Somos mesmo todos iguais?

    eternamocidade

    Escrever para o Bola na Rede esta semana não é tarefa fácil para mim. Não que seja um tormento, pois nunca o é; mas pela dificuldade que tive em escolher apenas um entre os muitos temas que pairaram sobre o meu pensamento. Entre uma análise à brilhante exibição portista em Basileia e um artigo relativamente ao campeonato da vergonha 2014/2015 – que teve em Moreira de Cónegos mais um capítulo de uma história pintada de vermelho – devo admitir que a escolha para esta semana não foi simples. Relativamente ao jogo dos oitavos de final da Liga dos Campeões, penso que a brilhante crónica do meu colega Filipe Coelho, na quarta-feira, disse tudo sobre aquilo que foi o comportamento dos jogadores no St. Jakob-Park. No que diz respeito ao campeonato da vergonha, penso que os dados são tão claros que mais umas linhas sobre o assunto no Bola na Rede seria, em bom português, “chover no molhado”.

    Por isso, opto por nesta crónica abordar a única má notícia que os portistas tiveram no jogo da última quarta-feira: a lesão de Óliver Torres. Pouco depois dos 60 minutos, o médio espanhol caía no relvado após um choque com um jogador do Basileia. O pior veio com a imagem das queixas de Óliver em relação ao seu ombro direito. Esta foi aliás a segunda vez que o atleta emprestado pelo campeão espanhol Atlético de Madrid sofreu do mesmo mal. Na primeira ocasião, havia sido no momento do 2-0 na partida contra o Moreirense. Nessa altura, a luxação no ombro obrigou-o a uma paragem de sensivelmente um mês e à ausência em quatro partidas.

    Ao olhar para o plantel portista desta temporada, rapidamente se chega à conclusão de que, para as várias posições do terreno, o que não faltam são opções para Julen Lopetegui. Essa é uma ideia que tem sido repetida até à exaustão e que faz do plantel portista 2014/15 um dos melhores da história do clube. Num mero exercício demonstrativo, basta reparar na quantidade de jogadores que existe, por exemplo, para o último terço de terreno. Quaresma, Tello, Brahimi, Hernâni, Ricardo, Adrián López, Aboubakar e Jackson são todos eles protagonistas e exemplos claros da riqueza do plantel portista para esta temporada. Bem sei que nem sempre são os nomes que ganham jogos e campeonatos, mas é bom convir que, quando comparado com a época passada, de facto, Lopetegui não podia pedir muito mais.

    Óliver é o dínamo do meio-campo azul e branco  Fonte: Facebook do FC Porto
    Óliver é o dínamo do meio-campo azul e branco
    Fonte: Facebook do FC Porto

    Ainda assim, e como sempre acontece, o sucesso ou insucesso de uma equipa ao longo da temporada baseia-se na consolidação de uma equipa, na chamada espinha dorsal. Depois de dois/três meses em que Lopetegui andou “à deriva” para encontrar uma equipa – o que lhe custou o afastamento da Taça de Portugal e a perda de pontos decisivos no campeonato – o técnico espanhol foi progressivamente conseguindo mexer pouco na estrutura da equipa, o que acabou por lhe trazer vitórias sucessivas e um crescimento sustentado que se reflete na própria qualidade exibicional do FC Porto. Com efeito, para a consolidação da equipa, em muito contribuiu a própria consolidação do meio-campo. A junção do tridente Casemiro, Herrera e Óliver veio trazer ao miolo portista quatro premissas essenciais para a qualidade do jogo portista: agressividade, intensidade, dinâmica e velocidade. De forma sustentada, o FC Porto foi crescendo na sua “sala de máquinas táctica”, dinamizada pela agressividade de Casemiro, pela intensidade de Herrera e sobretudo pela imaginação dada por Óliver Torres.

