Após algum período de reflexão, no meio de textos começados e apagados e sem ideias que me fizessem construir mais de duas ou três linhas, eis que ouvi, num certo programa desportivo, as declarações de Paulo Fonseca após o jogo com o Paços de Ferreira, jogo esse que, como é sabido, venceu por 3-0, mas cuja pálida exibição da equipa não foi possível disfarçar. Nestas mesmas declarações, o timoneiro azul-e-branco ainda disse mais coisas, como “fico preocupado é com os jogadores, que isso lhes retire tranquilidade, sendo que eles mostraram sempre grande personalidade” (esta é a “nota2”, sendo que a “nota1” faz jus ao título do meu texto) ou “a boa organização defensiva do Paços de Ferreira dificultou imenso a nossa entrada no último terço do terreno. Quando o Paços resolveu atacar mais, houve mais espaço, e daí os nossos dois golos, que ainda podiam ter sido mais. A minha mensagem para os jogadores foi que a nossa circulação de bola teria de ser mais rápida, mas feita de forma paciente” (nota3).
E, agora, vou analisar estas três notas individualmente, e perceber o que realmente se passa na cabeça de Paulo Fonseca.
Nota 1: Não terá o nosso homem do leme confundido “não sinto pressão” com “tudo bem”? Parece que dizer que está tudo bem se os adeptos o assobiarem é um tiro nos próprios pés… Ficava-lhe melhor uma resposta ao estilo de José Mourinho: “Pressure? I don’t feel pressure!”, ponto final, parágrafo. Mas não, Paulo Fonseca falou como treinador de equipa pequena (com todo o respeito pelos “não grandes” de Portugal!). E é com base neste “treinador de equipa pequena” que vou continuar a analisar estas declarações e assim expor a minha ideia sobre Paulo Fonseca.
Nota 2: Alguém que, dentro do seu entender muito superior de futebol, me faça o favor de dizer em que parte do jogo os jogadores do Porto pareceram tranquilos e com grande personalidade…? Vi um Porto quase a sofrer golo por um erro defensivo, aos 18 minutos (remate de Seri para grande defesa de Helton); aos 25, novamente o Paços a cheirar o golo (Del Valle, isolado, permite boa intervenção do guardião do templo Portista) e, na sequência desse mesmo canto, Helton falhou clamorosamente e Danilo evitou o 0-1 (que não seria totalmente injusto…), em cima da linha de golo. Tranquilidade? A haver, foi excessiva, dadas as ofertas defensivas… Personalidade? Sim, mas muito negativa.
Nota 3: Completamente descabida. Porquê? Vamos por partes… O Paços não tem uma boa organização defensiva, e vamos a factos: é a pior defesa da principal liga portuguesa (34 tentos encaixados em 18 jornadas) e ainda tem mais golos sofridos que 13 equipas da segunda liga (e aqui a comparação é injusta, pois a segunda liga é muito mais competitiva do que a primeira, basta ver os golos marcados-sofridos e diferenças pontuais). Podemos sempre dizer que o Paços meteu o “autocarro” no Dragão, e provavelmente essa seria a ideia, mas, como dizia um comentador desportivo, “o Paços até poderia querer pôr o autocarro, mas a verdade é que o Porto ainda não saiu dele…” (isto no decorrer da primeira parte). Pura e simplesmente, víamos jogar o Paços a seu bel-prazer, como vimos o Estoril, durante toda a primeira parte… Estamos conversados sobre esta parte. A segunda parte da teoria de Paulo Fonseca prende-se com o facto de o Porto ter conseguido marcar golos porque os visitantes quiseram atacar mais e abriram espaços. Tudo bem até aqui, não? “By the book”, portanto… Com a diferença de que o livro não previa que os pacences chegassem ao fim da partida com esperanças de desfazer o resultado Portista e, sejamos sinceros, os dois golos são fortuitos: dois lances de duas perdas de bola que, não sendo nada parecidas, foram do género das duas que proporcionaram a Helton brilhar na primeira parte, só que aos 88 e 91 minutos.
Por último, e entrando em domínios mais tácticos (do ponto de vista de quem assistiu e não do que o relvado poderia transmitir), afirmar que a circulação de bola teria de ser “mais rápida mas feita de forma paciente”, foi de todo a antítese do jogo Portista: vimos um Porto (mais uma vez) sem ideias, a fazer uma circulação muito lenta e atabalhoada, tentando excessivas vezes “largar” a bola em Quaresma ou em Alex Sandro, quando não era bombeada em Jackson. Carlos Eduardo já se faz sentir? Sim. A entrada de Quintero, aos 58 minutos, para render Josué e a inversão total do triângulo do meio-campo ajudaram a melhorar essa tal circulação de bola? Parece que não existem dúvidas de que sim. Com isto, podemos concluir que Paulo Fonseca, mesmo que tenha tentado, não conseguiu passar a mensagem aos jogadores. Isto é preocupante… Quem é o nosso líder em campo, após a saída de Lucho? Fernando? Talvez. Helton? Joga demasiado atrás para poder usufruir da sua influência durante o jogo. Estamos a precisar de sangue novo, e esse sangue trouxe frutos! Quintero mexeu com o jogo, Licá (sim, até esse!) assistiu Jackson para o segundo golo, e Ricardo, cerca de 30 segundos após entrar, tem a sorte de fazer um golo.
Será este um ponto de viragem no Porto e, mais importante, em Paulo Fonseca? Espero bem que sim! Porque sou totalmente contra chicotadas psicológicas a meio da época, acho que nunca podem trazer nada de bom a uma equipa que ainda lute por algum título, salvo raras excepções. Agora, Villas-Boas está à espreita; Jorge Jesus, caso não seja campeão, já se sabe que tem Marco Silva “à perna” e, mais importante que tudo, sabe-se que existe uma vontade de Pinto da Costa em contratar um treinador experiente internacional para um futuro próximo (Manuel Pellegrini admitiu que recebeu proposta dos azuis-e-brancos, na época passada, e que tudo estava certo, até aparecer um tal de Machester “milhões” City, para muita pena minha).
Com tudo isto, o que os Portistas desejam? O bom futebol a que estamos habituados, golos, ver jogadores a jogar com orgulho à camisola e, acima de tudo, TÍTULOS! E títulos não são taças da Liga, ou até só uma taça de Portugal. Sabem a que me refiro.
Aguardo, ansiosamente, que o meu desejo de ver Paulo Fonseca a crescer mentalmente, enquanto treinador do Porto, ainda venha a tempo de festejar mais um dos muitos títulos, que só espero que não seja na Luz, visto que as coisas não andam muito bem a nível de estruturas por lá… Continuo contigo, Paulo Fonseca. És o treinador de todos os Portistas! Mas “bora lá”, precisamos de mais stamina!