O Quarteto Fantástico

    O FC Porto está bem e recomenda-se. Não é que a equipa apresente uma segurança no seu futebol por aí além, mas os resultados vão aparecendo com naturalidade e os jogadores respiram e transpiram alegria e confiança. A juntar a tudo isto os problemas que os rivais da Segunda Circular vão vivendo ajudam à galvanização de um plantel muito bem colocado em todas as frentes de batalha. São 10 pontos na Liga dos Campeões (falta um para a passagem aos oitavos-de-final), primeiro lugar no campeonato a par do Sporting de Braga (as equipas defrontam-se no próximo sábado), bem colocado para seguir em frente na Taça da Liga e, naturalmente, ainda em prova na Taça de Portugal. Aos resultados positivos aliam-se um espírito de grupo e uma postura e atitude em campo mais consentâneas com o que se verificou no ano passado e a qualidade de jogo, pese embora algumas fragilidades na transição defensiva, vai escalando de jogo para jogo.

    Começa a ser unânime junto da massa crítica portista, que essa melhoria exibicional está alicerçada na magia de Oliver e no virtuosismo de Corona. Os dois jogadores são agora aposta recorrente de Sérgio Conceição e os resultados estão à vista de todos. Modéstia à parte, há muito que venho suplicando neste espaço por uma mais sistemática utilização de ambos.

    Mas o presente artigo não se destina apenas a abordar o enorme talento destes dois jogadores. Acredito, num exercício meramente opinativo, que a qualidade de jogo e até o sucesso ou insucesso do FC Porto na presente temporada estará sempre ligado e dependente do talento e dos desempenhos daquele a que eu decidi chamar, O Quarteto Fantástico. Falo de Oliver, Otávio, Corona e Brahimi. É dos pés destes quatro magos que podem sair os mais belos e bem executados golpes de asa capazes de catapultar o FC Porto de um conjunto de exibições razoáveis para um nível de jogo entusiasmante (mesmo que, por vezes, inseguro).

    Comecemos, então, por Oliver Torres. Sem dúvida um jogador sem igual no plantel e no futebol português. O dínamo espanhol é o melhor no capítulo do passe e a gerir os ritmos de jogo. Joga e faz jogar. Em pés de veludo e sempre de cabeça levantada põe a equipa a trabalhar como se de uma sala de máquinas se tratasse. É uma enciclopédia de bom futebol e pelos seus pés passa todo o processo ofensivo da equipa. Exímio no controlo, na retenção e transmissão da bola. É, também, importante contrariar o argumento, tantas vezes utilizado para justificar a sua falta de utilização, que se prende com a suposta dificuldade do espanhol no momento defensivo.

    Sérgio Conceição afirmou há dias que o jogador fez trabalho específico no sentido de melhorar esse capítulo do seu jogo, mas eu, como tenho vindo a proclamar, considero que essa nunca terá sido uma lacuna, mas sim mais uma das suas qualidades. Óliver é talentoso, mas operário, e compensa a falta de robustez física com uma inteligente ocupação dos espaços e com uma capacidade de desarme invulgar para um jogador tão tecnicista. Um prodígio.

    Oliver e Corona têm finalmente sido aposta recorrente de Sérgio Conceição para o onze inicial do FC Porto
    Fonte: FC Porto

    De seguida falemos de Otávio. Tem sido uma arma letal vindo do banco, mas correspondeu de igual forma quando chamado ao onze inicial no começo da época. Tem protagonizado uma excelente temporada. O jovem jogador brasileiro de apenas 23 anos tem sido opção recorrente de Sérgio Conceição, tanto a surgir descaído sobre a direita como como dono da batuta a comandar a equipa em zonas interiores. Independentemente do local de partida, Otávio tem sido um vagabundo a jogar a toda a largura do terreno no apoio aos avançados. Sou um confesso admirador deste pequeno mago que o FC Porto contratou há duas temporadas ao Internacional de Porto Alegre e que esteve pela primeira vez às ordens de Sérgio Conceição num bem sucedido empréstimo ao Vitória de Guimarães na segunda metade da época 2015/2016, período no qual evoluiu de sobremaneira no capítulo da disciplina tática e no momento de reação à perda de bola e acredito, firmemente, que pode ser este o seu ano de afirmação definitiva em que possa dar o passo em frente que lhe falta para se tornar o jogador de elite que as suas qualidades fazem augurar.