    Como em qualquer construção, a falta de um destes três pilares poderá ser prejudicial a curto prazo para a equipa azul e branca. Depois de um jogo para a Liga dos Campeões onde a maioria da crítica destacou a exibição portista, apelidando-a de brilhante e dominadora – basta ver as declarações de Fabian Frei, médio do Basileia – a pior coisa que poderia acontecer ao FC Porto seria ver um dos seus jogadores mais influentes lesionar-se novamente.

    Basta olhar para o histórico desta temporada para perceber a influência de Óliver Torres na dinâmica da equipa: num total de 35 jogos oficiais já realizados, o médio espanhol esteve ausente em apenas seis dos encontros. Aliás, Oliver – com 29 jogos e 2011 minutos somados –  é mesmo o quarto jogador mais utilizado por Julen Lopetegui, apenas atrás de Jackson (31 jogos, 2631 minutos), Herrera (31 jogos, 2303 minutos) e Danilo (30 jogos, 2665 minutos).

    Curiosamente, dois dos três jogos que o internacional pelas camadas jovens espanholas falhou no campeonato resultaram em perda de pontos para a equipa portista: empate a um em Guimarães e a zero, em casa, na recepção ao Boavista. Coincidência ou não, o que é facto é que Óliver Torres voltará a ficar ausente no duelo contra os axadrezados. Contudo, mais do que a ausência no derby de amanhã no Estádio do Bessa, o mais preocupante é que se prevê que o médio espanhol só regresse à competição daqui a exatamente a um mês, no duelo da 26.ª jornada, marcada para o dia 22 de março, em casa do Nacional da Madeira. Até lá, é expectável que o jovem médio, para além do jogo com o Boavista, falhe o clássico do próximo domingo com o Sporting, o duelo escaldante em Braga, a segunda mão decisiva na Champions frente ao Basileia e o jogo em casa frente ao Arouca de Pedro Emanuel.

    A veia goleadora de Óliver tem-se manifestado ultimamente  Fonte: Facebook do FC Porto
    A veia goleadora de Óliver tem-se manifestado ultimamente
    Fonte: Facebook do FC Porto

    Ao olhar para o calendário portista, talvez fosse difícil encontrar um momento pior para ficar sem um dos alicerces da equipa. Num momento tão decisivo no campeonato nacional e com um apuramento para os quartos-de-final da Liga dos Campeões à mão de semear, acredito que ficar sem Óliver Torres é um verdadeiro soco no estômago para Julen Lopetegui. Ainda assim, e apesar da qualidade inegável que o médio espanhol dá, também é essencial chegar à conclusão de que o plantel desta época oferece soluções bastantes para que a equipa não sinta demasiado a falta do jogador emprestado pelos colchoneros. Apesar da tentação de alguns de afirmar que um atleta não faz uma equipa, é por demais evidente que há ideias de jogo que só existem porque há jogadores que em campo os interpretam de forma soberba. Seria possível ter existido o Barça de Pep Guardiola sem Xavi e Andrés Iniesta? Seria possível haver o Atlético de Madrid de Diego Simeone sem Gabi ou Koke?

    Na ideia de jogo de Lopetegui, Óliver Torres é um elemento essencial. A intensidade e dinâmica defensiva e ofensiva que o médio dá ao jogo portista é por demais evidente e por isso não é de estranhar que tão poucas vezes o técnico espanhol tenha prescindido da qualidade de Óliver. Contudo, com um plantel tão vasto e um estilo de jogo cada vez mais consolidado, a falta do médio espanhol não pode nem deve ser utilizada como desculpa para algum possível desaire que a equipa possa ter numa fase tão decisiva da época. Numa altura em que a equipa parece crescer a cada jogo que passa, não pode ser pela ausência de um jogador – por muito importante que ele seja – que esse crescimento sinta um forte revés. E verdade seja dita: se há momento em que não podemos falhar, é este. Seja no campeonato, seja na Liga dos Campeões. Com ou sem Óliver. Vai custar, mas é assim que terá de ser.

    Foto de Capa: Facebook  do FC Porto

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