Académica OAF 1-1 Leixões SC: Nem tanto ao mar, nem tanto à terra

    A CRÓNICA: SEM RISOS NEM CHOROS, TUDO FICA COMO ESTÁ

    A Segunda Liga gira em contramão e é caso para se dizer que se o campeonato são duas voltas, uma já foi. Tudo o que qualquer das equipas pudesse somar neste jogo era bom, ou melhor, tudo o que viesse à rede era peixe. A Académica OAF tinha uma oportunidade de aproveitar os deslizes de Estoril Praia SAD e CD Feirense. O Leixões, que viu ontem Rui Pedro e Jota Silva abandonarem o plantel, está em modo “soma e segue” desde que José Mota assumiu a equipa.

    As equipa não se defrontavam há precisamente um ano. Na altura, no Estádio do Mar, 1-1 foi o resultado registado. Recordo-me perfeitamente de onde estava nessa altura, tal como muitos se devem lembrar. Não que um jogo entre estas duas equipas tenha marcado particularmente a vida de alguém, mas porque foi o dia em que Kobe Bryant subiu aos céus, porque na terra já não tinha competição à altura.

    Para este jogo, a Briosa apresentou-se com menos 76kg, mais bitoque, menos bitoque. Refiro-me à massa total de Mohamed Bouldini, melhor marcador da Segunda Liga, que foi baixa de peso na equipa de Coimbra. Rafael Furtado entrou para o lugar de ponta de lança.

    A primeira parte foi de desinspiração para Académica e Leixões. A equipa da casa apresentou um ligeiro ascendente, mas foi insuficiente para causar preocupações de maior aos visitantes. Por seu turno, os jogadores de Matosinhos arriscaram muito pouco, apostando nos lances de contra-ataque que foram constantemente anulados.

    Quem ficou a ganhar na primeira fase da partida foi o departamento médico da Académica (parcial de 2-0). Fabiano e Rafael Furtado, ambos lesionados, viram-se obrigados a abandonar o terreno de jogo.

    A melhoria do Leixões na segunda metade foi evidente. A expectativa continuou a ser nota dominante, mas os erros da Académica foram mais, o que potenciou as saídas rápidas dos nortenhos. Foi num lance desse tipo em que Encada desmarcou Joca e Mika, ao sair da baliza, cometeu falta. Nenê encarregou-se da conversão e fez o primeiro da partida.

    A resposta da Académica tardou e só apareceu aos 80 minutos. Uma bola longa de Mika encontrou Dani na profundidade. O jovem avançado assistiu João Mário em zona frontal, que falhou o empate por pouco.

    Os últimos 20 minutos valeram pelo resto do jogo. Chaby acrescentou muita qualidade com bola ao ataque dos estudantes e o resultado permanecia incerto. Já em período de compensação, muito espaço concedido e a Académica apanhou o Leixões desprotegido. Traquina conduziu pela direita e cruzou para João Mário empatar.

    Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Foi algures num ponto intermédio que Académica e Leixões resolveram ficar. A Briosa continua no segundo lugar e não conseguiu aproximar-se do Estoril, nem afastar-se do Feirense, mas também estamos numa época de manter distâncias. A equipa de Matosinhos continua na décima posição.

     

    A FIGURA 

    A Leixões SC – Futebol, SAD chegou a acordo com Jefferson Encada. O guineense, de 22 anos, chega ao Mar proveniente do Vitória SC.

    Encada já se encontra integrado no plantel e vai envergar a camisola número 17 🔴⚪

    Bem-vindo, Encada 💪#ArmadaDoMar #BemvindoEncada pic.twitter.com/QSeHbRwA9N

    — Leixões SC – Futebol, SAD (@leixoessad) August 31, 2020

    Jefferson Encada – A entrada do “17” alvirrubro foi o ponto de viragem para a turma leixonense. Encada foi o elemento-chave para a materialização no terreno de jogo da abordagem mais vertiginosa da sua equipa e para o sucesso do futebol de transição colocado em campo pela turma nortenha a partir da sua entrada em jogo.

     

    O FORA DE JOGO

    Bruno Teles – o lateral-esquerdo tornado central não falhou descaradamente em qualquer momento, mas esteve mal em quase todas as ações. Apresentou em campo um futebol “atrapalhado”, não deu à equipa os níveis de construção desejáveis e apresentou-se a um nível, quanto mais, q.b. defensivamente.

     

    ANÁLISE TÁTICA – ACADÉMICA OAF

    A Briosa assumiu, por iniciativa própria e alheia, a posse de bola. Apesar das restrições pandémicas, a bola circulava livremente de pé em pé; no entanto, a lateral e a retaguarda eram as principais direções em que seguia. Sanca e Traquina, que davam total largura, não eram capazes de dar profundidade, nem de resolver criativamente.

    Profundidade: durante muito tempo foi esta a palavra de ordem no concernente à estratégia ofensiva academista. Contudo, o carácter inócuo que assumia cada tentativa de encontrar Rafael Furtado ou Fabinho nas costas da defensiva leixonense levou a uma alteração de planos.

