Quintero: “no meio é que está a virtude”

    a minha eternidade

    Nas últimas duas partidas do Futebol Clube do Porto, o colombiano Juan Quintero actuou em duas posições distintas no 4x3x3 da equipa. No jogo da Madeira, para o campeonato, frente ao Marítimo, descaiu para a faixa esquerda; no embate da Taça da Liga, frente à Académica, entrando depois do intervalo, laborou no meio e dinamizou requintadamente os azuis e brancos.

    Frente aos maritimistas jogou muito afastado da baliza, incapaz de penetrar nos últimos 30 metros em profundidade, foi inábil nas diagonais e a invadir espaços mais interiores, sendo que a equipa da casa fechou muito bem essa zona nevrálgica. Esteve muito apagado e desinspirado, o que levou o treinador a substituí-lo ao intervalo, entrando para o seu lugar Cristian Tello.

    No desafio contra os estudantes, o artista colombiano, apesar de ter muitas vezes recuado para iniciar a construção de jogo da equipa, dando critério e segurança na circulação de bola, pisou terrenos mais avançados – a tal zona de definição. Jogou próximo do avançado e esteve excepcional no último passe: duas entregas suas deram golo, tendo feito ainda outras aberturas perigosas para os colegas finalizarem.

    Parece-me inegável que Quintero joga melhor se estiver incumbido de definir jogadas. Não é um número 10 em termos de organização de jogo, não pauta a circulação de bola em organização ofensiva. É, sim, um jogador de último passe ou remate. Esta intermitência exibicional (dois jogos de inspiração distinta) não deve apenas ser explicada pelas prestações do extremo no micro cosmos portista ou pela concepção táctica do seu treinador.

    Sobre este jogador influi também um pensamento conjuntural, uma moda estilística actual, que deporta para as alas os criativos, os tecnicistas, os craques da bola contemporâneos. Vivemos num tempo que convive bem com o dogma que afirma que a zona central é para pressionar e roubar bolas, sendo as alas os únicos espaços onde a magia pode germinar. Estes tecnicistas com aptidões inatas como qualidade na condução de bola, confiança para controlarem a circulação do esférico, capazes de inventarem fintas desconcertantes, têm, nos dias de hoje, apenas lugar no “desterro” que são as faixas junto à linha lateral (lembremo-nos do caso de James Rodriguez no Porto, entre vários outros exemplos).

    Quintero tarda em afirmar-se em definitivo Fonte: Página de Facebook de Juan Quintero
    Quintero tarda em afirmar-se em definitivo
    Fonte: Página de Facebook de Juan Quintero

    Voltando concretamente ao jogador portista (visto que nunca esteve em causa o seu talento), o argumento mais vezes utilizado como justificação para a sua não inclusão no onze inicial era o da sua anarquia táctica e posicional, lacunas que, para alguns, perturbavam o momento de transição defensiva e posterior organização para a recuperação de bola. Outra das lacunas apontadas que explicaria a pouca preponderância do portista era uma suposta irregularidade exibicional – a cada partida de especial inspiração, seguir-se-ia outra de fraca qualidade. Por último, a catalogação de inexperiente, tornava-o desajustado para os desafios competitivamente mais exigentes; subsistia uma crença global na falta de arcaboiço para a resolução de problemas num patamar competitivo superior. Este craque sul-americano tem capacidade (se devidamente apoiado pelo trabalho diário do seu treinador) para desmistificar estas ideias feitas e de fundamento duvidoso. O seu posicionamento defensivo poderá ser (se devidamente enquadrado num comportamento colectivo) perfeitamente complementar com o dos seus companheiros (não acho que o Porto tenha demonstrado inconsistência com o fantasista em campo). A alegada inconstância exibicional e inexperiência do criativo podem ser combatidas e minoradas com tremenda facilidade. Basta Julen Lopetegui atribuir mais minutos de jogo e definir a posição de actuação deste elemento (na minha opinião teria de ser indubitavelmente a de médio ofensivo).

    A estrutura de futebol dos dragões, em vez de arranjar subterfúgios para não o colocar no terreno de jogo (não estou a afirmar que o faça efectivamente), deveria arranjar forma de integrar na plenitude este artista, tão importante para debelar as lacunas no último terço do campo (como a finalização que vem denotando pouca eficácia) que têm impedido que o FC Porto esteja melhor classificado no campeonato nacional.

    Foto de capa: Página de Facebook de Juan Quintero

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