As cinco razões para a existência de Leiria | CF Os Belenenses 0-5 UD Leiria

    Leiria não existe. A origem da piada é universal: em todos os países, é comum o meme e são várias as cidades que não existem. Bielefeld (Alemanha), Wyoming (EUA) e Leiria (Portugal), são algumas das cidades aparentemente inexistentes.

    A piada em Portugal começou com a ausência da cidade no mapa ibérico no Euro Truck Simulator (um simulador virtual de camiões, como o nome indica) e propagou-se rapidamente por todo o Twitter até ficar viral.

    Felizmente, Leiria continua a existir e, se por mais não fosse, a equipa treinada por Vasco Botelho da Costa mostra semanalmente a importância da cidade. Além da projeção do futebol local, das enchentes caseiras para assistir ao clube da cidade, da capacidade de colocar tantos adeptos a mais de 100 quilómetros de casa, a União de Leiria joga muito bem à bola.

    Com um futebol envolvente e associativo, a União de Leiria é hoje um dos representantes da cidade que espelha em campo a alegria de um povo ao ver o regresso do clube da terra aos grandes palcos. E ainda bem que Leiria existe e que a sua inexistência não passa de um meme.

    Num duelo de históricos no Estádio do Restelo, Belenenses e União de Leiria reeditaram a final da Liga 3 e tantos e tantos duelos no principal escalão do futebol português. Ambas as equipas lá almejam chegar e, se a futurologia não falhar, acabarão por conseguir tal feito, mais ano menos ano.

    Neste fim de semana, de Belém quem acabou por sorrir com os dentes todos foi a União de Leiria. A chuva que ameaçava aparecer não estragou o espetáculo e, com o Rio Tejo ao fundo, foram muito calmas as águas em que os leirienses navegaram. 5-0 foi o resultado final num jogo que mostrou que a União de Leiria não só existe como se recomenda. E, como homenagem aos cinco golos numa bela tarde de futebol, dá para destacar cinco pontos que fizeram a exibição da União de Leiria tão completa.

    Pela mobilidade no ataque, o início de jogo da União de Leiria foi imprevisível. Os três elementos do ataque leiriense (Leandro Antunes, Jair da Silva e Jordan Van der Gaag) alternaram posições, confundiram marcações antes de se fixarem: Leandro Antunes à esquerda, Jair da Silva ao centro e Van der Gaag a partir do corredor direito. Mais do que a mobilidade no ataque da União de Leiria, a superioridade a partir de permutas posicionais e da variabilidade de posições em campo (várias alturas em campo) estava no miolo.

    Leandro Silva no Leiria x Belenenses
    Fonte: Carlos Silva/Bola na Rede

    Afonso Valente, Leandro Silva e Lucho Vega variavam os posicionamentos e o desenho da saída (2+2, 3+1), recuando para a linha dos centrais, lateralizando posições e encontrando o melhor espaço para receber e ver o jogo de frente. Afonso Valente conquistou a titularidade pela primeira vez nesta temporada e fez uma exibição a exigir mais minutos. Garante uma saída limpa, encontra com facilidade o melhor espaço a ocupar, tem qualidade no passe curto e na variação de flanco e, embora camuflados pela capacidade com bola, boa ocupação do espaço e agressividade defensiva.

    BnR NA CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

    Na conferência de imprensa e em resposta ao Bola na Rede, Vasco Botelho da Costa abordou a liberdade dada aos médios e a maneira como, através do protagonismo dado aos atletas, a União de Leiria conseguiu desmontar a teia da pressão do Belenenses. «Temos bem trabalhado e preparado movimentarmo-nos muito com os atletas entrelinhas e conseguir perceber onde está a vantagem. Os nossos médios sabem que têm liberdade para poder tentar desmontar a primeira linha de pressão do adversário e esse é sempre o nosso objetivo. Conseguir perceber onde salta a pressão e quando colocávamos o médio por fora ativava o extremo. Aproveitamos sempre as características dos nossos atletas, é nosso apanágio aproveitar aquilo que o atleta tem como ponto forte», explicou o treinador da União de Leiria no final do jogo.

    A mobilidade no meio-campo permitiu à União de Leiria uma boa utilização dos três corredores. Quer pelos corredores, com a irreverência e a capacidade de desequilíbrio de Jordan Van der Gaag (qualidade técnica no drible, irreverência e criatividade em estado puro), quer com a agressividade no ataque ao espaço e à baliza de Leandro Antunes, quer construindo por dentro, com combinações entre os médios (diretas e indiretas), sabendo circular a bola pelos dois lados, mas procurando entra pelo corredor interior, a União de Leiria conseguiu criar perigo. Com Ouattara a subir e Van der Gaag a receber com possibilidade de encarar o adversário no 1X1, foram várias as situações em que a União de Leiria conseguiu atrair o adversário e circular a bola para chegar ao corredor vazio, menos povoado.

    Dentro das dinâmicas da União de Leiria, a capacidade de explorar a profundidade com Jair da Silva a procurar diagonais constantes nas costas da defesa. Quer procurando receber um passe vertical, quer de fora para dentro atacando os espaços entre o central e lateral, Jair da Silva conseguiu fixar a linha defensiva, receber bolas em profundidade e criar muito perigo à defensiva do Belenenses, variando entre construções mais curtas e apoiadas e saídas mais longas procurando o espaço nas costas da defesa.

    Ao Bola na Rede, Bruno Dias falou da importância de Jair na ideia de jogo da União de Leiria para a partida contra o Belenenses. «A principal questão sobre o jogo esteve na profundidade do Jair que afundava muito a linha. A estratégia do Leiria acabou por ser reforçada com o golo de bola parada, com o Jair solto na frente a poder ir aos três corredores. Estando atrás do prejuízo ou baixávamos o bloco para controlar a profundidade, ou subíamos o bloco e arriscávamos, sabendo que se fizéssemos um golo iríamos criar problemas», afirmou o técnico do Belenenses.

    Sem ser o jogador com mais brilho individualmente, as coberturas ofensivas e defensivas de Leandro Silva foram importantes para a solidez da União de Leiria. Com bola, Leandro Silva permitia a Ouattara soltar-se no corredor direito, tendo a garantia de que o 21 da União de Leiria estava a ocupar o espaço, oferecendo uma linha de passe próxima em construção e permitindo ao lateral projetar-se. Dada a projeção, as coberturas de Leandro Silva, compensando a subida do lateral, foram fundamentais na transição defensiva da União de Leiria.

    Por fim, o quinto aspeto de enaltecer dos leirienses: a agressividade na pressão. Defendendo em 4-4-2, com Lucho Vega a juntar-se a Jair da Silva na pressão aos centrais e com os médios a subirem para encaixar nos médios, a União de Leiria condicionou a construção do Belenenses, obrigou os azuis do Restelo a cometerem erros e recuperou bolas em zonas altas no terreno. Face à capacidade dos avançados do Belenenses em explorar a profundidade, tanto os laterais como um dos centrais (o da marcação), foram muito agressivos nos duelos, permitindo à União de Leiria ter um dia tranquilo defensivo. A vitória não é sinónimo de invencibilidade da União de Leiria nem torna o clube imediatamente candidato à subida. Ainda assim, é prova do crescimento da equipa, da boa proposta de jogo e da qualidad

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