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O concerto do dragão em Vila do Conde | Rio Ave 0-3 FC Porto

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Há jogos que parecem nascer com um destino traçado: O Rio Ave x FC Porto, em Vila do Conde, nunca chegou a ser um enigma: desde o primeiro minuto percebeu-se que os azuis e brancos tinham vindo para impor o seu ritmo, esmagar o adversário e reafirmar o estatuto de líder. O 0-3 final soa quase brando perante a diferença de intensidade, ideias e execução que se viu em campo. Mais do que três pontos, foi a confirmação de que a equipa de Francesco Farioli está a transformar cada partida num manifesto competitivo.

Não resisto a começar este rescaldo por Gabri Veiga. O médio espanhol regressou ao onze titular e parecia ter guardado toda a inspiração para este jogo. Assinalou, por duas vezes, de canto, o compasso que ditou o destino do encontro: primeiro assistiu Pablo Rosario, depois Samu, e já na segunda parte decidiu ele mesmo assinar a obra com um remate pleno de classe. Mas reduzir a sua exibição aos números é um erro grosseiro. Gabri foi omnipresente: pressionou alto, comandou os ritmos, deu sempre linhas de passe, encarnando aquilo que Farioli mais exige dos médios — agressividade sem bola e critério com ela. O FC Porto encontrou nele não apenas um executante de bolas paradas, mas um líder em movimento contínuo.

As notas de Farioli e a partitura das bolas paradas

Fala-se muito da intensidade, mas o que me impressiona neste FC Porto é o rigor. Não há um canto, um livre, um pormenor que surja por obra do acaso. Nos primeiros quinze minutos, os dragões montaram um autêntico laboratório de bola parada: aglomeraram corpos na área, bloquearam trajetórias, usaram a superioridade física da sua média de altura e libertaram espaços onde Gabri lançou os seus cruzamentos venenosos. Rosario e Samu só tiveram de agradecer.

Gabri Veiga FC Porto
Fonte: Tiago Cruz / Bola na Rede

É aqui que se vê o dedo do treinador. As bolas paradas já não são uma contingência, são uma arma. O FC Porto, qual Arsenal, neste quesito, não marcou por sorte, marcou por ensaio, por repetição, por estudo. E quando uma equipa alia esta eficácia a uma intensidade sufocante, resta ao adversário assistir. O Rio Ave caiu sempre nas mesmas armadilhas, incapaz de encontrar antídoto para um adversário que sabia de cor o guião.

Um Rio Ave perdido de identidade

Dói dizê-lo, mas este Rio Ave parece não saber quem é. Sem bola, foi uma equipa inofensiva: pressionou em inferioridade, nunca incomodou Alan Varela, o principal pêndulo da equipa portista e por onde praticamente todas as jogadas passam, deixou o corredor central escancarado. Estruturalmente, foi ingénuo ao ponto de permitir que os médios azuis e brancos gerassem, uma e outra vez, situações de superioridade por dentro. Sotiris Silaidopoulos não foi a tempo de corrigir nem de adaptar (apenas na segunda parte), e a fatura foi pesada.

Sotiris Sylaidopoulos Francesco Farioli FC Porto
Fonte: Tiago Cruz / Bola na Rede

Há ainda algo que não posso deixar passar: a quase total ausência de jogadores portugueses. Uma equipa da Primeira Liga não pode ter apenas dois atletas nacionais em todo o plantel, nem entrar em campo sem um único português no onze. O Rio Ave abdica, assim, de uma identidade que sempre o caracterizou. Um clube que representa uma cidade e uma comunidade não pode perder o seu ADN desta forma.

Varela, Rosario, Borja e o “novo” Samu

Do ponto de vista individual, Alan Varela parece ter jogado de cadeira reclinável. Diante da passividade vilacondense, foi dono do meio-campo. Recebeu sempre de frente, distribuiu, controlou os ritmos e ainda arrastou marcações em lances de bola parada que atrapalharam o guarda-redes Miszta. A sua importância é muitas vezes silenciosa, mas essencial.

Depois, Pablo Rosario é, para mim, a personificação da ideia de Farioli. Polivalente, intenso, imune ao desgaste. Jogou na lateral, voltou ao meio, marcou de cabeça e esteve sempre pronto a cumprir em qualquer função. Um jogador assim vale ouro numa época longa e exigente.

Já Borja Sainz é outro caso curioso. Nem sempre define bem, é verdade, mas tem uma entrega que contagia. Pressiona até ao último segundo, corre como se não houvesse amanhã e dá opções tanto por dentro como por fora. Teve nos pés o 0-4, mas Miszta negou-lhe a glória. Mesmo sem golo, é um indiscutível desta equipa, um pulmão incessante.

E há Samu. Que transformação! Longe vão os tempos em que perdia bolas em zonas perigosas. Hoje movimenta-se com inteligência, solta rápido, ataca a profundidade e mostra uma eficiência que até há pouco parecia inalcançável. A sua primeira parte foi das melhores desde que chegou ao Dragão.

O contraste entre uma máquina e um esboço

O FC Porto é uma máquina de ginásio. Corre sempre no mesmo ritmo elevado, não abdica da pressão, não dá tréguas. Os jogos tornam-se maratonas onde o adversário acaba exausto, incapaz de acompanhar o andamento. Em Vila do Conde, a sensação foi essa: uma equipa que nunca baixa a intensidade, que combina músculo com critério, que mistura associações curtas de qualidade com a vertigem do ataque rápido.

O Rio Ave, em contrapartida, foi um esboço mal definido. Tentou pressionar alto, mas sem convicção. Tentou sair a jogar, mas sem imaginação. Tentou defender, mas sem organização. Sofreu de canto, sofreu por dentro, sofreu por fora. Um retrato de fragilidade que não augura nada de bom para a época. Já lá vão cinco jogos consecutivos sem vencer, sendo que o próximo é na Luz…

Notas finais

Posto isto, este 0-3, em Vila do Conde, foi mais do que uma vitória. Foi um manifesto. Este FC Porto joga com a convicção de quem acredita que cada jogo é o trabalho de hoje e a luta de amanhã. Os jogadores parecem todos em sintonia com a ideia de Farioli: intensidade máxima, foco total, detalhes trabalhados.

Do outro lado, o Rio Ave preocupa. Não só pela falta de resultados, mas pela ausência de identidade, pela incapacidade de competir nos detalhes, pela perda de uma cultura que deveria ser inegociável. Vila do Conde merece mais.

Por fim, se tivesse de escolher uma imagem do jogo, seria Gabri Veiga de braços abertos após o terceiro golo. Não apenas porque marcou, mas porque simbolizou a diferença entre uma equipa que sabe exatamente ao que joga e outra que anda perdida. Foi ele o maestro de uma orquestra que soou perfeita no Estádio dos Arcos.

Raul Saraiva
Raul Saraiva
O Raúl tem 19 anos e está a tirar a Licenciatura em Ciências da Comunicação. Pretende seguir Jornalismo, de preferência desportivo. Acredita que se aprende diariamente e que, por isso, o desporto pode ser melhor.

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