Antes de mais, os meus parabéns a todos os benfiquistas pela merecida conquista do 33.º campeonato. Esta semana decidi mudar de cassete e escrever sobre um tema que veio à baila numa conversa que tive num blog. Nessa conversa disse (e reafirmo) que Alex Sandro, lateral do Porto, é o jogador mais completo da Liga. A primeira reacção que obtive foi um “estás maluco?”. “E Garay? Gaitán? Salvio? Markovic?”, atiravam os benfiquistas. “E William Carvalho?”, respondiam os sportinguistas. É uma questão delicada, compreendo. Por isso explicarei o porquê da minha escolha (tentando pôr de parte o meu portismo de forma total e procurando ser apenas um analista das componentes técnico-tácticas dos jogadores).
No Benfica há vários jogadores que são frequentemente apontados como os mais completos da Liga.
Garay – a par de Mangala (e num nível de maturidade superior, até), é de longe o melhor defesa central a actuar em Portugal! Soberbo no jogo aéreo, tecnicamente evoluído e muito bom nas dobras. É um central completo? Quase! Só lhe falta evoluir um pouco na maior capacidade de leitura de jogo e ter um poder de antecipação que lhe permita chegar à bola antes de o adversário lhe “ganhar a frente” (a única coisa que Luisão tem de melhor do que ele, pois considero-o um central muito limitado).
Gaitán – É risório dizer que Gaitán pode ser o melhor jogador da Liga. Porquê? É o jogador mais inconstante do plantel dos encarnados, alternando exibições brilhantes com “securas” de longas semanas. Faz lembrar… James Rodriguez. E mesmo assim James era (e é) muito superior. Tudo dito.
Salvio – É o jogador do Benfica que mais admiro, mas as suas lesões impedem-no de ser realmente considerado o melhor jogador a actuar em Portugal. Os “ses” que as maleitas levantam não podem ser substituídos por golos certos ou assistências…
Markovic – É uma piada também, só pode. Não é titular indiscutível, tem um enorme potencial e marca golos bonitos. E daí? Em jogos grandes, curiosamente, nem costuma ser titular… Precisa (e irá) crescer.

Fonte: benficapaixaomistica.blogspot.com
No Sporting, também há um nome que não pode ser ignorado quando se fazem estas contas.
William de Carvalho – Um senhor! Um senhor de potencial ilimitado, mas um senhor que precisa de tempo e espaço na “sombra” para, sorrateiramente, aparecer e dizer “eu estou aqui!” (não, não é no mesmo tom que o do melhor jogador português de sempre, CR7). William tem a visão de jogo de Moutinho, o poder de antecipação de Costinha, a verticalidade de Fernando e a capacidade de passe de Maniche. Então, o que falta a este “menino”? Falta-lhe afirmação, não só internacional, como até mesmo interna. Nunca me passaria pela cabeça, baseando-me apenas numa belíssima época, considerar William o jogador mais completo da Liga. Dêem-lhe mais uma época e ai falaremos… Embora seja um jogador que não deixe muitas dúvidas quanto à sua qualidade.
Posto isto, é justo agora dizer porque considero Alex Sandro o jogar mais completo da Liga (abro este parêntesis para lembrar que “mais completo” é muito diferente de “melhor”!): ora bem, o lateral portista é o chamado “atleta-nato”. Em duas épocas e meia de dragão ao peito, não existe um único jogo onde se possa dizer que o brasileiro tenha estado mal! Faz lembrar Moutinho: mesmo quando um jogo não lhe corria de feição, não sabia jogar mal! Pois, Alex é igual. Muito pontualmente pode errar, mas nunca o vemos deixar-se abalar por um erro, o que denota que é psicológica e emocionalmente muito forte. Tem também uma rapidez incrível e um pulmão “incansável”, a que alia a técnica típica de jogador brasileiro com “samba nos pés”. A nível defensivo, é enorme no 1×1, raramente é ultrapassado; já a nível ofensivo, convém dizer que o extremo adversário geralmente passa muito do seu jogo a… defender Alex Sandro, o que diz muito sobre a sua capacidade ofensiva.

Fonte: Zero Zero
No capítulo mais táctico, é o lateral em Portugal que dá maior profundidade à sua equipa. Com ele, as equipas jogam quase sempre com um “falso extremo” que flecte para o meio nos processos ofensivos da equipa (a lembrar James Rodriguez no ano passado ou até a “tentativa” de Paulo Fonseca de fazer o mesmo com Quintero ou… Licá). Dito isto, qualquer equipa com Alex Sandro pode baralhar marcações e ter uma alternância táctica que poucas equipas conseguem ter.
Para sustentar a minha teoria de que o brasileiro é um lateral completo, peguei em 20 clubes que estavam no último top da europa (19, visto que o Porto consta do ranking) e, comparando os seus laterais-esquerdos (isto quando não são apenas defesas) com Alex Sandro, pude ver que este tinha lugar na maioria das equipas. Para o efeito: 1= Alex Sandro; X= Empate e 2 = Jogador outra equipa (utilizei o jogador que actua preferencialmente do lado esquerdo da defesa com mais minutos).

Com base na tabela acima descrita, posso concluir que Alex Sandro era indiscutivelmente titular em 12 dos 19 clubes; em 2 seria “igual” jogar o brasileiro ou com o jogador da outra equipa e apenas em 5 “tubarões” Alex Sandro não tem, ainda (repito, ainda!), capacidade para ser um titular com facilidade: no Chelsea, Azpilicueta atingiu um pico de forma fenomenal e é dono e senhor do lugar; Filipe Luís (Atlético) e Chiellini (Juventus) fazem da sua experiência a vantagem sob Alex Sandro; Marcelo (Real Madrid) é… Marcelo e David Alaba (Bayern), para mim, não tem igual na sua posição.
Depois de tudo isto, fica aqui o motivo por que considero Alex Sandro o jogador mais completo a actuar em Portugal: olhei para as características do atleta em função da sua posição específica. Como foi Cannavaro eleito o melhor jogador do mundo em 2006? Fácil, adaptaram a mesma forma de olhar para um jogador que eu: posição/qualidades específicas que a mesma requer. E, vendo as coisas desde modo, Alex Sandro é sem dúvida um jogador que não tem “pontos negativos”, o que é raríssimo no mundo do futebol. Acabo a sublinhar uns dos parêntesis feitos acima: ser o jogador mais completo não significa ser o melhor jogador do campeonato!
Espero, assim, ter podido mostrar de forma clara a minha forma de analisar um jogador e as suas características. Não podemos comparar um avançado com um defesa; devemos olhar para cada caso como um caso único de análise! Até para a semana, caros (des)portistas!