O que falta no FC Porto?

    O FC Porto disputou 17 jogos. Quatro derrotas, um empate e 12 vitórias. Em sete das 12 vitórias o FC Porto vence por apenas um golo de vantagem. Dessas sete vitórias, três foram com golos marcados depois dos 90. Estes são os números da equipa de Sérgio Conceição que, se fosse outro treinador qualquer, mesmo apesar dos bons resultados, estaria debaixo de radar dos adeptos em consequência de muitas exibições aquém das expectativas.

    A principal perceção que eu tenho é de que a equipa também é algo limitada em termos de qualidade. Há vários jogadores que não têm qualidade para serem jogadores de uma equipa como o FC Porto, mas o Conceição vai trabalhando-os para disfarçar esses problemas. O mal é que nem sempre resulta e acabam por falhar em momentos-chave.

    Assim, as dificuldades criativas também vêm muito da falta de jogadores com esse perfil. Wenderson Galeno é fortíssimo a desequilibrar de forma vertical, mas é tudo menos criativo, Pepê não consegue replicar Otávio e, dos médios centro do FC Porto, apenas Nico e Baró poderiam, pelo menos na minha opinião, acrescentar nesse ponto de vista. Stephen Eustáquio tem valor, principalmente na ocupação dos espaços e na chegada à área, mas não tem o rasgo que o Porto precisa ao nível do passe de desequilíbrio. Alan Varela é o polvo da equipa, o equilibrador. Francisco Conceição e Iván Jaime parecem-me os homens que podem fugir a este esquema de falta de criatividade, mas nenhum consegue replicar Otávio, sendo que apenas Francisco tem jogado.

    Além do mais, a equação tática para solucionar o pós-Otávio ainda não está a funcionar. No sentido em que o Otávio era a peça chave para consumar o modelo de jogo, quer do ponto de vista técnico-tático e de decisão, quer do ponto de vista de comportamento a nível psicológico da equipa no jogo. A isso acresce o facto de o FC Porto já vir de uma época que tinha falta de soluções criativas (individuais e coletivas), o que realça o problema. O baixar de forma de jogadores como Taremi e Pepê ou as ainda não entradas de Jaime, por exemplo, também não ajudam.

    Conhecemos bem o lado estratega de Conceição, a forma exemplar como sabe jogar em função do adversário (como aconteceu, por exemplo, frente ao FC Barcelona), todavia, esta época, quando é o FC Porto a ter de mostrar o ADN as coisas ficam um pouco mais complicadas e confusas. Sabemos que os princípios-base estão presentes, mas parece estar em falta um verdadeiro modelo de jogo.

    Não nos podemos esquecer que o FC Porto perdeu Matheus Uribe e Otávio, duas pedras basilares do modelo de jogo dos dragões, no entanto, parece que esta época os dragões ainda não conseguiram encontrar o modelo ideal. Quando o FC Porto tem de mostrar a sua melhor versão, isto é, quando é obrigado a “pegar” no jogo, não conseguimos perceber muito bem quem são os jogadores prediletos, não conseguimos perceber em que sistema o FC Porto pretende jogar e muito menos que dinâmicas procura.

    Sérgio Conceição no jogo entre o Vitória SC e o FC Porto
    Fonte: Diogo Cardoso/Bola na Rede

    Assim sendo, poderíamos atirar as culpas para Sérgio Conceição? Mas não me parece que seja a melhor opção.

    Primeiramente, já se explicou que saíram dois jogadores fundamentais dos últimos anos de FC Porto – Uribe e Otávio. Depois, é preciso perceber que existem posições que ainda não têm dono. Alan Varela parece ter ganho lugar no meio-campo, mas quem é a sua dupla? Eustáquio ou Nico? É uma dupla ou uma tripla com um médio a servir de apoio ao ponta de lança? É Baró ou Iván Jaime? André Franco é possibilidade para essa opção ou jogará mais a médio direito? Mas o sistema tático predileto de Conceição não privilegia dois pontas de lança? Muitas dúvidas.

