Que papel para Nakajima?

    De um modo geral, tem sido um arranque auspicioso para a maioria dos reforços do FC Porto. Uribe pegou de estaca no meio campo e já mereceu, inclusive, os pouco habituais elogios públicos do treinador, Marcano assumiu, sem surpresas, o seu posto no centro da defesa, Marchesín, pode dizer-se, fez esquecer Iker Casillas num par de jogos, Zé Luís trouxe os golos que vão faltando a Soares e Luís Diaz, desconcertante ala colombiano, é dono e senhor da banda esquerda.

    Pelo lado mais negativo importa apontar os nomes de Saravia, que ainda não mostrou argumentos suficientes para ganhar a corrida pela lateral direita da defesa e de Nakajima que, por entre o nascimento do filho e as opções do treinador, poucas oportunidades tem tido para mostrar o seu valor.

    Ora, é precisamente sobre o nipónico que incide o artigo de hoje. Depois do jogo do passado domingo em Portimão, Sérgio Conceição dirigiu-se ao jogador visivelmente irritado e colocou o nome do japonês na ordem do dia. Nakajima foi o reforço mais caro da época. Custou 12M€ à SAD azul e branca mas chegou ao clube num negócio avaliado em 24M€, uma vez que o FC Porto apenas comprou metade dos seu direitos económicos. Parece-me, a mim, um negócio, no mínimo, arriscado para um jogador que apenas se destacou, muito é verdade, a jogar no SC Portimonense, sem experiência de clube grande e com claras debilidades no momento defensivo. No entanto, é um jogador de inegável qualidade e que poderá aportar fantasia, golo e qualidade de passe ao jogo do FC Porto, assim Sérgio Conceição o entenda.

    Mas afinal que papel e que espaço poderá ter Nakajima no onze do FC Porto? Sabe-se que a sua posição preferencial, ou pelo menos aquela onde se destacou em Portimão, é a de extremo esquerdo. É a jogar nesta banda que se sente mais confortável, partindo da ala para o centro, privilegiando os movimentos interiores, e deixando, desta forma, a exploração do corredor a cargo do lateral. Foi, aliás, a partir da esquerda que Nakajima se apresentou a bom nível na seleção do seu país nesta última paragem para seleções. No entanto, Luís Díaz, jogador que tem vindo a alinhar nessa posição, parece encher as medidas a Sérgio Conceição e, a julgar pelas suas recentes exibições, não parece que venha a dar tréguas na luta pelo lugar, pese embora as suas limitações no momento da decisão.

    Outra possível solução para o japonês poderia ser a zona central do terreno. Ainda assim, e embora considere que seria a melhor solução para o jogador e para o jogo do FC Porto, muito dificilmente Sérgio Conceição se prestará a subtrair um dos avançados (Zé Luís ou Marega) para colocar Nakajima no apoio a um deles. Está visto que o estilo do técnico portista irá sempre sobrepor a potência e a profundidade ao toque curto e circulação.

    Zé Luís e Luís Díaz têm estado em destaque e não desarmam na luta por um lugar no onze
    Fonte: Bola na Rede

    Resta, portanto, a opção de encostar Nakajima à direita, posição que vem sendo ocupada por Romário Baró e que tem Corona como solução mais evidente assim que algum dos laterais direitos do plantel se chegue à frente. Todavia, colocar o jogador nesta posição seria um duplo erro. Por um lado, iria prejudicar a equipa, por outro, iria queimar o jogador. A falta de vocação de Nakajima para este posto é demasiado evidente e tirá-lo da zona de conforto poderia contribuir para o descrédito do jogador aos olhos dos adeptos e para aniquilar, ainda mais, os seus níveis anímicos. A menos que se encontre uma solução na qual lhe seja permitido passar a maioria do tempo na zona central, fugindo à armadilha do corredor direito, não me parece que esta seja a melhor solução.

    No entanto, independentemente do espaço do terreno que pudesse vir a ocupar, parece evidente que Nakajima não oferece à equipa, no imediato, aquilo que Sérgio Conceição pretende. Descordando eu, veementemente, da atitude do treinador do FC Porto (veremos se não terá consequências gravosas na gestão do balneário) no final do encontro frente ao Portimonense, não posso deixar de compreender os motivos da sua insatisfação. O nipónico entrou no jogo displicente e cometeu erros de palmatória no capítulo defensivo. Ora a surgir em pressão em terrenos que não os seus ou a falhar na marcação ao lateral contrário, Nakajima esteve desastroso no momento defensivo. A agravar toda a situação, o japonês foi errático com bola e acabou a prejudicar a equipa dada a facilidade com que perdia a posse de bola em zonas proibidas. Isto torna-se mais difícil de compreender num jogador a quem o clube e o treinador e o clube deram a mão num momento delicado da sua vida e de quem se esperava uma atitude mais competitiva até como forma de agradecimento.

    Apesar do seu enorme talento, Nakajima terá que perceber rapidamente as dinâmicas da equipa e, acima de tudo, inteirar-se definitivamente do modo de trabalhar do seu novo treinador. Está visto que o elevado preço pago pela sua contratação não será suficiente para lhe garantir um lugar no onze. Quanto a Sérgio Conceição terá que gerir esta questão com pinças. É um ativo demasiado caro e valioso para ser desperdiçado e não é com chacinas na praça pública que o jogador recuperará a confiança que parece perdida. Em último caso, se Nakajima falhar, parte da culpa terá que ser assacada ao treinador que não conseguiu, por via do treino ou do discurso, dotar um jogador talentoso de maior disciplina tática e incutir-lhe os seus princípios de jogo. Neste momento, enquanto líder, cabe a Sérgio Conceição reabilitar o jogador e não o deixar cair neste momento difícil. A qualidade está lá e é responsabilidade da equipa técnica garantir que esta é posta em campo ao serviço e em benefício do coletivo.

    Assim, para concluir, não se afigura fácil o caminho de curto prazo de Nakajima no FC Porto. Resta-lhe trabalhar com afinco, debelar as suas lacunas e aguardar uma nova oportunidade que certamente chegará para demostrar toda a sua, inegável, qualidade.

    Foto de capa: FC Porto

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    Bernardo Lobo Xavier
    Bernardo Lobo Xavierhttp://www.bolanarede.pt
    Fervoroso adepto do futebol que é, desde o berço, a sua grande paixão. Seja no ecrã de um computador a jogar Football Manager, num sintético a jogar com amigos ou, outrora, como praticante federado ou nos fins-de-semana passados no sofá a ver a Sporttv, anda sempre de braço dado com o desporto rei. Adepto e sócio do FC Porto e presença assídua no Estádio do Dragão. Lá fora sofre, desde tenra idade, pelo FC Barcelona. Guarda, ainda, um carinho muito especial pela Académica de Coimbra, clube do seu pai e da sua terra natal. De entre outros gostos destacam-se o fantástico campeonato norte-americano de basquetebol (NBA) e o circuito mundial de ténis, desporto do qual chegou, também, a ser praticante.