João Mário é, ainda, um produto inacabado que tem dado sólidos passos para se tornar um lateral de referência do FC Porto e do futebol português. Se já se pode considerar um caso sério no desequilíbrio ofensivo, resta-lhe trabalhar, com o apoio e respaldo da equipa técnica do clube, para dominar, com igual mestria, os equilíbrios defensivos, tornando-se mais capaz de responder às exigências do futebol internacional

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    Bernardo Lobo Xavier
    Bernardo Lobo Xavierhttp://www.bolanarede.pt
    Fervoroso adepto do futebol que é, desde o berço, a sua grande paixão. Seja no ecrã de um computador a jogar Football Manager, num sintético a jogar com amigos ou, outrora, como praticante federado ou nos fins-de-semana passados no sofá a ver a Sporttv, anda sempre de braço dado com o desporto rei. Adepto e sócio do FC Porto e presença assídua no Estádio do Dragão. Lá fora sofre, desde tenra idade, pelo FC Barcelona. Guarda, ainda, um carinho muito especial pela Académica de Coimbra, clube do seu pai e da sua terra natal. De entre outros gostos destacam-se o fantástico campeonato norte-americano de basquetebol (NBA) e o circuito mundial de ténis, desporto do qual chegou, também, a ser praticante.