FC Vizela 1-1 FC Famalicão: Vitamina C para prevenir a despromoção

    A CRÓNICA: JOÃO TEIXEIRA, KIKO BONDOSO E LUIZ JÚNIOR LEMBRARAM ESFORÇO COLETIVO DE DAVID H. THOREAU

    A sexta-feira corresponde a um excelente dia para se estar no sofá, a devorar um livro com o olhar de quem é eficiente a galar e a despir um corpo. Durante a tarde do dia de hoje, recostei-me no chaise-longue disposto na sala de estar e icei o Walden ou a Vida nos Bosques, de David H. Thoreau.

    Aberto o caderno no qual aponto as passagens que considero importantes para registo, folheei as primeiras páginas e à vista saltou “I know of no more encouraging fact than the unquestionable ability of man to elevate his life by a conscious endeavor.” Depois, lembrei-me que tinha de dar cobertura ao FC Vizela x FC Famalicão e que a cidade anfitriã estava na véspera de celebrar 24 anos desde que se tornou Concelho.

    Fixe-se o conceito de “esforço coletivo”. O FC Famalicão, dentro do equilíbrio, parecia ser a equipa mais consciente e mais decidida: Bruno Rodrigues quase que respondia à simplicidade humana da desmarcação solicitada por Penetra, mas errou o alvo e atirou por cima da barra (17’).

    Kiko Bondoso, observando a apatia dos seus colegas, decidiu invocar o génio da lâmpada e, após driblar dois jogadores, rasgou a defesa famalicense: Sarmiento, na cara do golo, não foi eficaz e Cassiano, no desespero, também não (23’).

    O esforço coletivo que Thoreau grafou em Walden foi recompensado pela primeira vez. Na recuperação do esférico, iniciou-se o contra-ataque: Pickel lançou num ápice João Teixeira, este último permite que a bola percorra mais uns metros e, de primeira, cruza para o remate certeiro de Bruno Rodrigues. 0-1!

    O camisola dez do FC Vizela foi o seu timoneiro ofensivo: pelo lado direito, após passe de Samu, penetra a grande área e dispõe para alívio famalicense; à entrada da área, Claudemir atirou, mas Luiz Júnior esteve no caminho da bola (37’).

    A noção de “esforço coletivo” parecia ter personificado a equipa vizelense pelo facto de, à medida que se caminhava para o intervalo, os anfitriões criavam mais perigo. Kiko Bondoso (quem mais?), após bola para o interior da área adversária, foi mais rápido do que Luiz Júnior e recuperou a posse: na resposta, dispôs em Kiki, mas o esférico bateu na muralha e sobrou novamente para Nuno Moreira; os adeptos gritaram golo, mas Riccieli intersetou a tentativa (40’).

    Intervalo. A respiração era ofegante à entrada para a habitual pausa. A emoção e o feeling na remontada pairavam nos adeptos do FC Vizela.

    Provavelmente, a expectativa oriunda da bancada estragou aquela que podia ser uma segunda parte (ainda) mais animada. O esforço coletivo transformou-se em cansaço, do lado vizelense, e em contenção e gestão da partida por parte do FC Famalicão.

    Até ao quase término do encontro, registam-se apenas os remates de fácil encaixe para os guarda-redes adversários.

    Heriberto, recém-entrado na partida, após uma recuperação in extremis de Pickel, teve a oportunidade para dilatar a vantagem, mas Pedro Silva negou-lhe essa possibilidade. Na sequência, canto para a equipa de Famalicão (88’): Pedro Brazão, amarelado, demorou a cobrar a bola parada e acabou expulso (89’).

    O FC Vizela recuperou a posse da bola. Samu, do miolo, fez um passe lateral para Kiko Bondoso: o extremo português, na linha delimitadora da grande área, cruzou e Batubinsika aliviou (mal); na recarga, Cassiano, o homem golo, atirou de primeira para o empate (90’). 1-1!

    Os anfitriões acordaram, mas foram tarde à demanda do triunfo. O final, esse, foi eletrizante. Estava dado o mote para aquilo que restava da jornada 27 do campeonato português.

     

    A FIGURA

    Fonte: Bola na Rede

    Luiz Júnior – o guarda-redes do FC Famalicão, a par de João Teixeira, foi aquilo que mais prazer ao adepto ofereceu. Entre os postes, foi seguro. Soube quando sair para intersetar o esférico e quando abandonar essa ação e resguardar a baliza. Evitou, em ambas as partes, o golo do empate vizelense. No golo sofrido, não teve hipóteses de defesa.

     

    O FORA DE JOGO

    Sarmiento – Também podia figurar Pedro Brazão neste parâmetro. A aposta no extremo equatoriano saiu furada e a prova disso foi a duração da sua estadia na quadra: 27 minutos. Sarmiento, que ainda não tinha comparecido ao jogo, foi dadivado com a primeira grande oportunidade para o FC Vizela e falhou na cara do golo. Faltou entrega, velocidade, à vontade na partida e preponderância no jogo ofensivo. Estreia para (não) recordar!

     

    ANÁLISE TÁTICA – FC VIZELA

    A equipa à guarda de Álvaro Pacheco apresentou, diante do FC Famalicão, um 4-2-3-1 facilmente desdobrável em 4-5-1 aquando dos momentos defensivos. Kiko Bondoso, Samu e Sarmiento eram a tripla escolhida para apoiar o avançado Cassiano e, simultaneamente, para constituir a primeira linha de pressão ao portador da bola.

