Daniel Sousa no Braga: o regresso a uma fórmula de sucesso

    O Braga perdeu Artur Jorge para o Botafogo, ainda antes de terminar a temporada 2023/24. António Salvador, que lutou para que o antigo defesa central ficasse nos bracarenses, optou por uma solução “caseira” para as restantes jornadas. Rui Duarte foi o nome escolhido para finalizar a época com os minhotos. Falamos de um presente “envenenado”. O ex-técnico dos Sub-23 pode alcançar o terceiro posto, mas também pode terminar em quinto, numa luta a três que promete animar as últimas jornadas da Primeira Liga, com FC Porto e Vitória SC. Rui Duarte sabe que está a prazo, mas estes desafios podem definir o futuro da sua carreira (veja-se o caso de Tiago Fernandes, depois de ser interino no Sporting em 2018/19, conseguiu uma vaga no Chaves).

    O que Rui Duarte tem a certeza absoluta é que será sucedido por Daniel Sousa, atual treinador do Arouca (que bateu o Braga na última jornada por esclarecedores 0-3). O antigo braço direito de André Villas-Boas não tem a noção de como os guerreiros vão estar em 2024/25 (os orçamentos são diferentes, dependendo da qualificação para as provas europeias, e para qual), mas à partida o objetivo será aproximar o mais possível o Braga dos lugares de Champions.

    O que podemos analisar no imediato é a transferência em si. Trata-se de uma movimentação clássica de António Salvador, que já teve frutos no passado. Podia ter fechado com um nome mais sonante e com provas dadas nos “grandes”, como Bruno Lage ou Rui Vitória, mas optou pelo potencial e relativo conhecimento da Primeira Liga. Foi neste estilo (que foi “criado” e incentivado por Pinto da Costa no FC Porto) que a turma bracarense cresceu durante as décadas passadas. Vejamos alguns exemplos.

    O Braga atingiu o seu apogeu com Domingos Paciência ao leme, com uma final europeia e a luta pelo título até ao fim. Pese a sua má fase depois de ter abandonado o norte do país para rumar a um Sporting, completamente moribundo, o antigo avançado tinha experiência na Primeira Liga, com passagens por União de Leiria e Académica de Coimbra. Antes do antigo craque do FC Porto, esteve sentado no banco do Braga um técnico chamado de Jorge Jesus, que alcançou bons resultados com equipas de menor traquejo, como o Belenenses (turma com história, mas que já não tinha o fulgor dos minhotos nessa fase). Ainda antes disso, Carlos Carvalhal conseguiu convencer António Salvador, depois de passar no Leixões, Vitória FC e Belenenses. Leonardo Jardim, Sérgio Conceição e Paulo Fonseca (que já somava uma passagem pelo Dragão, mas deu dois passos atrás, para andar mais tarde um em frente) foram fruto da mesma receita, já no pós-Domingos. Destes três nomes, talvez o atual técnico do FC Porto tenha sido o que conseguira menos sucesso, mesmo com o quarto lugar conquistado. Por outro lado, nomes como Jorge Simão e Jorge Paixão bateram na trave.

    António Salvador passou a olhar para nomes da casa, onde inserimos Artur Jorge. Abel Ferreira foi o “pai” desta vertente, que teve um grande filho pródigo: Rúben Amorim. Custódio, ex-médio do clube, não atingiu o sucesso, mas regressou à base, de modo a ser trabalhado. Artur Jorge mostrou-se pronto para assumir a equipa A, mas soube a pouco, dado o plantel que teve à sua disposição.

    O presidente não sentiu confiança o suficiente para promover Custódio ou Rui Duarte em definitivo e resolveu regressar à tal forma antiga, que tantos sorrisos lhe provocara. Daniel Sousa passou em 2022/23 pelo Gil Vicente, onde conseguiu 10 vitórias em 25 desafios, melhorando os resultados de Ivo Vieira e explorando todo o potencial de elementos de qualidade, que acabaram por crescer nas suas mãos como Tomás Araújo, Adrián Marín, Kanya Fujimoto ou Giorgi Aburjania. Resultado: um mais que seguro décimo terceiro lugar e rumores que o associaram até mesmo ao Marselha. No Arouca, o barcelense está a repetir o trabalho realizado na sua terra natal. 11 triunfos em 19 partidas, com um bom futebol e retirando o emblema da luta pela despromoção, atingindo, ao momento, o sétimo posto, longe dos lugares europeus (algo alcançado por Armando Evangelista). Nas suas mãos, Rafa Mujica Cristo González e Jason Remeseiro têm dado espetáculo, sendo um trio ofensivo de luxo, quando as respetivas imagens em Espanha eram as de jogadores esgotados. Como teria sidos e o treinador tivesse arrancado a época ao leme da instituição?

    Na perspetiva de Daniel Sousa, este é o passo correto. Ainda é um nome “curto” para Benfica, Sporting ou FC Porto, mas tem potencial para chegar lá. O Braga é o plano indicado para ele para as próximas épocas, de modo a desenvolver as suas capacidades e de continuar a aproximar os bracarenses da luta constante por uma vaga na Champions, algo que se complicou com a redução dos lugares atribuídos a Portugal. Ao mesmo tempo, pode trabalhar atletas com potencial (só de jovens tem Roger Fernandes ou João Vasconcelos, por exemplo), permitindo que cheguem mais jackpots ao Minho, como ocorreu no caso de Francisco Trincão. Se vai chegar ao patamar de Rúben Amorim ou Abel Ferreira? É complicado afirmar isso com total certeza, mas tem potencial para seguir o caminho destes dois.

    Ainda assim, pagar um milho de euros ao Arouca por meia dúzia de jogos não fazia qualquer sentido. Por isso, compreende-se a atitude de António Salvador, que preferiu confiar em alguém da casa para terminar 2023/24. Daniel Sousa também poderia começar com o pé esquerdo a sua etapa no Minho, se viesse no imediato, já que o projeto não é dele e levar a uma relativa desconfiança por parte dos adeptos e da direção bracarense. Caso consiga terminar a época em beleza no Arouca, ainda chegará mais cotado e com a moral em alta. Daniel Sousa soma dois trabalhos de qualidade na Primeira Liga, nas suas duas passagens pelo campeonato. O seu cartão de visita é ótimo, apesar de nunca ter orientado turmas do nível do Braga, que lutam por muito mais do que a tranquilidade e a mediania.

    Antes do arranque de 2024/25 vamos assistir a uma “dança de cadeiras”. Rúben Amorim está de saída, Roger Schmidt é cada vez mais um homem só, Sérgio Conceição parece cansado e esgotado de um projeto do qual o presidente não consegue ser líder, neste momento. O Braga nesse aspeto já parte em vantagem. Veremos se a receita que António Salvador aplicara com sucesso no passado, consegue trazer regalos no presente e futuro.

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