Após um empate com uma exibição sofrível no último fim-de-semana, e com a imperiosa necessidade de vencer o encontro de hoje para manter intactas as aspirações à passagem aos oitavos-de-final da Liga dos Campeões, esperava-se que o FC Porto entrasse forte e determinado no jogo de hoje. Foi o que aconteceu. A primeira parte foi completamente dominada pelo FC Porto.
Como se adivinhava, o Zenit apresentou-se na expectativa, com as linhas recuadas, apostando essencialmente no contra-ataque para causar mossa. A verdade é que raramente chegaram com perigo ao reduto azul e branco.
Durante o primeiro tempo, os portugueses jogaram permanentemente no meio-campo adversário, imprimindo uma intensa pressão alta e trocando a bola com critério, apesar da boa organização defensiva dos russos. A maior parte dos duelos no meio-campo foram ganhos pelos dragões. Jackson, Varela, Lucho, Josué, Danilo e Defour – todos eles ameaçaram a baliza de Lodigin durante os primeiros quarenta e cinco minutos, o que demonstra o volume ofensivo do FC Porto durante este período.
À passagem do minuto 27, a cruzamento de Danilo, Lucho deu vida ao ditado “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura” e, de cabeça, fez balançar as redes do Zenit. Porém, três minutos depois, os adeptos portistas experimentaram um penoso déjà vu: tal como no jogo anterior, uma inexplicável desconcentração defensiva permitiu ao adversário chegar ao empate. Desta vez, o erro foi de Helton, que demorou a reagir a uma bola perdida na entrada da área e, perante a incredulidade de Alex Sandro, permitiu ao incrível Hulk ganhar em antecipação e finalizar sem dificuldade.
El Comandante, pelo golo e pela serenidade que emprestou à equipa em cada movimento, esteve em destaque na primeira parte. Tomou quase sempre as melhores decisões e endossou a bola com mestria. Também Josué, pela capacidade técnica, qualidade de passe, facilidade de remate e, acima de tudo, pela disponibilidade táctica que apresentou para oscilar entre a ala e o centro do terreno, baralhando as marcações contrárias, foi um dos elementos em maior evidência.
Na segunda metade, o jogo mudou. O Zenit entrou com uma estratégia diferente – o que, de resto, era previsível – e foi mais ambicioso na procura do golo: passou a defender mais à frente, condicionando a primeira fase de construção do ataque portista; passou a recuperar mais bolas no meio-campo do FC Porto e procurou incutir mais largura e velocidade na hora de atacar.
A disponibilidade física e mental dos jogadores foi decrescendo progressivamente e o Zenit foi criando cada vez mais perigo. De resto, a grande ocasião do Zenit na segunda parte resultou de mais uma falha inexplicável da defesa portista: Otamendi – desastrado, hoje, de novo – passou a bola a Hulk e o brasileiro fugiu, disparado, em direcção à baliza. No momento do remate, Otamendi fez um carrinho e cortou a bola com o braço, oferecendo um penalty aos russos. Felizmente, o ex-FC Porto claudicou na cobrança do castigo máximo e permitiu a redenção de Helton, que agarrou o empate.
Com Lucho e Josué sem o mesmo tempo para executar e sem o gás da primeira parte, o FC Porto voltou a sentir algumas dificuldades em ligar o seu jogo e a circulação de bola perdeu fluidez. A falta de soluções disponíveis para o centro do terreno (Quintero lesionado; Herrera castigado e Carlos Eduardo não inscrito) acabou por condicionar a acção de Paulo Fonseca a partir do banco. O técnico portista só fez a primeira substituição à entrada para o último quarto de hora: Licá substituiu Josué, numa altura em que a transição rápida era a única solução para chegar à área adversária. A cinco minutos do fim, o treinador decidiu fazer Ghilas entrar para o lugar de Lucho, em desespero, como tem sido habitual – uma decisão que, na minha perspectiva, pecou por tardia. O argelino só tem entrado quando o final se aproxima e nunca tem tempo para criar real impacto no jogo.
A exibição esteve longe de ser má, todavia impunha-se mais acutilância e clarividência na última meia hora. O FC Porto podia ter marcado mais do que um golo, mas também podia ter saído derrotado deste jogo. O melhor em campo (e, acrescentaria, o melhor da época até agora) foi Fernando, que revelou um enorme empenho e apresentou um excelente desempenho.
Considerando que o domínio foi repartido – o FC Porto subjugou o Zenit na primeira parte e o Zenit partiu para cima do FC Porto na segunda -, o resultado acaba por se ajustar às incidências da partida. Os portistas ficam, agora, a depender de um escorregão do Zenit para chegar aos oitavos-de-final da Liga dos Campeões.