    Jogador do mais fino recorte técnico e dotado de uma qualidade de passe bem acima da média, Otávio não descura no momento defensivo, mostrando-se sempre intenso tanto no pressing como em contenção. Um pequeno grande jogador.

    Passemos, agora, para aqueles que considero serem os mais desconcertantes e virtuosos jogadores do futebol português: Corona e Brahimi.

    Primeiro, o mexicano. Um extremo à antiga, sabe jogar em zonas interiores, mas é no corredor que se sente mais confortável e onde explana melhor o seu futebol. Vai na quarta época em Portugal e ainda hoje tenho dificuldade em perceber qual o seu pé preferencial tal é a qualidade que apresenta a jogar com ambos. Tem pautado a sua passagem pelo FC Porto por uma grande irregularidade e inconsistência exibicional, mas há muito que venho dizendo que a solução para tal só poderá ser uma maior consistência na aposta. É um jogador com uma capacidade de drible ímpar, senhor de um cruzamento preciso, bom finalizador e um extremo muito fiável no capítulo defensivo, levando muitas vezes Sérgio Conceição a apostar nele na lateral defensiva. É, portanto, um extremo muito completo e, tendo apenas 25 anos, acredito que, comece Corona a apresentar níveis elevados de rendimento de forma contínua e dará o salto para um grande clube europeu.

    Passemos agora ao génio magrebino. Yacine Brahimi joga preferencialmente pela esquerda e é, ao contrário de Corona, um jogador que dá primazia a movimentos interiores. Apesar de similares no talento individual diferem no que concerne ao estilo. Se o mexicano vai consistentemente à linha cruzar, Brahimi exige que a largura seja dada pelo lateral. O que mais impressiona no camisola 8 dos dragões é a habilidade, a velocidade em condução e drible e a agilidade com que muda de direção. Apesar de mais largos períodos de nível superlativo, também Brahimi tem pautado o seu desempenho no FC Porto por alguma inconsistência. Fez no último ano, sob o comando de Sérgio Conceição, a melhor temporada de Dragão ao peito e que culminou com o único título conquistado pelo argelino na sua carreira sénior. Tem evoluído muito no momento de perda de bola e esse mérito tem que ser assacado não só ao atual treinador do FC Porto mas também a Nuno Espírito Santo que fez um trabalho notável com o jogador quando esteve à frente dos destinos da equipa. Em final de contrato, esta deverá ser a sua última época de Dragão ao peito. Se assim for, foi um prazer Yacine!

    Fica, então finalizada a análise aos quatro jogadores mais habilidosos do plantel e que mais entusiasmam a bancada.

    Uma equipa vale, obviamente, pelo seu todo, mas não deixa de ser pertinente relevar que é quando o FC Porto é capaz de articular e conjugar um maior número de jogadores talentosos em campo que as melhores exibições e os melhores resultados aparecem. Resta esperar que a aura positiva continue, ressalvar o excelente rendimento que jogadores de outras posições têm evidenciado (Éder Militão e Felipe têm estado muito bem) e reforçar a confiança em Sérgio Conceição que tem feito um notável trabalho no comando de uma equipa extremamente talentosa e competente.

    Foto de Capa: FC Porto

    artigo revisto por: Ana Ferreira

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    Bernardo Lobo Xavier
    Bernardo Lobo Xavierhttp://www.bolanarede.pt
    Fervoroso adepto do futebol que é, desde o berço, a sua grande paixão. Seja no ecrã de um computador a jogar Football Manager, num sintético a jogar com amigos ou, outrora, como praticante federado ou nos fins-de-semana passados no sofá a ver a Sporttv, anda sempre de braço dado com o desporto rei. Adepto e sócio do FC Porto e presença assídua no Estádio do Dragão. Lá fora sofre, desde tenra idade, pelo FC Barcelona. Guarda, ainda, um carinho muito especial pela Académica de Coimbra, clube do seu pai e da sua terra natal. De entre outros gostos destacam-se o fantástico campeonato norte-americano de basquetebol (NBA) e o circuito mundial de ténis, desporto do qual chegou, também, a ser praticante.