Mais banhada do que banho

    tinta azul em fundo brando pedro nuno silva

    O Porto perdeu o clássico do Dragão e dificultou muito a tarefa de chegar ao título. Foi um jogo de sentido único, mas a equipa de Jorge Jesus levou a melhor sobre a de Lopetegui. As equipas iniciais não trouxeram novidades, e da parte do Porto não houve nenhuma surpresa na estratégia de jogo, mas talvez o estratagema benfiquista tenha surpreendido alguns. Falar sobre o clássico dava matéria para duas ou três crónicas, principalmente da parte portista, que foi surpreendida com este resultado em sua casa. Porém, decidi focar-me mais na forma de jogar de ambas as equipas (e nas conclusões que se tiraram) do que noutros pontos também importantes, como a fraca prestação da claque portista ou a falta de raça dos azuis e brancos, por exemplo.

    Jorge Jesus tem um enorme respeito pelo Porto, principalmente no Dragão. Não me lembro de ver esta estratégia defensiva benfiquista, apresentada ano após ano no Dragão, contra outras equipas – uma equipa defensiva que tenta jogar no erro do adversário (até aqui nada de muito transcendente) mas que desta vez surpreendeu pela inactividade no ataque.

    E o que fez o Porto? Pois, aí está o problema – pouco. O Porto não marcou porque, para além de estar num dia de azar, pouco fez para inverter o curso do jogo e apresentou uma estratégia muito denunciada. Prometemos muito no início, com ataques acutilantes, duas jogadas que podiam ter dado golo e a sensação de que a qualquer momento podíamos inaugurar o marcador. Mas Jesus percebeu que estava a arriscar, fez recuar a equipa e a partir daí começaram as dificuldades. As peças do Benfica dispuseram-se melhor em campo, não houve mais oportunidade para Tello criar perigo, porque deixou de ter espaço para correr – e logo ele que prometia uma noite de pesadelo a André Almeida –, e a saída para o ataque foi sempre difícil.

    Herrera e Casemiro nunca transportaram nem distribuíram bem a bola, mas o mexicano esteve especialmente mal: é muito irregular e pouco pujante para jogos deste calibre. Contudo, o maior defeito do jogo dos Dragões foi a contante e exaustante insistência em passar a bola a Brahimi. Que previsível! Com o meio-campo benfiquista sempre povoado e a bola encostada na esquerda portista, havia uma multidão de jogadores prontos a atrapalhar o extremo portista. E não houve plano B; foi assim o jogo todo e as poucas boas iniciativas esbarraram no poste (há dias em que mais vale não sair de casa)! Admito que gosto de Lopetegui, mas não gostei da ausência de uma estratégia alternativa.

    Mesmo trapalhão, o Porto esteve sempre em cima do Benfica e a verdade é que os golos encarnados surgiram de dois lances que deviam ter sido facilmente aniquilados pela defesa e pelo guarda-redes, respectivamente. De resto, o Benfica fez, nos 90 minutos, sempre a mesma coisa: defender. Confesso que me dá uma certa irritação quando ouço falar em banho táctico. Não sou treinador, mas será isto um banho táctico? Terá o futebol, “tacticamente” falando, atingido este ponto em que defender e praticamente não contra-atacar (e, quando se o faz, sem perigo algum) é um “banho táctico”? Acho que esta expressão surge de benfiquistas que não querem reconhecer que a estratégia benfiquista esteve mais próxima da do Boavista do que da de um grande campeão em título. Dois golos sem grande estratégia, muitas faltas, contra-ataques sem perigo e muita defesa – não entendo esse banho. Para defender bem é preciso muita organização, mas não é suposto haver uma estratégia de contra-ataque? Não se pode defender sem estar encostado às cordas como o Benfica esteve (mesmo com 0-0) em grande parte do jogo? Um bom jogo defensivo lembro-me eu de o Chelsea ter feito este ano contra o Manchester City; não se pareceu nada com o que vi no Dragão. Aliás, o Porto-Boavista foi o mais próximo deste encontro…

    Gabarolices à parte, mais um jogo grande que perdemos em casa; é preocupante e é praticamente humilhante. O problema não é só táctico, estratégico, colectivo, individual… o problema é também não saberem o que é jogar no Porto e o que representa um Clássico para os nossos adeptos, que levaram uma grande banhada. Mas isso fica para outro dia. Resta fazer um campeonato incólume porque a vida dos azuis e brancos complicou-se bastante. Ainda assim, nada de atirar a toalha ao chão!

    Foto de capa: Página de Facebook do FC Porto

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    Pedro Nuno Silva
    Pedro Nuno Silva
    Portista de corpo e alma desde que se conhece e amante de futebol, quando o assunto é FC Porto luta para que no meio do coração lhe sobre a razão.                                                                                                                                                 O Pedro não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.