    Posteriormente, existe a situação evidente da defesa – a mais crítica, na minha opinião. O FC Porto sempre se regeu pelo forte processo defensivo, com continuidade dos jogadores nas suas posições e, a partir daqui, pensariam no processo ofensivo. No entanto, Iván Marcano está lesionado de longa duração, Pepe é uma incógnita para todos os jogos (tantas vezes está lesionado como apto para jogo), Fábio Cardoso e David Carmo foram expulsos recentemente e, entretanto, a dupla de centrais dos dragões tem sido suplementada por Zé Pedro, um defesa central da equipa B, onde nem aí haveria convencido os adeptos portistas.

    Por exemplo, para o jogo na Catalunha, frente ao Barcelona, para a Liga dos Campeões, os dragões, muito provavelmente, apenas irão ter Fábio Cardoso disponível para o eixo defensivo. Isto porque Pepe e Marcano estão, neste momento, lesionados, David Carmo está castigado por uma série de amarelos e Zé Pedro não está inscrito na prova milionária. Zaidu, que poderia jogar a central, adivinhem? Também está lesionado. Portanto, a opção mais viável, para já, seria Marko Grujić a fazer companhia ao defesa-central ex-CD Santa Clara.

    Ainda falando da linha defensiva portista, o mesmo problema das temporadas passadas parece se manter: os laterais. Do lado direito, João Mário consegue acrescentar, principalmente em momentos ofensivos, critério nas suas decisões e dar um jogo ofensivo ao FC Porto. Não é conhecido pelo seu jogo defensivo, mas tem vindo a melhorar ao longo do tempo. Jorge Sánchez ainda tem correspondido bem quando tem sido chamado. Do lado esquerdo, o FC Porto tem um lateral que defende bem (Zaidu) e um lateral que ataca bem (Wendell). O problema é que nenhum parece cumprir as duas tarefas da melhor forma, algo que uma equipa como o FC Porto deveria ter obrigatoriamente. Diogo Costa vai escondendo muitas fragilidades desta linha defensiva – exemplo disso foi o jogo diante do Vitória SC, onde o guardião portista fez uma exibição extraordinária -, porém até quando?

    Onze inicial dos Dragões frente ao Vitória SC
    Fonte: Diogo Cardoso/Bola na Rede

    As posições mais avançadas parecem ser o ponto forte dos portistas. Com a manutenção de Taremi, ainda que em baixo de forma, os dragões não perdem a sua maior fonte de criatividade (face à saída de Otávio) a par de Pepê que ainda não sabemos bem onde jogará mais vezes e também parece estar em sub-rendimento. No entanto, até neste setor, Sérgio Conceição não tem descanso. Evanilson é uma constante dúvida por estar constantemente lesionado, mas quando está bem fisicamente, juntamente com o iraniano, formam a melhor dupla de ataque do campeonato.

    Gabriel Veron está igualmente com problemas e parecem ter sido 11 milhões de euros perdidos. Danny Namaso começou a época como titular e agora tem dificuldades em sair do banco de suplentes. Toni Martinez mantém-se regular a sair do banco, mas irregular nas exibições. Por fim, por onde anda Fran Navarro, o quarto melhor marcador do campeonato transato, com 17 golos – ainda por cima no Gil Vicente FC.

    Em suma, há muitas perguntas e ainda poucas respostas. O FC Porto e Sérgio Conceição precisam de responder (dentro de campo) a tudo isto. Enquanto existirem tantos pontos de interrogação, dificilmente o FC Porto se comportará com clareza dentro das quatro linhas.

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    Jovem entusiasta e curioso, o Raúl tem 18 anos e está prestes a ingressar na Universidade. O seu objetivo é fazer jornalismo, de preferência desportivo, até porque a sua paixão pelo desporto é infindável e inigualável. Desde pequeno que o desporto faz parte da sua vida. Adora ver, falar e escrever sobre futebol, nunca fugindo às táticas envolvidas no mesmo. O desporto-rei é, assim, a sua grande paixão e o seu refúgio para escapulir nos momentos em que a sua grave doença se faz sentir. Ainda assim, também se interessa bastante por NBA, futsal, hóquei em patins, andebol, voleibol e ténis. Acredita que se aprende diariamente e que, por isso, o desporto pode ser diferente. Escreve com acordo ortográfico.