A relação Pinto da Costa e Sérgio Conceição: quem depende de quem?

    Pinto da Costa é presidente do FC Porto desde 1982, enquanto que Sérgio Conceição é técnico principal dos dragões desde 2017.

    Pinto da Costa é presidente do FC Porto desde 1982 e se houve tema em que quase nunca falhou foi na escolha do treinador principal dos dragões. Desde o regresso de José Maria Pedroto, passando pela contratação de Bobby Robson (despedido do Sporting por Sousa Cintra, devido à eterna paixão por Carlos Queiroz, em uma decisão que mexeu no que é o futebol moderno português) até à aposta em José Mourinho, o dirigente foi sempre exímio na sua seleção, muitas vezes apostando em nomes surpreendentes, como Fernando Santos ou Paulo Fonseca.

    Em 2017, Sérgio Conceição foi o eleito por Pinto da Costa, para o ocupar a vaga deixada por Nuno Espírito Santo. Depois de passagens em emblemas como o Olhanense, a Académica, o Braga, o Vitória SC ou o Nantes, o antigo extremo chegara ao clube do seu coração, numa fase em que o Benfica tinha assumido a liderança do futebol nacional. Sérgio Conceição era considerado um bom treinador, com margem de evolução. Assistimos seu desenvolvimento e confirmou-se que  é um dos melhores técnicos portugueses da atualidade, depois da conquista de três Primeiras Ligas, três Taças de Portugal, uma Taça da Liga e três Supertaças.

    No entanto nem tudo é um “mar de rosas”. É óbvio que Sérgio Conceição evoluiu muito mais do que o FC Porto enquanto instituição nos últimos anos. O conjunto do Dragão é acusado de fazer uma má gestão dos seus ativos, levando muitos críticos a afirmar que a gestão financeira pode ser considerada “danosa”. Por outro lado, o técnico é visto como um “salvador da pátria”, conseguindo fazer muito com plantéis curtos e sem qualidade. Ora, uma mentira contada muitas vezes não se torna verdade. Se é um facto que o FC Porto vende mal, também o é que os azuis e brancos têm investido forte em vários reforços: David Carmo, Gabriel Veron, Nico González, Alan Varela… só para citar os mais recentes. Se Sérgio Conceição os aproveita ou não, é outra conversa. O que é certo é que o antigo internacional português está muito bem cotado no universo portista, que por vezes teima em não olhar para o “lado negro”.

    Pinto da Costa tem vindo a ser criticado nas últimas épocas. Outrora aclamado, com um discurso forte e cheio de dicas para os adversários, hoje em dia “esconde-se” atrás de uma direção que é frágil e de uma gestão do futebol que está bem longe da qualidade da de outrora. Era impensável ver um FC Porto fragmentado há 10 anos atrás. Era altamente provável que o FC Porto conseguisse fazer uma ou duas vendas por valores bem acima da média a cada mercado. Hoje em dia a instituição está totalmente quebrada, algo que ficou a nu com a ascensão de André Villas-Boas (outrora ao lado do presidente), que recebeu apoios importantes, como de Jorge Costa (com a célebre frase: “Este não é o FC Porto que defendi com alma e coração durante anos”), capitão vários anos da turma portista. Além disso, foi facilmente ultrapassado por Benfica e Sporting no que se trata de mercado.

    Com tudo isto, os adeptos e sócios precisaram de encontrar um novo herói, alguém para defender até à morte e “contra tudo e contra todos”. Sérgio Conceição foi eleito essa figura. Transformou-se no protagonista do FC Porto. Se o natural é o presidente estar no topo da pirâmide, neste caso é por demais evidente que é o técnico o líder máximo, no que ao futebol diz respeito (o caso do Sporting tem várias parecenças, mas como não existe crise, não se nota tanto).

    2023/24 não está a ser um bom ano para o FC Porto de Sérgio Conceição. Eliminados da Taça da Liga, no terceiro posto da Primeira Liga (a cinco pontos do primeiro lugar, mesmo distância para o quinto posto) e um futebol muito pobre, face aos protagonistas existentes. Pontos positivos: estão nos oitavos de final da Champions League (irão encontrar-se com o Arsenal) e mantêm-se na luta pela Taça de Portugal. Alguns aficionados acham este balanço pobre, nomeadamente os que no Estádio do Bessa mostraram lenços brancos a Sérgio Conceição, depois do empate face ao Boavista.

    Só existe uma maneira de Sérgio Conceição sair do Dragão, que é apresentando a demissão e isso seria a “morte antecipada” de Pinto da Costa. Há eleições em abril de 2024 e um dos seus pontos a favor (na ótica dos sócios) é o treinador. Caso o antigo internacional português abandonasse a turma da Invicta, Pinto da Costa teria que encontrar um novo treinador e já não tinha essa “carta na manga” contra André Villas-Boas.

    A presença de Sério Conceição é vital para Pinto da Costa voltar a vencer umas eleições, ainda para mais aquelas que prometem ser as mais renhidas desde que chegou à direção da instituição. Neste momento, é absolutamente seguro dizer que o presidente necessita mais do treinador do que o revés. Conceição terá bastante mercado no dia em que saia. Num balanço de todos os anos em que esteve no FC Porto, o saldo é positivo. Se terá sucesso em outro lugar, isso é um outro tema. Aqui a afirmação mais fácil de se fazer é que Sérgio Conceição só sai quando quiser, enquanto Pinto da Costa estiver no poder.

    Caso em abril de 2024 o trono passe a ser ocupado por outro, nem Pinto da Costa nem Sérgio Conceição terão razões para sorrir. Afinal, quem pode julgar um novo presidente demitir um treinador que esteja a realizar uma temporada abaixo das expectativas, ou que queira uma “lufada de ar fresco” no projeto?

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