    Na primeira metade, os pupilos de Álvaro Pacheco deixaram-se domar pelo estado de ansiedade: a primeira fase de construção falhou passes consecutivos e não conseguia verticalizar o jogo, Samu, pela marcação constante de João Teixeira, não reuniu capacidade para pegar na batuta do jogo e o flanco direito foi pouco ou nada utilizado. Banza, João Teixeira e Bruno Rodrigues foram os fatores de intranquilidade no momento da marcação e do posicionamento defensivo. Sarmiento de lugar a Nuno Moreira antes do intervalo e aposta no extremo equatoriana saiu furada.

    Na segunda metade, a equipa realizou as alterações na partida em função da situação de desvantagem. Schettine, apesar de não ter contribuído para a construção do marcador, retirou o epíteto de “referência a Cassiano” e libertou o companheiro de posição. Mendez não acrescentou nada de novo no meio-campo e serviu apenas como gestor da posse de bola. Faltou definição no último terço, objetividade e a concretização do último passe.

    11 INICIAL E PONTUAÇÕES

    Pedro Silva (6)

    Anderson (6)

    Claudemir (6)

    Rashid (5)

    Cassiano (7)

    Kiko (7)

    Samu (7)

    Kiki (6)

    Aidara (5)

    Sarmiento (2)

    Ofori (5)

    SUBS UTILIZADAS

    Nuno Moreira (6)

    Mendez (4)

    Schettine (-)

     

    ANÁLISE TÁTICA – FC FAMALICÃO

    Rui Pedro Silva, por sua vez, apostou no habitual 3-5-2 ofensivo: Adrián Marín e De La Fuente ocuparam os flancos e encarregaram-se das transições defensivas e ofensivas ocorridas em cada um deles, Pickel e Pêpê funcionavam como duplo pivôt nas fases de construção e João Teixeira foi presença na extensão do corredor direito aquando das situações atacantes, no apoio a Banza e Bruno Rodrigues.

    O FC Famalicão superiorizou-se ao adversário na postura com que entrou para a partida. Até ao golo, a equipa pressionou com Banza e João Teixeira a perfazer a primeira linha, foi agressiva e reagia rápido aos momentos de perda de bola. João Teixeira, apesar de não ter marcado, era o homem mais da formação famalicense pelo facto de passar por ele, na maioria das vezes, as jogadas de perigo e o perfume do futebol. Defensivamente, o trio de centrais esteve bem, exceto aquando das bolas paradas: duas das melhores oportunidades vizelenses nascem de erros de posicionamento.

    Nos segundos 45 minutos, a equipa do FC Famalicão entrou na partida com a pretensão de segurar a vantagem que possuía. O ímpeto e a disponibilidade ofensivos diminuíram e apareceram no terreno nomeadamente em situações de contra-ataque pelo facto de a equipa de Rui Silva entregar bola ao seu adversário. Em certa medida, Pedro Brazão prejudicou a conquista do triunfo por ter sido expulso de maneira imprudente: na jogada que se seguiu, o FC Famalicão ressentiu-se e acabou por sofrer ao cair do pano.

    11 INICIAL E PONTUAÇÕES

    Júnior (8)

    Marín (6)

    Pickel (7)

    Bruno Rodrigues (7)

    Riccieli (7)

    Banza (6)

    Batubinsika (6)

    De La Fuente (5)

    Teixeira (7)

    Penetra (7)

    Pêpê (6)

    SUBS UTILIZADAS

    Jhonder (6)

    Assunção (5)

    Brazão (0)

    Heriberto (4)

     

    BnR NA CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

    FC Vizela

    BnR: Boa noite, mister! A entrada do Schettine teve o propósito de retirar a designação de “referência atacante” ao Cassiano e, desse modo, libertá-lo para outras zonas do terreno?

    Álvaro Pacheco: o FC Vizela estava por cima. Ter dois jogadores a fixar a linha defensiva do FC Famalicão. Na paragem, eu só podia mexer uma vez na equipa e decidi assim. Com a entrada do Schettine, o objetivo era dar espaço por fora quer ao Nuno, quer ao Kiko, quer aos laterais, Ofori e Kiki. Se reparar, durante o jogo, os laterais ocuparam posições exteriores e interiores do terreno. O Schettine é um jogador que trabalha muito bem entrelinhas e é um jogador de área. Queríamos ter dois jogadores na área para aumentar o nosso caudal ofensivo e chegar ao golo do empate o mais rápido possível. Infelizmente, não conseguimos.

     

    FC Famalicão

    BnR: Boa noite, mister! Fez alguma modificação tática ou retificou algumas nuances nas respetivas linhas ao intervalo? Pergunto isto porque a postura do FC Famalicão, da primeira para a segunda parte, alterou-se significativamente.

    Rui Silva: Sabíamos que o FC Vizela ia entrar pressionante no jogo. Nós queríamos procurar a profundidade, na segunda parte, e estar tranquilos no jogo, acima de tudo. Queríamos ter bola, queríamos explorar os flancos. Não conseguimos.

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    Romão Rodrigues
    Romão Rodrigueshttp://www.bolanarede.pt
    Em primeira mão, a informação que considera útil: cruza pensamentos, cabeceia análises sobre futebol e tenta marcar opiniões sobre o universo que o rege. Depois, o que considera acessório: Romão Rodrigues, estudante universitário e apaixonado pelas Letras.                                                                                                                                                 O Romão escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.