A estrelinha (e o Jesus) que faziam falta no presépio

    portaPara uma criança nascida a meio do anos 80 e que viveu a sua infância na década seguinte, ser do Sporting era um feito complicado. Poucas eram as conquistas – só me lembro da Taça de Portugal frente ao Marítimo e a Supertaça em Paris – e as equipas do Sporting padeciam sempre do mesmo problema: um começo cheio de fulgor e a todo o gás que rapidamente passava a desalento, chegando ao período de Natal já com os leões arredados da luta pelo título nacional, e de quando em vez também da Taça e das competições europeias.

    É inesquecível para mim, e para a minha mãe que me relembra deste dia muitas vezes, a noite de 2 de Novembro de 1995.  O Sporting – após ter vencido 2-0 na primeira mão – foi a Viena defrontar o Rapid; mas numa eliminatória teoricamente acessível e perante um clube inferior, o estigma Sporting Roquettista fez-se sentir em todo o seu esplendor. Aos 90′, os austríacos empatam a eliminatória, já depois da jovem promessa Dani ter sido expulso após 20 minutos em campo e, no prolongamento, a reviravolta do Rapid consumou-se, deixando em casa uma criança de nove anos a chorar “baba e ranho” e a ser consolado pelos pais.

    É por isso que neste momento quase rejubilo pela actual situação do Sporting e pela “sorte” que temos vindo a ter. É verdade que temos ganho jogos frente a equipas pequenas, daquelas que defendem com 10 ou 11 jogadores, perto do final das partidas. Tondela, Arouca e Belenenses foram vitórias tangenciais, mas nunca imerecidas; Em Tondela, logo na primeira jornada, o golo da equipa “da casa” foi marcado da forma que todos sabemos; em Arouca e em Alvalade enfrentámos duas equipas que têm treinadores competentes e que conseguiram travar o meio campo do Sporting. Mas, a grande questão aqui é: E depois, qual é o problema?

    Quantas vezes vi o mesmo acontecer a clubes rivais? O Benfica, por exemplo, não empatou – e foi campeão – com o golo de Jardel em Alvalade aos 93′? O Porto, no célebre golo de Kélvin, não garantiu a vitória no campeonato aos 92′? O Chelsea, não venceu os encarnados na final da Liga Europa também no mesmo minuto? A sorte procura-se, a sorte constrói-se, a sorte “estima-se”… E este Sporting merece esta sorte e a tal estrelinha de campeão.

    Neste último jogo, Jesus deu tudo o que tinha à procura da vitória e saiu-se bem com isso. A exibição não convenceu, não banalizámos os adversários como nos jogos frente a Benfica e Lokomotiv, mas e então? Ganhar são três pontos, seja por 1-0, 3-0 ou 7-1.

    Jesus trouxe consigo a estrela que todos os vencedores possuem Fonte: Sporting CP
    Jesus trouxe consigo a estrela que todos os vencedores possuem
    Fonte: Sporting CP

    Confesso que finalmente percebo o charme de Jesus. Ao talento táctico que já lhe reconhecia, e filtrando a sua maneira sui generis de ser e agir, junto agora uma admiração pelo potencial que tem em fazer passar a mensagem aos jogadores e a criar nos mesmos uma cultura de vitória à prova de qualquer dúvida. A confiança que João Mário, Slimani ou Adrien têm em campo nesta época são a prova do sucesso desta mesma mensagem de JJ. Creio ser realmente uma pena que uma instituição como o Benfica queira fazer de Jorge Jesus um bode expiatório da sua má gerência e que queira apagar da sua história centenária um treinador que trouxe glórias indeléveis aos encarnados; mas também essa foi a grande sorte – juntamente com a astúcia do presidente Bruno de Carvalho, do Sporting e dos seus adeptos.

    Nos últimos três anos, chegámos a Dezembro ainda na discussão de todas as provas em que participámos; mas este ano, temos uma prenda especial no sapatinho: a liderança no campeonato. Mérito para a nova direcção e para todo o departamento de futebol, que tirou um Sporting preste a fechar portas do sétimo lugar da classificação e colocou-o no lugar de destaque que merece.

    Tudo isto veio dar mais brilho ao nosso Natal, e assim consigo imaginar um presépio a que se juntam, este ano, três novas peças: A Estrela “de Campeão”, o nosso “menino” Jesus e, para dar um toque multicultural, um burro bem volumoso, obeso e farto e que só pára de zurrar ao som do megafone de José.

    Foto de Capa: Sporting CP

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    Vítor Miguel Gonçalves
    Vítor Miguel Gonçalveshttp://www.bolanarede.pt
    Para Vítor, os domingos da sua infância eram passados no velhinho Alvalade, com jogos das camadas jovens de manhã, modalidades na nave e futebol sénior ao final da tarde.