Esta semana de paragem nas competições nacionais ficou marcada pela especulação em torno do regresso de Ricardo Quaresma ao Dragão. De acordo com os três jornais desportivos portugueses, Harry Potter – assim lhe chamou Laporta -, é a prioridade da estrutura portista no “regresso aos mercados”, em Janeiro. Actualmente, o antigo jogador de Barcelona, Inter e Chelsea tem trinta anos e está no desemprego. O que levaria um clube da dimensão do tri-campeão português a contratar um jogador nestas circunstâncias?
Utilizar o “mercado de inverno” para trazer experiência ao grupo foi a política seguida nos últimos dois anos. Se em Janeiro de 2011 tudo correu muito bem – Janko foi útil nos seis meses em que envergou a camisola azul e branca e Lucho voltou para comandar a equipa rumo ao título -, a operação em Janeiro de 2012 já não foi tão feliz – Liedson veio acrescentar muito pouco à equipa e será somente recordado pelo passe decisivo no “momento K” e a vinda de Izmailov tem resultado na novela que todos conhecem e ninguém percebe.
Desde o início da época que a ausência de um extremo preponderante no plantel (um Drulovic, um Capucho, um Hulk, um… Quaresma dos velhos tempos) tem apoquentado as hostes azuis e brancas. Neste momento, o FC Porto tem vários jogadores que podem desempenhar essa função. A força e a experiência de Varela, o portismo e a raça de Licá, a irreverência e a juventude de Ricardo e Kelvin e até as adaptações de Josué ou Quintero são as cartas com que Paulo Fonseca pode jogar. Há ainda uma incógnita, o tal russo a contas com “problemas familiares” há dois meses.
Falta, de facto, alguém capaz de “pegar de estaca” e de ser uma figura central no ataque dos dragões. Faz, por isso, sentido supor que a compra de um jogador para esta posição será a prioridade em Janeiro. O que não faz sentido é achar que o extremo que falta ao FC Porto é Quaresma.
Respeito muito o Quaresma. Mais do que isso, admiro-o. Haverá poucos portistas que não se lembrem com carinho dos jogos em que levou a equipa às costas e que não recordem com saudade os golos, as trivelas, os dribles e todos os momentos de magia proporcionados pelo “ciganito”. Quaresma ajudou a escrever algumas páginas bonitas da história do clube e foi protagonista em algumas delas. Não se trata de ingratidão ou antipatia pelo jogador. Pura e simplesmente, não acredito que, na prática, possa ser uma mais-valia para a equipa.
Quaresma tem trinta anos. Já não disputa um jogo oficial há mais de meio ano – a sua última experiência foi no Al Ahli Club, clube dos Emirados Árabes Unidos, treinado por Quique Flores – e foi recentemente operado ao joelho. Tenho sérias reticências quanto à sua condição física actual e não acredito que consiga adquirir o ritmo competitivo necessário para ser titular do FC Porto na segunda metade da temporada. Não sem a velocidade de execução que já teve e que sempre foi o seu grande trunfo.
Não me parece estranho que o empresário de Quaresma tenha encetado conversações com dirigentes portistas no sentido de recolocar o jogador no único clube onde foi realmente grande. Estranho seria – isso sim – ver o FC Porto realmente interessado neste regresso. Embora fosse uma transferência a custo zero e o salário viesse a ser substancialmente reduzido, limitando as consequências de um fracasso, a verdade é que o investimento num jogador que há muito deixou de ser regular é absurdo. Quaresma não está em condições de assumir a titularidade no FC Porto.
O FC Porto precisa de um extremo. Esse extremo não é Quaresma. E, ou muito me engano, ou a estrutura azul e branca já percebeu isso…