No passado fim-de-semana, o apito final de João Pinheiro que confirmou o triunfo do FC Porto no Estádio D. Afonso Henriques, confirmou, também, a quebra de um recorde com largas dezenas de anos. Bem sei que, por si só, não vale títulos, mas é um feito que me parece que não mereceu, da parte da comunicação social, o merecido destaque. São 57 jogos seguidos sem perder num caminho que contou com inúmeros jogos de grande cartaz.
Uma vez mais, repito, não vale troféus, mas o tempo que passou desde a anterior marca, alcançada pelo SL Benfica de John Mortimore na década de 70, diz bem da dificuldade de, num futebol moderno e cada vez mais competitivo, quebrar um recorde destes. É infinito o mérito do FC Porto e deve ser ressalvado.
Uma motivação extra na nossa caminhada: ⚡𝗿𝗲𝗰𝗼𝗿𝗱𝗲 𝗻𝗮𝗰𝗶𝗼𝗻𝗮𝗹⚡ de jogos sem perder na Liga💙#FCPorto #ComoNósUmdeNós pic.twitter.com/krxDkUpBE5
— FC Porto (@FCPorto) April 10, 2022
No entanto, neste momento, mais do que destacar os indiscutíveis méritos do clube como um todo, é, para mim, da mais elementar justiça dar relevo ao papel do homem, do rosto deste recorde. Goste-se mais ou menos do estilo, aprecie-se mais ou menos a forma como a equipa joga, este recorde é, acima de todos os outros, de Sérgio Conceição.
Permitam-me ir mais além. Estes últimos 5 anos, nos quais os portistas contam mais sucessos do que insucessos (a comparação com a meia década anterior é inequívoca), em muito se devem ao trabalho do treinador. Não sendo responsabilidade de um só homem, foi muitas vezes um homem só que se encarregou de comandar o navio. Navio esse que, há 5 anos, no verão de 2017, navegava à deriva, sem rumo e ameaçava naufragar.
Apologista decidido da sua incorporação nos quadros do FC Porto, nem sempre (ou quase nunca) fui fã da forma como colocava a equipa a jogar. Em abono da verdade, esta equipa do FC Porto, versão 2021/2022, a 5.ª do técnico portista, é a primeira que me vai enchendo mais ou menos as medidas. No entanto, reconheço a Sérgio Conceição méritos que vão muito para além da nota artística.
Sérgio Conceição (e nem sempre concordei com a forma ou conteúdo) tem sido quase voz única na defesa intransigente do FC Porto e é, hoje, a mais importante figura do clube. Com mais ou menos recursos, com mais ou menos pedras no caminho, com o sem Luis Díaz, comanda as tropas com mestria e, ainda que muito mais vezes com recurso à técnica da força do que à força da técnica, garante, ano após ano, equipas competitivas e capazes de lutar por títulos.
Dentro e fora do campo, tem sido Sérgio Conceição, escudado pela sua equipa técnica (que merece, também ela, uma palavra de apreço), o farol de um clube que havia perdido o norte. E como tão “carinhosamente” lhes chamam na capital, as gentes do Norte agradecem.
E é por isto e muito mais que o treinador portista vai (como bem merece) ficar para a história como o rosto do recorde e será precisamente o nome do técnico dos arredores de Coimbra (como hoje é o de John Mortimore) a ser recordado quando outra equipa e, seguramente, outro grande treinador, quebrarem a façanha deste FC Porto de autor.
Termino relembrando, como tantas vezes o faz Sérgio Conceição, que os recordes, que têm sempre peso histórico, não têm significado no presente, se não chegarem acompanhados por títulos. Como tal, restam 5 jogos para o final do campeonato e importa garantir que os 6 pontos de vantagem não se perdem e, já agora, que a marca recorde alarga, dificultando (ainda mais) a vida a futuros aspirantes.