Negócio Vitinha: os três prismas da equação

    O FC Porto já comunicou à CMVM o princípio de acordo para a transferência de Fábio Vieira, jovem formado nas escolas do clube, para o conjunto londrino do Arsenal. Todavia, nos últimos dias, o nome mais badalado na imprensa tem sido o de Vitinha. Foram vários os órgãos de comunicação social (nacional e internacional) a apontar o nome do médio portista à Premier League, mas parecem ser os novos-ricos do PSG quem assumiu a dianteira para garantir o concurso do médio internacional A por Portugal.

    Perante a insistência das notícias, o presidente do FC Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa, viu-se obrigado, há uns dias, a comentar a situação de Vitinha. Confirmou abordagens generosas pelo jogador, mas remeteu para o valor da cláusula de rescisão, cifrada em 40 milhões de euros. Está provado que uma cláusula dessa ordem de grandeza, para um jogador com tanta qualidade, não serviu para assustar os tubarões do Velho Continente.

    Partindo das notícias que dão como praticamente fechada a transferência para França, importa analisá-la em diferentes prismas. Não só na perspectiva da SAD portista, mas também no ponto de vista do treinador e do próprio jogador.

    Ora, no que concerne à posição da SAD, parece-me que, até tendo em conta a situação financeira periclitante que vive o clube, um negócio que ronde os 40 milhões de euros da cláusula de rescisão será sempre bem-vindo e, em boa verdade, nunca poderá ser considerada uma má operação de mercado.

    Poder-se-á, e bem, advogar que Vitinha tem potencial para valer mais no futuro, mas considerando que se trata de um jogador que conta apenas uma época desportiva como titular ao mais alto nível, que tem apenas mais dois anos de contrato e poderia ter deixado o clube (no que poderia ter sido, a somar-se a vários nos tempos mais recentes, um dos mais ruinosos negócios da história do clube), no verão passado, por metade do valor agora noticiado, estamos sempre a falar de um excelente negócio.

    O mesmo não se pode dizer do negócio de Fábio Vieira. Ainda que o valor possa ser considerado adequado para o valor atual do jogador, o seu potencial e a sua cláusula obrigavam a maior resistência ao mercado. Perante a iminência da saída de Vitinha, cabia à SAD segurar a outra joia da coroa.

    Fonte: Diogo Cardoso/BnR

    Visitemos, agora, a perspectiva de Sérgio Conceição. Para o treinador portista, naturalmente, a saída de Vitinha nunca poderá ser uma boa notícia. Esta, aliada ao abandono de Fábio Vieira, toma proporções dramáticas que poderão ter impacto, até, na forma como o treinador enquadra o projeto FC Porto na sua carreira. Esperemos que o seu portismo e resiliência sejam suficientes para o manter ao leme de uma embarcação que começa a meter água.

    Como já aqui escrevi anteriormente, sou da opinião que a época que findou no passado mês de Maio terá sido, das 5 que Sérgio Conceição já leva como técnico principal, a que apresentou aos adeptos uma melhor e mais entusiasmante proposta de jogo e é impossível dissociar a atratividade do jogo portista à presença de Vitinha na equipa.

    Foi no privilegiar do jogo do jovem médio, mais técnico e cerebral, que esteve o ganho. Jogou e fez jogar, permitiu unir os setores e tornou o jogo da equipa mais fluido e agradável à vista. Nesse sentido, e, porque será sempre muito difícil encontrar no mercado um jogador desse perfil e calibre, acredito que o internacional português seja um dos jogadores que o treinador tinha maior relutância em ver partir.

    FC Porto Belenenses SAD
    Fonte: Diogo Cardoso / Bola na Rede

    Chegámos, por fim, aquela que será a perspectiva do jogador no que diz respeito a uma transferência neste defeso. Para um jogador da qualidade e potencial de um jogador como Vitinha, a abertura de portas dos grandes tubarões europeus será certamente algo animador e aliciante. No entanto, acredito que Vitinha só teria a ganhar em jogar mais um ano de azul e branco antes de uma transferência.

    O jovem formado no Olival fez uma época verdadeiramente fantástica, mas não deixou de ser a primeira que fez, de alto nível, no patamar sénior. Estará já preparado para um desafio da dimensão PSG, reconheço, mas julgo que só lhe traria vantagens chegar a esse patamar depois de uma época de consolidação ao serviço do FC Porto.

    A juntar a isto, com o Campeonato do Mundo à porta, a titularidade garantida nos dragões em contraponto com a instabilidade da entrada num novo clube e num novo patamar competitivo poderia ser mais um dos argumentos que levasse o jogador a permanecer mais um ano na invicta. Infelizmente, tal não parece ser o caso.

    Vitinha
    Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

    Em todo o caso, resta-nos subjugar-nos ao que dita o mercado e a sua lei. Sabemos que a SAD é useira e vezeira em apontar as cláusulas e libertar os jogadores por menos, mas, após a saída de Fábio Vieira, a venda de Vitor Ferreira só seria aceitável, de facto, pelo valor mais elevado possível.

    Atendendo ao que se vai escrevendo, a permanência de Vitinha no futebol português, parece, já, uma miragem. Ficasse, ganhariam os adeptos, o treinador e, acredito eu, o jogador. Saindo, ganhará o clube, que necessita, como que de pão para a boca, de receitas extraordinárias e, acima de tudo, o campeonato e o clube que o vão receber. Este último, o PSG, receberá um médio de classe mundial e, se o seu novo treinador (ainda por definir) o souber utilizar bem, terá nas suas mãos um jogador capaz de comandar o meio-campo e ditar os ritmos de jogo da equipa.

    PS – Praticamente confirmadas as saídas dos dois jogadores de maior potencial da equipa, esperarão os adeptos e, seguramente, o treinador, que parte avultada do valor recebido por ambos seja investida no reforço do plantel. Encontrar substitutos à altura não será fácil. E, caso suceda, não se tratarão, com certeza, de jogadores baratos.

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    Bernardo Lobo Xavier
    Bernardo Lobo Xavierhttp://www.bolanarede.pt
    Fervoroso adepto do futebol que é, desde o berço, a sua grande paixão. Seja no ecrã de um computador a jogar Football Manager, num sintético a jogar com amigos ou, outrora, como praticante federado ou nos fins-de-semana passados no sofá a ver a Sporttv, anda sempre de braço dado com o desporto rei. Adepto e sócio do FC Porto e presença assídua no Estádio do Dragão. Lá fora sofre, desde tenra idade, pelo FC Barcelona. Guarda, ainda, um carinho muito especial pela Académica de Coimbra, clube do seu pai e da sua terra natal. De entre outros gostos destacam-se o fantástico campeonato norte-americano de basquetebol (NBA) e o circuito mundial de ténis, desporto do qual chegou, também, a ser praticante.