A bússola leonina mora na retaguarda

    O início soluçante de época do Sporting CP tem deixado alguns apontamentos difíceis de ignorar, como a incapacidade para construir desde trás. Esta, aliada a um meio campo sempre mais preocupado em destruir do que em construir, tem resultado num futebol sem nexo, sem ligação ou fio de jogo, com despejos longos e escandalosamente exagerados na frente. Mas será que o Sporting CP não conta com jogadores capazes neste momento de jogo? Bem, contar até conta, o principal problema está aí: o melhor intérprete desta função (tendo em conta as opções do plantel) tem passado este início de época no “estaleiro”: falo de Jérémy Mathieu.

    A saída de William Carvalho deixou a equipa órfã devido à falta de um construtor de jogo em zonas mais recuadas; alguém capaz de começar a “tricotar” o ataque leonino desde trás. Tem sido evidente que, por muito que Battaglia ou Gudelj, os mais utilizados na zona intermédia, baixem no terreno e tentem assumir a saída de bola, nenhum deles reúne essas caraterísticas de “bússola” leonina. A equipa tem-se ressentido ofensivamente: é aqui que entra Mathieu. O internacional francês não pisa as mesmas zonas que pisava William Carvalho, como é evidente. No entanto, a sua forma de entender o jogo e de o executar converge no mesmo fim que a construção de jogo que o internacional português perspetivava: em cada uma das suas ações, aproximar a equipa do golo. Jérémy Mathieu, neste aspeto do jogo, é exímio. Ainda que jogue longe da baliza adversária, as suas decisões na primeira fase de construção são fundamentais para lá chegar em condições favoráveis.

    O defesa central francês oferece variantes ao jogo leonino que mais nenhum elemento do plantel consegue. Mathieu sente-se confortável com a bola nos pés, não tivesse ele passado pelo FC Barcelona. O jogador assume o risco na primeira fase de construção com o seu estilo descontraído e quase inexpressivo, que transmite uma confiança inabalável. O francês de 35 anos é assumidamente um garante de uma saída limpa a jogar. Nunca se esconde, joga de cabeça levantada e garante um alto índice de boas decisões e execuções em prol da equipa. Entre estas decisões, destacam-se os seus passes tensos e verticais, que visam “queimar” linhas de pressão e chamar os apoios frontais de jogadores como Dost, Montero ou Bruno Fernandes, para que estes liguem o jogo em zonas mais adiantadas e dentro da estrutura adversária; e os seus passes longos na diagonal, que permitem a variação rápida e precisa do centro de jogo para aproveitar a basculação da equipa adversária. A toda esta dinâmica que Mathieu consegue oferecer à equipa, juntam-se ainda o seu fantástico pé esquerdo, uma “arma” capaz de fazer sérios estragos através de livres diretos, e a sua assinalável capacidade no jogo aéreo.

    O regresso de Mathieu é uma excelente notícia para o universo leonino
    Fonte: Sporting CP

    O impacto que Jérémy Mathieu causa na forma de jogo do Sporting CP não se faz sentir só ofensivamente – não fosse ele um defesa central – e no plano defensivo: o internacional francês é também uma unidade extremamente fiável. O experiente conta com passagens por clubes como Olympique de Marseille, Valencia CF e FC Barcelona e, agora com 35 anos, Mathieu acumula uma experiência e uma maturidade que o tornam um jogador muito difícil de bater. É um central incrivelmente rápido para a sua compleição física (1,89m e 82 kgs) e idade, o que o torna eficaz nas coberturas e imperial no corte. Mathieu consegue, ainda, ser bastante forte nos duelos e imponente no jogo aéreo. O internacional francês é um bom exemplo daquilo que se pede a um defesa central nos dias de hoje: um “híbrido” que seja rigoroso a defender e, ao mesmo tempo, saiba como desequilibrar desde a zona recuada do terreno em prol da sua equipa.

    A ausência de Mathieu neste início de temporada agravou ainda mais as deficiências ofensivas e defensivas do Sporting CP. Agora, o jogador está de regresso e a segurança e tranquilidade que oferece à equipa é evidente. O fiel escudeiro do francês, Sebastián Coates, torna-se um jogador muito mais assertivo com Mathieu a seu lado: juntos formam uma dupla que pode garantir muitos pontos à equipa de Alvalade. A título de curiosidade: Mathieu leva somente quatro jogos esta época, contudo, em todos eles, o Sporting CP conquistou os três pontos e, diria mais, foram dos jogos mais bem conseguidos pelos leões nesta temporada. Coincidência? É claro que um só jogador não resolve tudo, embora neste caso ajude – e muito – a otimizar o jogo verde e branco.

    Mathieu chegou a Alvalade envolto em desconfiança. No entanto, as suas qualidades saltavam à vista cada vez que pisava os relvados portugueses e rapidamente se tornou uma pedra basilar no onze leonino. Para esta temporada, a importância do francês no jogar do Sporting CP parece clara. Mathieu é um garante de qualidades ímpares no plantel de José Peseiro, portanto muito do sucesso leonino estará intimamente relacionado com o número de jogos que o competente central conseguirá fazer sem ser afastado pelas constantes lesões.

    Não me parece exagerado dizer que Mathieu é um dos melhores centrais a envergar o leão rampante ao peito ao longo deste século. Pode parecer paradoxal no papel, mas, no que diz respeito ao jogo em si, um dos melhores reforços para subir a produção ofensiva deste Sporting CP é o regresso e a regularidade do defesa central, Jérémy Mathieu.

    Foto de Capa: Sporting CP

    Artigo revisto por Mariana Coelho

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    Xavier Costa
    Xavier Costahttp://www.bolanarede.pt
    Amante de desporto em geral mas desde cedo o futebol fez parte da sua vida. Estudante de jornalismo movido por uma curiosidade desmedida e com o sonho de chegar ao jornalismo desportivo. Apaixonado pelo futebol na sua essência e sempre interessado em pensar o jogo e em refletir sobre o fenómeno em si. Num jogo que tantas emoções desperta, nada melhor que palavras para as exprimir, assim o gosto pela escrita e a paixão pelo futebol fundem-se num só.                                                                                                                                                 O Xavier escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.