A CRÓNICA: NA ESTRADA DE SINTRA, MAS SEM MISTÉRIO
A fantasia não tem regras nem barreiras. Nesse mundo podem haver reis, princesas e, neste caso, dragões. É com base nisso que, na pequenez da idade, sonhamos com coisas que, às tantas, deixamos de conceber que tenhamos condições de algum dia vir a experienciar.
Uma delas seria jogar contra o FC Porto para a Taça de Portugal. A varinha de condão que define o que andamos a fazer por este mundo rompeu os limites do imaginável e brindou os jogadores do SU Sintrense com essa benesse.
A equipa da série E do Campeonato de Portugal tem uma média de idades de 23 anos. Depois de eliminarem o SCD Glória do Ribatejo e o CA Macedo de Cavaleiros, os meninos bem que tiveram direito à hora do conto para se darem a conhecer.
Não se pode dizer que os jogadores do Sintrense tenham entrado a dormir. O remate de fora de área de Sérgio Oliveira, essa sim, uma arma bastante conhecida, é que foi o mote para fazê-los acordar do cenário quimérico que estavam a viver.
O 2-0 não tardou a aparecer no Complexo Desportivo do Real Sport Clube, casa emprestada dos visitados para este jogo, mas vestido maioritariamente de azul e branco. Sérgio Oliveira até foi generoso e ofereceu o remate a Francisco Conceição. Recompensado pela boa ação, a recarga sobrou para si.
Sem conseguir visar a baliza do Porto, António Alves, central do Sintrense, rematou no sentido da sua. Acredito que tenha ficado feliz por ter errado o alvo. A mesma sorte não teve quando Evanilson, assistido por Sérgio Oliveira, soprou com chamas a terceira bafejada do dragão.
Sem deixar arrefecer o lume, o avançado brasileiro do futebol aproveitou uma carambola monumental dentro da área para fazer o quarto. O sonho que virara pesadelo para o Sintrense e que deu a primeira derrota da época à equipa teve o crivo final de Toni Martínez que se encarregou de somar outro golo ao marcador final.
Martínez à meia volta 😎@FCPorto #sporttvportugal #TaçaDePortugal #FCPorto #Porto #FCP #SintrenseSAD #Sintrense #SUS #SUSFCP #ToniMartinez pic.twitter.com/vj1YK8BSSs
— SPORT TV (@SPORTTVPortugal) October 15, 2021
O resultado acabou por não ser um mistério de tão grande suspense como o romance que Eça de Queirós e Ramalho Ortigão escreveram sobre a estrada de Sintra. Mesmo assim, cheirou à festa que só a Taça de Portugal nos consegue dar.
A FIGURA
Sérgio Oliveira – voltou a fazer o gosto ao pé e por duas vezes. A isso somou ainda a assistência para Evanilson. Noite em grande para o médio que tem contado pouco para Sérgio Conceição, mas que obrigou os holofotes a apontar para a sua exibição.
O FORA DE JOGO
Tahar El Khalej – a quem não conhece, recomendo que vejam este jogador a disputar o Campeonato de Portugal. É um central imponente e impetuoso ao nível dos duelos. Com bola, é bastante competente na execução de passes verticais e de passes longos. Este jogo, em concreto, não lhe correu bem. A velocidade dos avançados do Porto trocou-lhe várias vezes os apoios, tornando volátil o setor defensivo. A construir, sentiu a pressão.
ANÁLISE TÁTICA – SU SINTRENSE
Seria de esperar que, contra uma equipa como o Porto, o Sintrense passasse mais tempo recolhido no seu reduto do que propriamente a balancear-se para o ataque. Fê-lo recorrendo a um 3-5-2, onde os laterais recuavam para formarem uma linha de cinco a defender.
Ainda assim, os homens dos corredores, Martim Fonseca, pela direita, e Filipe Cascão, pela esquerda, tinham ordens para saltar em cima dos adversários diretos. Nesse sentido, os centrais das pontas compensavam essa ação dos seus companheiros.
Sem uma clara referência ofensiva, os dois jogadores móveis destacados para alinhar na frente, Luís Mota e Hélio Varela, tiveram liberdade para caírem sobre os corredores. No processo defensivo, em que estiveram durante a maior parte do tempo, ajudavam na defesa do espaço exterior.
David Teles, a jogar diante dos outros dois centrocampistas, Flávio Cristóvão e Danilson Tavares, assumiu o papel de criativo. Foi também o camisola dez o homem mais adiantado na pressão.
11 INICIAL E PONTUAÇÕES
Diogo Garrido (4)
Martim Fonseca (4)
Gabriel Castro (4)
Tahar El Khalej (4)
António Alves (5)
Filipe Cascão (5)
Flávio Cristóvão (4)
Danilson Tavares (5)
David Teles (6)
Luís Mota (5)
Hélio Varela (5)
SUBS UTILIZADOS
Vasco Teixeira (4)
Gonçalo Pinto (4)
Edu Marinho (4)
Luís Canina (4)
Daniel Pinto (4)
ANÁLISE TÁTICA – FC PORTO
Sérgio Conceição operou sete alterações no onze portista. Marchesín regressou à baliza, Pepê foi pela primeira vez titular no Porto, Manafá foi a opção para a lateral direita, Fábio Cardoso para o centro da defesa e Bruno Costa, Sérgio Oliveira e Otávio revolucionaram o meio-campo.
Foi precisamente no miolo, onde o Porto adicionou um médio, passando do tradicional 4-4-2 para um 4-2-3-1, que os dragões imprimiram maior dinâmica. Otávio e Francisco Conceição permutaram bastante entre o centro e a direita. A alternância entre Sérgio Oliveira e Bruno Costa no momento de construção também se verificou várias vezes.
Em determinados momentos do ataque continuado, os laterais azuis ocuparam a zona interior. Deste modo, avolumou-se a presença azul no espaço entre linhas, deixando em apuros o duplo-pivot contrário.
11 INICIAL E PONTUAÇÕES
Agustín Marchesín (5)
Manafá (5)
Fábio Cardoso (5)
Iván Marcano (6)
Wendell (6)
Bruno Costa (6)
Sérgio Oliveira (7)
Otávio (6)
Francisco Conceição (6)
Pepê (5)
Evanilson (7)
SUBS UTILIZADOS
Vitinha (5)
Zaidu (4)
Fábio Vieira (5)
Toni Martínez (6)
Marko Grujic (5)
BnR NA CONFERÊNCIA DE IMPRENSA
SU SINTRENSE
Bola na Rede: No planeamento de um jogo deste calibre, pensa-se mais nos ajustes que é necessário fazer face ao adversário ou aposta-se na manutenção, e até divulgação, das ideias que o Sintrense já traz do seu campeonato?
Hugo Falcão: Não conseguimos fazer o que fazemos no nosso campeonato. O Porto foi muito competente. Quando se cometem erros, ou ajustas, ou arriscas-te a sofrer mais golos. Hoje fomos mais simples e diretos. Temos que perceber as diferenças que existem, mas vamos evoluir nesse sentido.
FC PORTO
O Bola na Rede foi impedido de colocar pergunta ao treinador do FC Porto.