    Os comandados de Rui Borges adotaram, então, uma postura e uma dimensão tática mais conservadoras. Os laterais colavam-se às linhas laterais alargando ao máximo o terreno “jogável”, relegando a tarefa de construção aos dois centrais, apoiados por Dias e Guima no corredor central.

    A boa organização defensiva do Leixões SC impedia a progressão academista na larga maioria das vezes, resultando numa partida “amarrada”. As poucas subidas no terreno da Académica davam-se pelos corredores laterais e culminavam com bolas cruzadas para o coração da área matosinhense.

     

    11 INICIAL E PONTUAÇÕES

    Mika (5)

    Fabiano (-)

    Rafael Vieira (6)

    Bruno Teles (5)

    Mike (5)

    Guima (7)

    Ricardo Dias (7)

    Fabinho (5)

    Traquina (6)

    Sanca (6)

    Rafael Furtado (5)

    SUBS UTILIZADOS

    João Mário (6)

    Fábio Viana (6)

    Mimito (5)

    Filipe Chaby (7)

    Dani (5)

     

    ANÁLISE TÁTICA – LEIXÕES SC

    A turma de Matosinhos apresentou-se especulativa, promovendo ativamente a posse de bola da Académica e remetendo os seus homens de campo à segurança de três linhas bem definidas – duas de quatro jogadores e uma de dois. As ordens dadas por José Mota durante a semana de trabalhos eram claras: bloco intermédio e pressão ligeira sobre o adversário em cujos pés se encontrasse o esférico.

    Kiki funcionava como elemento ambíguo na ala esquerda da turma leixonense, no momento defensivo, ora compondo a segunda linha de quatro camisolas alvirrubras, ora pontualmente transformando a linha de quatro defensores numa linha de cinco homens.

    Em ataque posicional, Kiki juntava-se a Nenê para formar uma dupla atacante cuja sede de bola raramente era suprida, muito pela incapacidade de construção dos visitantes. A missão ofensiva primordial do Leixões era procurar ligar a linha mais recuada e a linha mais avançada verticalmente pelo corredor central, partindo dos centrais a iniciativa de fazer chegar a bola aos apoios frontais proporcionados, regra geral, por Kiki e Nenê.

    Quando não goradas essas tentativas, era imediata a busca pela lateralização, para que os alas partissem para o um para um ou para o cruzamento. A falta de inspiração dos alas não permitiu materializar o desenho estratégico tantas vezes quantas gostaria José Mota.

    Na falta de melhor capacidade ofensiva posicional, a turma matosinhense começou a investir nas saídas rápidas, com ataques vertiginosos e fulminantes. Para a aplicação prática desta teoria, contribui, em grande medida, a boa leitura da equipa técnica do Leixões SC , que a meio do segundo tempo fez entrar Joca Samuel e Jefferson Encada.

    Encada, no meio-campo, e Samuel, na frente de ataque, permitiram aos alvirrubros expor em campo as (novas) ideias nascidas no banco leixonense. Nota ainda para a adoção de um sistema de 5-4-1 em momento defensivo pelos leixonenses nos momentos finais, quando se encontrava em vantagem por 1-0 e pressionada pela Académica-OAF.

     

    11 INICIAL E PONTUAÇÕS

    Stefanovic (6)

    Edu Machado (5)

    Pedro Pinto (6)

    Brendon (5)

    Tiago André (6)

    Avto (6)

    Bruno Monteiro (5)

    Rodrigo (5)

    Cristophe Nduwarugira (7)

    Nenê (6)

    Kiki (6)

    SUBS UTILIZADOS

    Joca Samuel (6)

    Jefferson Encada (7)

    Sapara (5)

    Lucas Lopes (-)

     

     

    BnR NA CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

    Académica OAF

    BnR:  A entrada de Chaby foi responsável pela melhoria da Académica?

    Rui Borges: Foi um pouco isso que aconteceu. O Chaby entrou bem. Precisávamos de jogadores mais refinados a definir em espaços curtos. Não entrou mais cedo dado que só tinha mais uma paragem para mexer. Ele entrou bem porque era isso que o jogo pedia. Deu-nos qualidade nas tabelas curtas e nos apoios frontais. O Chaby consegue arranjar os espaços onde os outros não arranjam.

    Leixões SC

    BnR: Que mensagem transmitiu ao intervalo que justifique a melhoria da equipa?

    Tiago Pinheiro:  A realidade do jogo é jogámos com uma Académica com aspirações à subida de divisão e, por isso, o empate é positivo. Na primeira parte, as equipas encaixaram-se taticamente, não que nós fossemos inferiores. Na segunda, explorámos os espaços que vimos que existiam e, numa jogada de transição, conseguimos chegar ao golo.

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    Francisco Grácio Martins
    Francisco Grácio Martinshttp://www.bolanarede.pt
    Em criança, recreava-se com a bola nos pés. Hoje, escreve sobre quem realmente faz magia com ela. Detém um incessante gosto por ouvir os protagonistas e uma grande curiosidade pelas histórias que contam. É licenciado em Jornalismo e Comunicação pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e frequenta o Mestrado em Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social.