A entrevista que não promete títulos

    Após a leitura da primeira parte da entrevista de Frederico Varandas ao jornal Record, irrompeu a vontade de a querer ter realizado. O registo das palavras desdobrou-se ao longo das páginas do jornal, mas as sensações, os olhares e a asfixia (engolir em seco, à moda do povo), embora se verifiquem em curtos vídeos na plataforma online, não padeceram de captação total. Uma espécie de Alta Definição com a prática pleonástica da pergunta “o que dizem os seus olhos” sempre que determinada temática adentrasse no plano da explicação e uma variação da música de fundo consoante o estado de espírito do entrevistado resultariam e divertiriam muito mais o leitor. Não existiu visão e estratégia editorial…

    Como adepto da minúcia, analisei as questões e o discurso do presidente até ao ínfimo detalhe – isto porque, caso fosse eu a delineá-las, sairiam com a isenção característica de um acólito da imparcialidade – e pensei propor uma revisão da entrevista com a reversão devida.

    1. “Quem executa a política de contratações do Sporting: o presidente ou o diretor desportivo?” – Ora bem, expressões como “empregada de limpeza” e “porteiro da academia”, neste momento, conferiam à temática um sentido mais próximo da realidade. Aliás, a admissão da premissa por parte de Frederico Varandas era vista como algo positivo e, até, esperançoso junto dos adeptos leoninos. Aí, emergia a possibilidade de colocar um diretor desportivo encarregue dessa tarefa. Exceto Hugo Viana, claro está…
    2. “Quando ele (Cristiano Ronaldo) diz que tem muito orgulho de ser sportinguista, que sofre com o Sporting, isso vale títulos para os sócios. Vale títulos!” – A missiva tranquilizou-me, sou outra pessoa depois de uma declaração deste calibre. Esquecendo o palmarés, imaginem a quantidade de títulos que o clube arrecadou inospitamente, sem menção da comunicação social e sem o “levantar do caneco!” Só me resta uma dúvida: os títulos correspondem a frases proferidas no espaço público ou dentro das quatro paredes de Cristiano Ronaldo?

    3. “Vou corrigir. Eu não telefonei a Pinto da Costa. Por entre portas e travessas percebi que o FC Porto não estava interessado no Galeno. Questionei-o por SMS, mas nunca obtive resposta. Zero.” – Constroem-se, rapidamente, possíveis trocas de mensagens entre os dois líderes de dois dos três grandes portugueses. A minha é a seguinte:

    (Frederico Varandas) – Olá, Sr. Jorge Nuno. Num primeiro momento, gostava de tecer a minha modesta admiração por si: para mim, é um grande exemplo de profissionalismo e de labuta diária em prol do sucesso desportivo-financeiro do clube que representa e, ultimamente, uma das maiores figuras defronte do poder do centralismo e da corrupção que continua a cercar o futebol português. Como tal, propunha uma conversa sobre a transferência do Galeno, uma vez que o tópico se enquadra na base da argumentação desta mensagem.

    (Pinto da Costa) – (pensa para si) Hm, quando o Sporting Clube de Portugal arranjar o 100º presidente, eu respondo…

    A direção leonina continua debaixo de fogo
    Fonte: Carlos Silva/Bola na Rede

    4. “Fernando: olho para trás e digo que foi uma contratação falhada, porque jogou zero minutos. Foi um miúdo que chegou e teve três problemas físicos. Um deles veio “mascarado”. Ele veio com uma pubalgia e, não querendo ser técnico, isso não se consegue comprovar por exames complementares.” – Azar ou desconhecimento das condições físicas do jogador? Talvez uma mixórdia! Quem assume as culpas deste falhanço: a empregada de limpeza ou o porteiro? Delegar este tipo de tarefa é um risco e algum dos dois falhou redondamente. Qual o palpite do leitor? Urge rever a política de transferência e recrutar a cozinheira da academia?

    5. “Já trocou os colchões?” – Soa, num primeiro momento, a um aviso de uma mãe enraivecida a perguntar se já fizemos a cama ou estendemos a roupa… Mas já trocou, pelos vistos.

    6. “Hoje, com todo o ruído que possa haver, com toda a desilusão que tem havido no futebol, o Sporting está melhor do que há 16 meses? Não. Está muito melhor. Muito melhor” – Numa primeira instância, a censura da deixa “Está muito melhor. Muito melhor” ergue-se como atitude sensata e conhecedora da realidade do clube. Mas censura não é alternativa num país que diz livre de expressão. Então, a solução passava pela técnica do “engano editorial”: no momento em que o “Não.” era dito, o gravador era desligado silenciosamente. Assim, como quem não quer a coisa.

    Seis citações aborrecidas de (uma primeira parte da entrevista) ainda mais aborrecida, resumida em: Supertaça, Bruno Fernandes, Bas Dost, Departamento de Scouting, Hugo Viana, mercado de transferências, Keizer, emprestados, Pedro Mendes, formação, dívida aos Bancos e rescisão de antigos jogadores.

    A segunda parte confesso que não li, apesar de estar ciente de que a mesma pudesse despertar um interesse acrescido. Na vida, existe sempre alguém incumbido da atividade menos estimulante e eu, por iniciativa própria, coloquei-me na dianteira. O Hugo Viana devia agradecer a importância que lhe dou!

    Foto de Capa: Sporting CP

    Artigo revisto por Diogo Teixeira

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    Romão Rodrigues
    Romão Rodrigueshttp://www.bolanarede.pt
    Em primeira mão, a informação que considera útil: cruza pensamentos, cabeceia análises sobre futebol e tenta marcar opiniões sobre o universo que o rege. Depois, o que considera acessório: Romão Rodrigues, estudante universitário e apaixonado pelas Letras.                                                                                                                                                 O Romão escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.